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Ciência e inovação com desenvolvimento social, equidade e diálogo, nos desafios da Fiocruz do futuro

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Publicado em:29/11/2021

“Pensar ciência e inovação e a Fiocruz do futuro implica pensar um projeto de ciência não só para nossa instituição, mas para o país”. Com essas palavras, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, abriu o seminário Desafios da Ciência e da Inovação e a Fiocruz do Futuro, transmitido pelo Youtube, em 10/11/2021. Esse foi o quarto evento preparatório do IX Congresso Interno da Fiocruz, instância máxima de representação da fundação, na qual se definem as diretrizes institucionais para os próximos quatro anos, com plenária marcada para dezembro. De acordo com Nísia, “não é possível pensar um projeto de desenvolvimento sustentável, tema do IX Congresso Interno, sem pensar nas questões da equidade, da democracia e tendo a ciência e a inovação como pilares fundamentais”.


Último de uma série coordenada pelo Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz Antonio Ivo de Carvalho, voltada ao debate de temas contemporâneos e estratégicos para a ciência e a tecnologia, o seminário teve como conferencistas a vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, professora da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), e o presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), André Botelho, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ).

Como debatedores, o evento contou com o pesquisador titular do Instituto Gonçalo Moniz (IGM/Fiocruz-Bahia), Manoel Barral, e a pesquisadora titular do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Patricia Bozza. A mediação foi de Carlos Gadelha, coordenador do CEE-Fiocruz.  O primeiro seminário, sobre o mundo do trabalho, foi realizado no dia 15/9, o segundo, sobre os desafios da saúde, no dia 6/10, e o terceiro, sobre mudança climática, em 10/11.

Na mesa de abertura, Nísia destacou o protagonismo da ciência durante a mais grave crise sanitária mundial. “Tem-se dito com muita frequência que a ciência nunca esteve tanto em evidência, mas é nosso dever fazer um mergulho, de maneira a orientar o trabalho da Fiocruz frente aos grandes desafios da nossa sociedade”. A esse respeito, ela ressaltou a importância de se pensar a inovação de forma integral, interdisciplinar, assim como em novas formas de se fazer ciência, “de maneira que tanto a sua formulação como o seu impacto sejam convergentes para questões éticas, de valores sociais e de novas bases para o desenvolvimento do país”.   

Participaram também da mesa de abertura Mario Moreira, coordenador da comissão organizadora do Congresso Interno, e Juliano Lima, chefe de Gabinete da Presidência, que também integra a comissão. Ao explicar que o congresso interno da Fiocruz é “um espaço democrático, de construção coletiva, para se pensar o futuro da Fiocruz”, Moreira ressaltou a oportunidade de, nesse processo, se pensar “o sistema de ciência e tecnologia do país e até a própria democracia hoje em curso no Brasil”.

Ele destacou, ainda, a importância dos temas transversais dos quatro seminários e a grande mobilização alcançada nos debates, explicando que o documento-base, aprovado pelo Conselho Diretor da Fiocruz, já havia recebido mais de 900 contribuições dos trabalhadores da instituição. “É próprio da dinâmica do nosso congresso interno essa efervescência democrática e a ansiedade quanto à possiblidade de participar e construir o futuro da Fiocruz, que nos dá um sentido, um sentimento muito grande de unidade institucional e que está nos ajudando a atravessar momentos tão difíceis”.

Em relação às contribuições recebidas, com vistas ao debate na plenária de dezembro, da qual sairá o documento final que orientará a Fiocruz nos próximos quatro anos, Lima disse que elas “têm sido positivas, no sentido de garantir realmente uma direcionalidade à instituição, mirando o futuro”.

“Esse é o espaço da ousadia para a gente pensar o contexto nacional, o contexto global e a Fiocruz do futuro”, reforçou Gadelha, sublinhando que depois dos outros seminários sobre o mundo do trabalho, a questão da saúde e a mudança climática, o ciclo de debates precisava “logicamente fechar com o tema da ciência e inovação”. Por fim, ele destacou o papel dos debatedores de trazerem esses temas para as questões concretas da Fiocruz do futuro.

 Depois de saudar a presidente Nísia, eleita, no dia 1° de novembro, membro da Academia Mundial de Ciências (TWAS, em inglês), Helena Nader iniciou sua conferência compartilhando uma preocupação com a ideia de saúde única [One Health]: “O modelo de saúde planetária já tem alguns anos, mas a prática ainda não aconteceu de fato”. Ao mostrar numa linha do tempo, de 1918 a 2019, doenças que assolaram o mundo como influenza, gripe asiática, gripe de Hong Kong, Aids, Sars, em 2003, Mers, em 2012, e, em 2019, a Covid, ela avaliou que, embora tenha havido bastante aprendizado em áreas de ciências sobre essas doenças, houve “pouco aprendizado realmente de políticas e de ações”.

A forte relação da saúde humana com a saúde ambiental foi ressaltada por Nader e o aparecimento de novas doenças infeciosas e de neoplasias, em função do desequilíbrio ambiental, devia, em sua opinião, ser motivo de preocupação mundial. No rol das mudanças globais que hoje ameaçam o planeta, ela citou, por exemplo, as mudanças climáticas, a perda da biodiversidade, a poluição de rios, oceanos, terra e ar, as mudanças de hábitos alimentares e a escassez da água, que estão afetando a saúde e sendo a causa de conflitos civis e movimentos migratórios. “As pessoas imigram não porque querem, mas porque estão precisando. O mundo globalizado vai ter cada vez mais imigração, e isso vem de conflitos, guerras e da falta de condições mínimas de cidadania”, explicou.

Para ela, mobilizações como a COP-26, para onde os holofotes do mundo estiveram voltados no mês de novembro, não bastam. “As pessoas vão à COP, alguns políticos fazem discursos, que não se concretizam, os cientistas levam dados... saem de lá e o mundo continua no mesmo modelo”. Nader é a favor de uma abordagem holística da saúde para enfrentar seus desafios.


Fonte: Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE-Fiocruz)
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