Brasil investe para melhorar controle da tuberculose

Embora a porcentagem esperada para a redução dos casos de tuberculose no Brasil seja de 5% ao ano, o país vem apresentando declínio de 2%. Esse dado, na opinião da pesquisadora, ainda faz com que a TB ainda seja um agravo epidemiologicamente importante no território nacional, com a notificação de aproximadamente 70 mil casos novos e a ocorrência de quatro mil mortes por ano. “O Brasil alcançou as metas dos Objetivos do Milênio naquilo que diz respeito ao número de mortalidade”, assegurou a pesquisadora.
A adoção do teste rápido molecular para diagnóstico (Gene Xpert), instituído como uma política de Estado pelo Ministério da Saúde com investimentos na compra de insumos, contratos de manutenção e treinamento profissional, é um dos pilares citados pela pesquisadora que norteiam a situação da doença no país. Implantado em todos os municípios que notificam mais de 200 casos por ano (o que dá uma cobertura de quase 60% dos novos casos), representa uma mudança de paradigma no diagnóstico. “Além de detectar se o indivíduo possui ou não TB, o teste também identifica se a pessoa tem resistência ao antibiótico rifampicina, usado no tratamento da doença”, explicou a pesquisadora do Centro de Referência Professor Hélio Fraga da ENSP.
Outro fator destacado foi a criação do Sistema de Monitoramento de Vigilância Epidemiológica da Resistência. “Hoje, um paciente candidato ao uso de esquemas de tratamento especial (seja por ele ser soropositivo para o HIV ou por ser usuário de fármacos que comprometam a sua imunidade) está notificado nesse sistema. Isso nos possibilita analisar tendência de aumento e redução não só da tuberculose, como também de outras micobacterioses não tuberculosas”, disse Margareth antes de citar o terceiro pilar. “O Brasil assumiu o compromisso, também seguindo uma recomendação da OMS, de estimular a produção científica em relação à tuberculose. E aí a Fiocruz tem um papel importante na descoberta de novas moléculas, novos medicamentos e até mesmo atuando nas consultorias da Organização para esse tema. Tudo o que é feito aqui tem sido observado internacionalmente”.

O exame PPD
No dia Mundial da Tuberculose, um ponto que tem gerado questionamentos é a realização do teste tuberculínico (PPD), voltado para detecção da infecção latente, ou seja, aquela situação em que o indivíduo não está doente, mas tem a indicação de fazer uso de um dos medicamentos para impedir que a doença ativa se desenvolva. O debate, segundo a consultora da OMS, perdeu fundamento no momento em que o PPD deixou de ser fabricado no mundo" O PPD não está mais a venda. A aplicação dos testes Igra está em estudo para incorporação no Programa de Controle da Tuberculose, mas isso depende de questões econômicas. A avaliação não é técnica, pois análises comprovam sua equivalência ao teste anterior”.
Um dos principais desafios no controle da tuberculose na opinião da pesquisadora é a contradição de possuir um Programa de Controle bom, com remédios de boa qualidade, tratamento gratuito governamental, e ainda assim conviver com quatro mil pessoas morrendo por ano de tuberculose. “Não existem mau paciente; existe serviço de saúde ineficiente, que não é capaz de colher essa pessoa. Se o doente não for adequadamente recebido, acolhido e tratado, não levará o tratamento até o final. A resistência está ligada à irregularidade e abandono no tratamento”.
Ações de Controle Social
De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é um dos 22 países do mundo com maior número de casos de tuberculose (TB), apresentando taxas de incidência elevadas nas regiões Sudeste, Norte, Sul e Nordeste. A tuberculose é a 4ª causa de morte por doenças infecciosas e a 1ª causa de morte dentre as doenças infecciosas definidas dos pacientes com Aids.

Ainda nessa data, a Stop Brasil divulgou carta aberta à população, na qual reivindica a implantação do Comitê Intersetorial, com a participação da Sociedade Civil Organizada, para o desenvolvimento de ações conjuntas visando enfrentar os determinantes sociais relacionados à tuberculose, em especial, os que possuem relação direta com a pobreza e a dificuldade de acesso; o aumento na participação das organizações da sociedade civil e grupos de pessoas afetadas no processo de enfrentamento da doença e do estigma, valorizando as experiências e realidades locais; o reforço das ações de comunicação e muitos outros.
“O Dia Mundial de Combate à Tuberculose não é uma data de comemoração, mas um momento de mobilização e conscientização da população, gestores, academia, mídia e profissionais de saúde sobre os riscos da doença”, disse o coordenador do OTB/ENSP.
Acesse aqui as atividades realizadas pelo Centro de Referência Professor Hélio Fraga e Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria em alusão ao Dia Mundial da Tuberculose.
Sobre o Observatório Tuberculose Brasil (ENSP/Fiocruz)
Vinculado em 2012, à Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, por meio do Centro de Referência Professor Hélio Fraga (CRPHF/ENSP), o objetivo do OTB é fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS) e contribuir para o controle da tuberculose no país, com o monitoramento das políticas públicas de saúde e promoção do controle social.
Integrante da rede FioTB, o Observatório é composto de diversas unidades da Fiocruz, com a proposta de articular as ações de pesquisa e serviço da Fundação na área. O Observatório TB pretende desenvolver ações em advocacy communication and social mobilization (ACSM) e monitorar os indicadores sociais e epidemiológicos relacionados à tuberculose. As ações estão de acordo com as Metas de Desenvolvimento do Milênio, estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e contam com ativa participação de movimentos sociais no que se refere à execução dos compromissos assumidos oficialmente pelas três esferas de governo.
A ancoragem dessa iniciativa, na ENSP, visa responder a demandas do movimento social de luta contra a doença e a necessidade de realizar estudos e desenvolver estratégias intersetoriais conjuntas articuladas entre os diversos atores, setores e políticas públicas. Busca, assim, enfrentar os determinantes sociais relacionados à tuberculose e suas associações. Entre eles, em especial, os que possuem relação direta com a pobreza e a dificuldade de acesso à saúde e a expectativa de maior participação da academia e, consequentemente, envolvimento mais amplo de pesquisadores, professores e alunos no enfrentamento da doença no país.
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