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Data alerta para desafios na prevenção e cuidado quanto ao uso problemático de substâncias

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Publicado em:18/02/2022
Por: Danielle Monteiro

A dependência de drogas lícitas ou ilícitas é considerada uma doença e um problema de saúde pública em escala internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas 2021, aproximadamente 275 milhões de pessoas consumiram drogas no mundo inteiro no último ano, sendo que 36 milhões sofreram de transtornos associados ao uso de substâncias. Para alertar e conscientizar a população sobre os malefícios decorrentes do uso problemático de substâncias, foi criado o Dia Nacional de 'Combate' às Drogas e Alcoolismo, celebrado em 20 de fevereiro.

Com base em dados do terceiro Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira, parceria entre a Fiocruz e a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), que entrevistou cerca de 17 mil pessoas entre 12 e 65 anos em todo o Brasil, 3,2% da população usou substâncias ilícitas nos 12 meses anteriores ao estudo, o equivalente a 4,9 milhões de pessoas. A pesquisa também revelou que a maconha é a substância ilícita mais consumida no país: 7,7% dos brasileiros de 12 a 65 anos já usaram a substância ao menos uma vez na vida. No segundo lugar do ranking de drogas ilícitas mais consumidas no país, está a cocaína em pó, consumida por 3,1% dos participantes do estudo. 

Os resultados da pesquisa indicaram que os dados mais alarmantes, no entanto, não se referem às drogas ilícitas, mas sim às lícitas, com destaque para o álcool, substância consumida por mais da metade da população brasileira de 12 a 65 anos alguma vez na vida. Entre os entrevistados, 30,1%, o equivalente a 46 milhões, declararam ter consumido pelo menos uma dose nos 30 dias anteriores. Cerca de 2,3 milhões de pessoas apresentaram critérios para dependência de álcool nos 12 meses anteriores ao estudo.

Desafios na prevenção e cuidado no Brasil

De acordo com o Global Drug Policy Index de 2021, o Brasil tem a pior política de drogas do mundo. Segundo o pesquisador da ENSP e coordenador executivo do Programa Institucional de Apoio a Pesquisas e Políticas Públicas sobre Álcool, Crack e outras Drogas (PACD/Fiocruz), Francisco Netto, a política pública implantada no país privilegia somente alguns atores, particularmente comunidades terapêuticas, em detrimento de toda a Rede de Atenção Psicossocial, montada há décadas. “Esse não é o caminho mais adequado. É uma política não só pouco eficaz, mas que também acaba gerando mais danos para as pessoas que fazem uso problemático de substâncias, além de não ofertar o cuidado adequado, deixando de fora uma parcela importante da população”, acredita.

A lógica de guerra às drogas e a forma arbitrária com a qual são distinguidas drogas lícitas de ilícitas, segundo o pesquisador, geram uma violência associada, principalmente em territórios mais vulneráveis, uma vez que, nesses espaços, o Estado atua de forma mais violenta. Para Netto, tal modelo de política não reduz e nem acaba com o consumo de drogas ilícitas, além de evidenciar uma grande contradição, que gera efeitos negativos para as populações vulneráveis: “Enquanto drogas que são lícitas não geram nenhuma violência associada a elas, as ilícitas geram, e não há evidências científicas que mostrem, por exemplo, que algumas das substâncias ilícitas sejam mais prejudiciais à saúde do que as lícitas”, observa. 

Segundo o pesquisador, outro equívoco da política de ‘combate’ às drogas é o foco exclusivo na lógica da abstinência ou nada. “Obviamente, a abstinência é uma das soluções, uma solução válida que algumas pessoas conseguem trabalhar, e, muitas vezes, é uma situação desejável para quando o uso é muito problemático. Mas a questão é que não podemos negar acesso a instrumentos e equipamentos de saúde e estratégias de cuidado aos que não conseguem estar em abstinência. Não cabe somente dizer para as pessoas não usarem substâncias, pois algumas não vão conseguir”, alerta.

Como solução, Netto propõe a ampliação da Rede de Apoio Psicossocial (RAPS) já criada, que envolve um conjunto de equipamentos interligados ainda existentes, porém precarizados.

Pandemia e aumento de riscos de dependência 
O Relatório Mundial sobre Drogas 2021 revelou que a pandemia potencializou os riscos de dependência de drogas, além de mudar o perfil de substâncias mais consumidas. A Covid-19 ainda aumentou a busca por álcool, maconha e remédios anestesiantes, assim como reduziu a procura por drogas estimulantes ou psicodélicas, geralmente associadas a festas, como LSD e ecstasy. 

“Os dados preliminares, no Brasil, mostram que, durante a pandemia, houve pessoas que reduziram o uso, outras que mantiveram e outras que aumentaram. O que existe são algumas evidências de que houve uma potencialização de aumento por quem já fazia uso problemático de substâncias. Esse é um dado que preocupa, do ponto de vista da saúde pública, e chama de novo para uma ação de cuidado, em que a redução de danos é uma das estratégias necessárias”, reforça Netto.

O uso de substâncias torna-se um problema ainda maior em populações que vivem em um contexto de vulnerabilidade social, como as pessoas em situação de rua, isoladas pela pandemia, conforme alerta o pesquisador. Isso porque a própria situação de vulnerabilidade social e econômica em que elas vivem acarreta uma série de dificuldades. “As redes de apoio sociais dessas pessoas são mais frágeis. Além disso, dependendo da situação em que vivem, elas podem fazer uso da substância para se proteger, ficar mais resguardadas, mais alerta, conseguindo, às vezes, reduzir situações de sofrimento psíquico”, explica Netto. Daí a necessidade de ações de saúde direcionadas a essas populações, conforme exemplifica o pesquisador: “O Programa De Braços Abertos, em São Paulo, é uma referência para se pensar em como atuar com essa população mais vulnerável. Outro, também referência, é o Programa Atitude, de Pernambuco.”




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