Busca do site
menu

A Estratégia Saúde da Família no Nordeste Brasileiro: tema da revista 'Ciência & Saúde Coletiva'

ícone facebook
Publicado em:14/06/2021

O número temático da Ciência & Saúde Coletiva, com artigos da ENSP, versa sobre a Estratégia Saúde da Família no Nordeste Brasileiro, e procura contextualizar e refletir, criticamente, sobre o desenvolvimento desta no ambiente de mudanças e desafios do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Atenção Primária à Saúde (APS) nos seus 29 anos de implementação. A ESF é hoje uma das principais portas de entrada de pessoas com Covid-19 no SUS, sendo que 89,5% dos profissionais participantes de uma pesquisa nacional reportaram adaptação dos fluxos de atendimento nas unidades para atender a casos.

O editorial, assinado por Antônio Carlile Holanda Lavor, da Fiocruz Ceará, explica que foi concebido pelo grupo de pesquisadores em Saúde da Família da unidade da Fiocruz sediada no Ceará. Fortalecer e qualificar a Estratégia Saúde da Família (ESF) consiste em um dos seus objetivos institucionais, e este processo teve início há 12 anos, quando a instituição liderou o processo de criação da Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família (Renasf), composta por 26 entidades partícipes, entre elas instituições de ensino superior e órgãos representativos do SUS.

A Renasf oferta uma Pós-Graduação em Saúde da Família, com 400 mestres formados, e, com edital publicado para o Doutorado Profissional em Saúde da Família, que oportuniza a formação de pesquisadores neste domínio de conhecimentos e práticas. O Mestrado Profissional em Saúde da Família à distância (PROFSAÚDE), também está implementado na Fiocruz Ceará. Ambos os programas têm se desenvolvido em diversos estados do nordeste brasileiro, proporcionando uma capilaridade na formação stricto sensu na ESF.

Esta integração com profissionais da ESF, que são mestrandos, docentes, pesquisadores e egressos desses programas, tem produzido perguntas, pesquisas e tecnologias para orientar a prática na APS. Compartilhar o conhecimento produzido por esta comunidade de práticas e aprendizagem em saúde coletiva foi um dos motivadores deste número temático.

“Há 12 meses atrás, quando decidimos organizá-lo, não tínhamos dimensão da grave crise sanitária que o Brasil enfrentaria na Pandemia de Covid-19. Nesta oportunidade queremos nos solidarizar com as famílias e com os profissionais de saúde que atravessam o luto pelas 260.976 vidas perdidas no país até 04 de março de 2021, sendo 57.738 (22%) destas no Nordeste.”

Nesta edição, estão reunidos 20 artigos elaborados por cerca de 98 autores dos 09 estados nordestinos (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia) sobre temas atinentes à ESF e APS. Tratam principalmente sobre: (1) Políticas, serviços, práticas e inovações tecnológicas na Estratégia Saúde da Família; (2) Campos de práticas profissionais, acesso ao cuidado e educação na Estratégia Saúde da Família.São apoiadores e financiadores deste número temático a Fiocruz Ceará, a Rede de Políticas Públicas e Modelos de Atenção e Gestão de Saúde (PMA) da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB) da Fiocruz, e a Renasf.

Dentre os artigos, estão alguns com participação de pesquisadores da ENSP:

O artigo Complexo industrial e portuário do Pecém: um inquérito epidemiológico, de Sharmênia de Araújo Soares Nuto, Edenilo Baltazar Barreira Filho, Beatriz Fátima Alves de Oliveira, Roberto Wagner Júnior Freire de Freitas, Lucas de Oliveira do Couto, Ludmilla da Silva Viana Jacobson, Sandra de Souza Hacon, e André Reynaldo Santos Périssé, busca analisar o conhecimento dos moradores sobre o território, Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), qualidade de vida das comunidades que vivem no entorno dos empreendimentos, além da prevalência de hipertensão e excesso de peso. Trata-se de um inquérito epidemiológico, de base domiciliar, envolvendo quatro áreas da Estratégia de Saúde da Família (ESF) do Município de São Gonçalo do Amarante e uma de Caucaia, Ceará, Brasil. O estudo foi realizado entre 10/2017 e 03/2018, em que foram realizadas aferições antropométricas e pressão arterial e coletados dados sociodemográficos e o conhecimento sobre comunidade, CIPP e qualidade de vida. Dos 503 adultos entrevistados, 69,8% eram do sexo feminino e a média de idade foi 44 anos. Parada foi a área que relatou o maior percentual de problemas relacionados às partículas aéreas (51,1%), pior conceito em relação ao CIPP (40,1% ruim), maior percentual de piora da qualidade de vida (29,1%) e maior desejo de mudar (31,5%). Pecém apresentou maior percen-tual de problemas na comunidade relacionados à violência, consumo de drogas ilícitas e prostituição. Conclui-se que se apresenta indícios de impacto na saúde e qualidade de vida das populações locais sem maiores benefícios diretos no trabalho/renda.

