'Cadernos de Saúde Pública' traz mudanças para 2022
Em 2021, o Cadernos de Saúde Pública passou a buscar uma comunicação para além dos pares. Vídeos e podcasts de divulgação dos artigos publicados, ampliação do uso das redes sociais e avaliação da comunicação científica integraram o cotidiano da revista. Em 2022, terá um novo site, mais dinâmico e interativo, com maior visibilidade para autores e para o público acadêmico. Também vai avançar na temática da Ciência Aberta, por exemplo, em relação aos preprints. Além disso, quer conhecer os autores, segundo gênero, raça/cor e idade. Outra novidade é que Claudia Medina Coeli, após nove anos como editora-chefe, se dedicará a novos projetos em Ciência de Dados Populacionais. Assume a nova editora-chefe de CSP, Luciana Correia Alves, que concedeu uma entrevista ao Informe ENSP. Ela passa a compor a equipe editorial da revista, juntamente com Marilia Sá Carvalho e Luciana Dias de Lima. Confira!
Luciana Correia Alves é fisioterapeuta, mestre em Demografia (Cedeplar/UFMG), doutora em Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) com pós-doutorado em Epidemiologia pela Faculdade de Saúde Pública da USP. Docente do Departamento de Demografia e pesquisadora do Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Unicamp. Suas principais linhas de pesquisa são: demografia e epidemiologia do envelhecimento, mortalidade, longevidade, saúde da população, e modelagem estatística e modelos de aprendizado de máquina.
Leia a entrevista com ela e, mais abaixo, o editorial de despedida de Claudia Medina Coeli.
Qual a expectativa para fazer parte do trio de editoras-chefes de CSP?
As expectativas são as melhores possíveis. Eu estou muito motivada. Foi com muita alegria que recebi esse convite. Sabemos da responsabilidade que é assumir uma função de editora de uma revista da importância dos Cadernos de Saúde Pública. Por outro lado, temos consciência de que o trabalho editorial é sempre muito complexo e árduo e exige muita dedicação. Mas eu nem hesitei. Aceitei o convite prontamente e estou muito disposta a enfrentar todos os desafios que vem pela frente na editoria.
Importante dizer também que eu fiz meu doutorado e fui pesquisadora visitante na ENSP/Fiocruz por quase 3 anos. Poder integrar a equipe de co-editora-chefe externa ao quadro da Fiocruz é uma honra e um orgulho. E poder trabalhar ao lado de Luciana Dias de Lima, Marilia Sá Carvalho e Claudia Medina Coeli, mesmo que por menos tempo, é algo muito especial. Não tenho dúvidas de que será um enorme aprendizado acadêmico.
Como professora do Departamento de Demografia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e formação em Demografia, Epidemiologia e Ciência de Dados Populacionais, como considera que será sua contribuição para o corpo editorial da revista?
O trabalho editorial em si é um trabalho que envolve muitas dimensões e processos. É algo dinâmico e que exige mudanças rápidas para atender às novas demandas. Adiciona-se a isso a interdisciplinaridade dos temas que circulam em um periódico de saúde pública. A Demografia e a Epidemiologia são dois campos de conhecimento que se sobrepõem, em certa medida, e possuem várias áreas de interesse em comum. A Demografia tem nos últimos anos ampliado os seus esforços para englobar a saúde como um determinante da mortalidade, como um fator de crescimento populacional e como um fator que influencia a fecundidade e a migração. Essa sobreposição é evidente, especialmente em estudos de determinantes de doenças ou condições de saúde, mortalidade, determinantes socioeconômicos, desigualdades sociais e em estudos sobre envelhecimento. Já a Ciência de Dados em estudos populacionais é uma área interdisciplinar que utiliza de algoritmos e métodos para obter melhores resultados de um banco de dados grande e complexo. Dentro dessa área, eu tenho me dedicado a aplicações de métodos de aprendizado de máquina em perguntas de pesquisa na área de saúde, com a finalidade de encontrar melhores resultados a partir desses novos modelos. Métodos de aprendizagem de máquina podem ser complementares aos estudos que utilizam métodos tradicionais, uma vez nos permite buscar padrões, encontrar associações, visualizar a complexidade dos fenômenos e predizer desfechos em saúde sem considerar hipóteses formuladas a priori. É um campo de conhecimento em crescimento exponencial. O aumento das pesquisas que lançam mão das ferramentas da área de ciências de dados já é uma realidade nas pesquisas em saúde e acompanhar esse movimento é imprescindível. Estou certa de que CSP pode ganhar um maior protagonismo com maior número de publicações de resultados de pesquisa desta natureza.
Em tempos de pandemia da Covid-19, e sendo a Fiocruz protagonista no avanço das vacinas, como entende a contribuição da publicação científica na busca de soluções para a saúde pública?
A publicação científica é uma das principais ferramentas para a divulgação do que é produzido na ciência. E ela caminha em muitas direções. Um dos seus principais objetivos é fazer com o que os conteúdos alcancem o maior número possível de pessoas, seja esse público a academia ou a população como um todo. Ela funciona como uma engrenagem. E isso ficou bastante evidente ao longo de todo esse período da pandemia. Como que a partir de cada descoberta revelada por meio das divulgações/publicações científicas, dia após dia, impulsionam cada vez mais uma maior produção de conhecimento a respeito do vírus, da doença e da própria vacina.
As publicações científicas são determinantes chave da evolução da ciência. É a partir de um conhecimento prévio, comunicado e transmitido que a ciência progride.
