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Dermatoses ocupacionais são problema de saúde pública no Brasil, aponta pesquisadora

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Publicado em:04/09/2018
O último Encontros do Cesteh - uma série de debates organizados pelo Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP/Fiocruz) -, discutiu a Epidemiologia das dermatites de contato relacionadas ao trabalho em um serviço especializado. Na ocasião, a dermatologista do ambulatório do Cesteh/ENSP, Maria das Graças Mota Melo, apresentou a pesquisa fruto de sua tese de doutorado, defendida no Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia em Saude Pública da ENSP. Orientada pelo pesquisador do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos da Escola, Iuri Costa Leite, a pesquisa analisou aspectos epidemiológicos das dermatites de contato relacionadas ao trabalho e do eczema das mãos nos pacientes atendidos no Cesteh/ENSP, no período de 2000 a 2014.

No estudo, foram verificados os fatores sociodemográficos e clínico associados às ocupações mais frequentemente atendidas, assim como os sensibilizantes mais comumente detectados nesses profissionais. Maria das Graças comenta que é considerada Dermatose Relacionada ao Trabalho (DRT) toda alteração das mucosas, pele e seus anexos que seja direta ou indiretamente causada, condicionada, mantida ou agravada por agentes presentes na atividade ocupacional ou no ambiente de trabalho. “A prevalência das DRTs é de 20 a 70% das doenças ocupacionais. E, ainda, as dermatites de contato representam 90% das dermatoses relacionadas ao trabalho”, descreveu a dermatologista.

Dermatoses ocupacionais são problema de saúde pública no Brasil, aponta pesquisadora

Além de estudar aspectos epidemiológicos das dermatites, a pesquisa buscou também determinar os fatores sociodemográficos e clínico associados às dermatites de contato relacionadas ao trabalho e ao eczema das mãos ocupacional nessa população; bem como identificar as ocupações mais frequentemente associadas à dermatite de contato e ao eczema das mãos. O resultado do estudo foi apresentado no formato de dois artigos. O primeiro deles analisou o perfil sociodemográfico e clínico dos pacientes com dermatite de contato ocupacional atendidos no ambulatório do Cesteh/ENSP de 2000 a 2014. Já o segundo artigo analisou os aspectos clínicos e a relação com o trabalho do eczema das mãos, no mesmo período.

Foram analisados 560 pacientes com teste de contato conclusivo, sendo 60,2% mulheres e 39,8% homens. Em relação ao nexo ocupacional, a pesquisa apontou a seguinte questão: dos 560 pacientes avaliados, 289 apresentaram Dermatite de Contato Ocupacional (DCO) e 271 não ocupacionais. “A pesquisa apontou ainda ter sido a frequência de casos ocupacionais próxima de não ocupacionais. Entre os pacientes com Doença Ocupacional (DO), a prevalência do sexo masculino foi maior, além de predomínio de escolaridade mais baixa, por serem atividades com menor exigência de qualificação”, explicou.

A prevalência de cor/raça foi de pretos e pardos devido ao perfil das profissões. O estudo identificou os grupos profissionais e os principais alérgenos com alto risco para dermatite de contato ocupacional nessa população, além de contribuir com informações para implementação de ações e políticas na Gestão da Saúde do Trabalhador.

Aspectos clínicos e a relação com o trabalho do eczema das mãos

De acordo com a pesquisadora, o Eczema das Mãos (EM) é uma das mais comuns desordens dermatológicas, representando 80% das Dermatites de Contato Ocupacional. Ele é causado por fatores exógenos e endógenos e tem prevalência entre adultos na população geral. “Estima-se que entre 2 e 10% da população desenvolverá Eczema das Mãos”, ressaltou ela. O artigo descreve seis tipos clínicos de EM, sendo eles: eczema das mãos crônico fissurado; eczema das mãos vesiculoso recorrente; eczema palmar hiperceratótico; pulpite; eczema das mãos interdigital; e eczema das mãos numular.

No estudo, foram analisados 560 pacientes com teste de contato conclusivo. Desses, 276 (49,3) apresentaram eczema das mãos, sendo 200 ocupacionais e 76 não ocupacionais. Dos 200 casos ocupacionais, a prevalência foi maior em mulheres (110) do que em homens (90). Segundo a pesquisadora, 72,5% dos pacientes apresentam Eczema das Mãos Ocupacional (EMO), não havendo diferença significativa entre os sexos quanto ao nexo ocupacional do EM. A pesquisadora falou também sobre a questão do EMO e o uso de luvas, citando as profissões de maior prevalência entre os casos de EMO. São eles: relacionadas à limpeza, 69 (34,5%); construção civil, 34 (17%); cozinheiro, 10 (5%); atividades domésticas, 10 (5%).

Os resultados do estudo apontam para o fato de que as dermatites de contato se destacam em relação às dermatoses ocupacionais, dentre elas o Eczema das Mãos. Para a pesquisadora, a implementação de serviços de dermatologia relacionada ao trabalho em todo o país é um desafio diante da complexidade que algumas investigações podem assumir. Por fim, Maria das Graças alertou que “os danos à saúde do trabalhador e o impacto socioeconômico decorrente fazem com que as dermatoses ocupacionais sejam um problema de saúde pública no Brasil”.

 


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