Plano nacional de vacinação contra a Covid-19: uso de inteligência artificial espacial para superação de desafios, artigo de Thiago Augusto Hernandes Rocha, Ghabriela Moura Boitrago, Rayanne Barbosa Mônica, Dante Grapiuna de Almeida, Núbia Cristina da Silva, Débora Marcolino Silva, Sandro Haruyuki Terabe,  Catherine Staton, Luiz Augusto Facchini, e João Ricardo Nickenig Vissoci, tem como objetivo analisar o uso da inteligência artificial espacial no contexto da imunização contra Covid-19 para a seleção adequada dos recursos necessários. Trata-se de estudo ecológico de caráter transversal baseado em uma abordagem espaço-temporal utilizando dados secundários, em Unidades Básicas de Saúde do Brasil. Foram adotados quatro passos analíticos para atribuir um volume de população por unidade básica, aplicando algoritmos de inteligência artificial a imagens de satélite. Em paralelo, as condições de acesso à internet móvel e o mapeamento de tendências espaço-temporais de casos graves de Covid-19 foram utilizados para caracterizar cada município do país. Cerca de 18% da população idosa brasileira está a mais de 4 quilômetros de distância de uma sala de vacina. No total, 4.790 municípios apresentaram tendência de agudização de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave. As regiões Norte e Nordeste apresentaram o maior número de Unidades Básicas de Saúde com mais de 5 quilômetros de distância de antenas de celular. O Plano nacional de vacinação requer o uso de estratégias inovadoras para contornar os desafios do país. O uso de metodologias baseadas em inteligência artificial espacial pode contribuir para a melhoria do planejamento das ações de resposta à Covid-19.

Ferimentos não fatais por arma de fogo entre policiais militares do Rio de Janeiro: a saúde como campo de emergência contra a naturalização da violência, de Adriane Batista Pires Maia, Simone Gonçalves Assis, Fernanda Mendes Lages Ribeiro, e  Liana Wernersbach, aborda a ocorrência de agravos à saúde decorrentes de ferimentos por arma de fogo (FAF) que atingiram policiais militares da ativa na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RJ). Pesquisa documental, por meio de análise de prontuários médicos de policiais militares atendidos no Hospital Central da Polícia Militar (HCPM) em decorrência de FAF, no período de junho de 2015 a dezembro de 2017 segundo variáveis relativas ao perfil profissional, às características do evento e da lesão, à distribuição espacial dos FAF e às unidades de saúde envolvidas no atendimento. No período investigado, 475 policiais militares sofreram ferimentos por armas de fogo: 98,3% do sexo masculino, 77,3% encontravam-se em servi-ço, 97,9% eram praças. Quanto à localização anatômica dos ferimentos, as regiões mais acometidas foram: membros inferiores (41,1%) e superiores (33,1%), região da cabeça-pescoço-face (23,5%) e tórax abdome (17,3%). As áreas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro onde foram encontradas as maiores ocorrências de morbidade por arma de fogo foram as áreas de planejamento 3 e 1 e a Baixada Fluminense. Constatou-se correlação entre as taxas de morbidade policial por armas de fogo dos municípios da região metropolitana e densidade demográfica (p = 0,024).

No artigo Fatores associados à insatisfação com a Imagem Corporal em adultos: análise seccional do ELSA-Brasil, Liliane da Silva Albuquerque, Rosane Harter Griep, Estela M. L. Aquino, Letícia de Oliveira Cardoso, Dóra Chor, e Maria de Jesus Mendes da Fonseca, avaliam a associação entre imagem corporal e variáveis sociode-mográficas e comportamentos de saúde, por sexo masculino e feminino. Analisou-se dados de 6.289 mulheres e 5.188 homens, entre 35 e 59 anos, participantes da linha de base do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil) com a utilização da regressão multinomial. Entre as mulheres, a chance de insatisfação por se sentirem magras foi mais alta entre as com menor escolaridade e as que consumiam frutas semanalmente. A prática de atividade física moderada reduziu em 50% a chance deste tipo de insatisfação. Graus mais elevados de insatisfação por estar acima do peso foram observados entre as casadas, as que praticam atividade física leve e as ex-fumantes. Homens com nível médio de escolaridade e consumo excessivo de álcool tiveram em torno de 50% de chances mais elevadas de insatisfação por baixo peso, posto que a prática de atividade física leve ou moderada elevou essa chance em 75% e 94%, respectivamente. Entre os homens, a prática de atividade física leve e moderada também aumenta a chance de insatisfação por estarem acima do peso. Esses achados contribuem para reforçar que há-bitos e comportamentos não saudáveis podem in-fluenciar a insatisfação da imagem corporal com padrões diferenciados, segundo sexo.

Os demais artigos da revista podem ser acessados aqui.




Fonte: Revista Ciência & Saúde Coletiva
Seções Relacionadas:
Coronavírus Divulgação Científica

Nenhum comentário para: A Estratégia Saúde da Família no Nordeste Brasileiro: tema da revista 'Ciência & Saúde Coletiva'