A pandemia mostrou também que a publicação científica e a forma de circular os conteúdos precisa ir além dos artigos científicos, muitas vezes restritos à comunidade científica. E essa forma de comunicar precisa englobar outros formatos como textos para campanha, informações para a imprensa, vídeos, podcast, conteúdos para redes sociais, blogs, dentre outros. A campanha de vacinação contra a Covid-19 é um bom exemplo de que as soluções em saúde pública dependem diretamente de um trabalho coletivo e articulado com vários atores, com diversificação de conteúdos informativos e que dialoguem mais com as pessoas e as especificidades e diferenças de um país como o tamanho do Brasil.
A divulgação científica é um componente complementar indispensável à produção de conhecimento, mesmo em períodos de negação da ciência. E somente uma comunicação eficiente, produzida em grandes volumes e de diferentes maneiras é capaz de atingir o maior número de pessoas possíveis e mudar paradigmas.
Qual a importância do movimento em direção à Ciência Aberta?
A ciência aberta é a forma mais democrática de se produzir ciência. Por meio dela é possível garantir uma produção de conhecimento mais dialogada, coletiva e transparente dentro e fora da comunidade científica. O acesso aberto ao conhecimento facilita o compartilhamento de informações e, consequentemente, o desenvolvimento do processo de comunicação científica, uma vez que o conteúdo pode ser disponibilizado de maneira rápida e com menor custo. Além disso, o conteúdo depositado pode ser citado, o que aumenta o alcance da produção e a interação entre as diversas partes participantes e interessadas. Existe um mercado editorial internacional caracterizado pela comercialização das produções científicas e completamente excludente. Os repositórios de publicações do tipo Preprint são um ótimo exemplo de ciência aberta e talvez uma alternativa plausível a esse contexto internacional comercial das publicações.
Ainda é preciso um amadurecimento no Brasil acerca do compartilhamento de dados em pesquisas em repositórios digitais, que já é estimulado pelas agências financiadoras de pesquisa dentro e fora do país. Mas é necessária uma reflexão mais profunda sobre o tema, com diversas Instituições e atores participantes. Eu acho que a discussão tende a ir nessa direção no curto prazo.
Outro aspecto primordial na política de ciência aberta é possibilitar em uma nova forma de fazer a ciência, na medida que cada pesquisador pode facilitar a reprodução e a reaplicação de sua pesquisa. Daí a importância de deixar abertos todos os processos das etapas de pesquisa, além de utilização de software e códigos abertos. Especialmente em áreas como a saúde pública, onde muitas vezes os problemas de saúde da população não são simples, trabalhos mais colaborativos e divulgação do que se é produzido em termos de pesquisa para o público em geral é a maneira mais positiva de alcançar resultados exitosos.
Cláudia Medina Coeli despediu-se em editorial do CSP de dezembro:
“O papel do editor-chefe é definir a política editorial e coordenar o processo editorial. Não é uma tarefa fácil, particularmente no contexto de rápidas mudanças do empreendimento editorial, tanto devido à evolução contínua da tecnologia digital, quanto ao movimento em direção à Ciência Aberta.
Fazer parte do trio de editoras-chefes de CSP tem sido uma das atividades mais estimulantes em minha carreira acadêmica. Dividir esse trabalho com Claudia Travassos, Marilia Sá Carvalho e Luciana Dias de Lima tornou-o ainda mais especial. Apesar de nossas diferentes áreas de formação e trajetórias profissionais, compartilhamos a visão do papel de um periódico científico de Saúde Pública na promoção de um empreendimento de pesquisa ético, cooperativo e relevante.
Após nove anos ocupando essa honrosa posição, percebi que chegou o momento de mudar e dedicar mais energia a novos projetos em Ciência de Dados Populacionais. Gostaria de expressar a minha profunda gratidão à direção da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz), Carlos Coimbra Jr., Claudia Travassos e Marilia Sá Carvalho por me convidarem a ocupar, pela primeira vez, o cargo de co-editora-chefe de CSP externo ao quadro da Fiocruz. Da mesma forma, gostaria de agradecer a Carolina Ribeiro, Leandro Carvalho, Marcia Pietrukowicz, Carla Alves, Eduardo Ribeiro Pina, Fábio Souza, Giane Caputo e Rafael Pacheco, membros da equipe executiva, cujo trabalho competente e dedicado é fundamental para a qualidade processo editorial de CSP. Por fim, na pessoa de Luciana Correia Alves, a quem com prazer passo o bastão, agradeço a todos os Editores Associados, revisores, autores e leitores de CSP.
Um dos aspectos que mais me agrada como parte da equipe de CSP é a nossa conexão social. Fazendo parte da comunidade CSP, seguirei saudando e comemorando as novas ideias que Marilia Sá Carvalho, Luciana Dias de Lima e Luciana Alves certamente irão implementar, garantindo que CSP continue em sua trajetória como um dos periódicos mais importantes da nossa área.”
Cláudia é médica, doutora em Saúde Coletiva (IMS/UERJ) com pós-doutorado em Saúde Pública (Université de Montréal, Canadá). Desenvolve pesquisas nas áreas: sistemas de informação em saúde, linkage probabilístico de bases de dados, big data mining em saúde, pensamento sistêmico, aplicação de métodos epidemiológicos em Saúde Pública e no estudo de transtornos metabólicos e endocrinológicos.
Para ler o editorial na íntegra, clique aqui.
Cadernos de Saúde Pública