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Parto na água é uma importante ferramenta no alívio da dor

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Publicado em:22/06/2015
Parto na água é uma importante ferramenta no alívio da dorNeste domingo, o jornal Estado de Minas publicou reportagem na qual destacou a importância da realização de boas práticas de assistência obstétrica, e mencionou o parto na água como uma experiência que alivia a dor e agiliza o nascimento do bebê. A reportagem citou o estudo Nascer no Brasil, desenvolvido pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), que aponta o medo da dor como principal motivo para escolha da cesariana. Leia.
 
Parto na água: uma experiência prazerosa - Estado de Minas
Valéria Mendes
 
Exceção no país das cesáreas, apenas 5% das brasileiras têm parto natural no Brasil. A água é uma importante ferramenta no alívio da dor e na agilização do nascimento
 
O medo da dor é o principal motivo apontado pelas mulheres brasileiras que escolhem a cesariana. Desassociar o parto normal de uma experiência traumática é um trabalho de formiguinha em um país que, cada vez mais, naturaliza a cirurgia de extração fetal, vista como segura, confortável e tecnológica, mesmo que as evidências científicas mostrem o contrário: o risco de mortalidade materna na cesariana triplica em relação ao parto normal e o procedimento cirúrgico aumenta em até 120 vezes a probabilidade de o bebê nascer prematuro. Se, de um lado, somos o campeão mundial em cesarianas, com a média de 52,6% frente a uma recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 15%, de outro, vemos se consolidar o protagonismo feminino que luta por práticas humanizadas de assistência obstétrica, difundindo informações científicas e compartilhando experiências que mostram que é possível não apenas ter um parto normal respeitoso, mas vivenciar o momento de forma natural e provar que o corpo feminino continua sendo capaz de parir. 
 
A pesquisa “Nascer no Brasil: Inquérito nacional sobre parto e nascimento”, da Fundação Oswaldo Cruz e do Ministério da Saúde, mostrou que, entre as mães de primeira viagem da rede pública, 83% citaram o medo da dor como principal razão para preferir a cesárea. Na rede privada, 69% afirmaram o mesmo. Apesar de todo esse pavor, o que ainda é pouco difundido no país é que é possível aliviar a dor no trabalho de parto sem ter que, para isso, se submeter a uma cirurgia de grande porte ou mesmo a uma anestesia. Assim, o parto na água tem se mostrado uma excelente alternativa àquelas que querem experienciar dar à luz respeitando a evolução fisiológica do trabalho de parto. Ginecologista e obstetra do Instituto Nascer, em Belo Horizonte, Quesia Villamil diz que o parto na água consiste no nascimento do bebê com a mãe imersa em água, seja numa banheira ou numa piscina. Ao contrário do que se pode pensar, não é um modismo iniciado por famosas, como Gisele Bündchen, mas uma forma muito antiga de nascer. A grande vantagem de parir dentro da água é dispensar, na grande maioria dos casos, a utilização dos métodos farmacológicos de alívio da dor, como a analgesia peridural. 
 
Liberdade - O que pouca gente sabe é que a anestesia pode dificultar o nascimento, já que interfere na intensidade das contrações uterinas, e desencadear outras intervenções que atrapalham a evolução natural do parto. “O parto na água está dentro do contexto de parto em liberdade”, afirma Quesia Villamil, que pariu três filhos de forma natural, dois na água. O parto do segundo filho foi tão rápido que, segundo ela, não deu tempo sequer de encher de água a banheira.
 
Doula desde 2010, Kalu Brum lembra, porém, que não são todas as mulheres que desejam o parto na água que se sentem confortáveis na banheira. Segundo ela, algumas não conseguem ou não acham uma posição adequada que alivie a dor das contrações. Assim, dentro do conceito de assistência humanizada ao parto – em que a vontade da mulher é respeitada e que prioriza a evolução natural do trabalho de parto –, outros elementos para o alívio de dor podem ser utilizados: massagem, água do chuveiro e mudar de posição, entre outros. Brum reforça que a água é um elemento significativo e benéfico para o trabalho do parto. “Do início até o meio, a água do chuveiro relaxa, alivia a lombar e ajuda a mulher a lidar com as emoções. Com o trabalho de parto mais avançado, a banheira se torna componente importante. Um das cenas que acho mais deliciosa de presenciar é quando a mulher entra na banheira e vemos a expressão do alívio momentâneo da dor”, relata.
 
O parto na água não é sinônimo de parto natural porque podem existir situações em que a indução do parto é necessária ou a mulher queira a anestesia. “Medicamentos retiram da experiência a nomenclatura de parto natural”, afirma Kalu Brum. O parto na água é desaconselhável nos casos de gravidez de alto risco, parto prematuro, sangramento vaginal excessivo, gestante com cesárea prévia, quando o bebê está sentado (pélvico), rotura da bolsa com líquido meconial ou sanguinolento, febre da mãe, infecção não tratada como herpes, hepatite C, casos em que a mulher é HIV positivo ou sinais de que o bem-estar do bebê dentro do útero está comprometido. Nessas situações, a conduta deve ser individualizada para a indicação ou não de cesariana. Bebê sentado, por exemplo, não é impeditivo para o parto normal.

Para Quesia Villamil, o que é mais importante em relação ao parto na água é que as parturientes relatam uma experiência muito prazerosa. “Quem teve um bebê na água nunca mais quer ter fora”, diz. Em Belo Horizonte, além do Sofia Feldman, os hospitais Santa Fé e Unimed oferecem a opção do parto na água.
 
Olho no olho - Karen Aun, de 33 anos, é mãe de Elias, de 4, e Benjamim, de 1. A dona de casa recorda com pesar o excesso de intervenções desnecessárias no parto do primeiro filho. “Depois que tomei a anestesia, meu trabalho de parto parou. Os médicos entraram, então, com a ocitocina sintética para acelerar as contrações. Como, segundo eles, o bebê estava alto, acabaram tendo que fazer outros procedimentos mais agressivos”, desabafa.
 
“Quando o Elias nasceu, fiquei horas sem ver meu filho, não amamentei na primeira hora, cortaram o cordão umbilical muito rápido.” Já com o segundo filho foi mais tranquilo. Às 18h de um domingo a bolsa se rompeu. Às 20h, Karen dava entrada no hospital e às 22h45 nascia Benjamim, de 39 semanas e quatro dias, do jeito que a mãe desejou: um parto na água. “Preparei-me para o parto durar horas e horas. Recebi massagem nas costas e também usei água do chuveiro para aliviar a dor. 
 
Mas teve uma hora em que senti uma vontade louca de ir ao banheiro e minha doula sugeriu que eu entrasse na banheira para relaxar. Trinta minutos depois que entrei senti vontade de fazer força e lembro-me de dizer: 'Acho que está nascendo'. Segurei na beirada da banheira e a vontade de fazer força veio novamente, o corpo fala a hora que a gente precisa fazer força. O médico disse que já estava vendo a cabecinha e quando coloquei a mão senti meu filho. Foi muito emocionante”, descreve. “Na terceira vez que fiz força ele saiu”, diz. “É muito bom receber o filho de frente, cara a cara. Fiquei muito mais fortalecida por ter acreditado que o meu corpo era capaz de parir. Essa percepção corporal, a conexão com o meu corpo, me fez mais forte. Essa é a grande diferença.”

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