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Estudo mapeia resistência primária entre portadores de hepatite B

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Publicado em:02/05/2014
A hepatite B é considerada uma doença crônica possível de ser controlada com medicamentos. Ao longo do tempo, porém, a terapia tende a selecionar cepas de vírus resistentes às drogas usadas. O problema torna-se ainda mais grave quando o tratamento não é feito de forma regular e de acordo com os protocolos mais adequados. Com o intuito de investigar a frequência de transmissão dessas cepas resistentes na população brasileira, pesquisadores do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (IMT-USP) e da Faculdade de Medicina, da Universidade de São Paulo (FMUSP), analisaram amostras de sangue de 702 portadores de hepatite B, de sete estados brasileiros, que nunca haviam sido tratados.O trabalho foi realizado com apoio da Fapesp durante o doutorado de Michele Soares Gomes Gouvêa. Felizmente, os resultados revelaram a presença de cepas resistentes apenas nas amostras de 11 pacientes – o que corresponde a 1,6% da população estudada.
 
“Embora a prevalência da resistência primária, quando o paciente é infectado por uma forma já resistente do vírus, tenha sido pequena, o problema existe. Esse fator deve ser considerado caso o paciente não responda imediatamente ao tratamento. E para saber se isso está ocorrendo é preciso realizar análises frequentes da carga viral. No caso da carga viral não reduzir, apesar da aderência ao tratamento, o ideal é que seja realizado o sequenciamento do genoma viral para a pesquisa de mutações de resistência e adequado manejo da terapia”, disse Michele.
 
Segundo ela, cerca de 80% dos pacientes tratados com a droga lamivudina adquirem resistência em um período aproximado de cinco anos de terapia. Outros medicamentos levam um pouco mais de tempo, mas é um tratamento para a vida toda e o problema, eventualmente, acaba aparecendo. “Determinadas mutações aumentam a capacidade de replicação do vírus e pode acontecer de o paciente ficar com uma supercarga viral resistente. Queríamos saber se essas cepas estavam sendo disseminadas”, explicou.
 
O problema da resistência primária é grande em determinadas regiões da África. De acordo com a literatura científica, o problema afeta 20% dos portadores de hepatite B na África do Sul. O índice salta para 50% quando se consideram pacientes coinfectados com o vírus da Aids. “Os resultados de nosso estudo mostram que a situação brasileira é razoavelmente boa. Isso nos dá certa tranquilidade em relação à circulação de cepas resistentes no país, mas não podemos deixar de fazer um seguimento cuidadoso dos pacientes”, disse a médica do IMT-USP/FMUSP Maria Cássia Jacintho Mendes Corrêa, coordenadora do projeto “Prevalência de resistência primária aos antivirais utilizados no tratamento da hepatite B entre pacientes com infecção crônica pelo vírus da hepatite B não submetidos a tratamento” e orientadora de Gouvêa ao lado de João Renato Rebello Pinho, do Laboratório de Gastroenterologia e Hepatologia Tropical do Departamento de Gastroenterologia da FMUSP/IMT-USP.
 
“As drogas contra hepatite B precisam ser usadas com muito respeito e critério para não aumentar o problema de resistência primária. A África do Sul é um exemplo do que pode acontecer caso não tomemos cuidado”, afirmou João. De acordo com os pesquisadores, os medicamentos contra a hepatite B são oferecidos gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS), mas há lugares no Brasil em que são adotados esquemas inadequados de tratamento, seja por dificuldade de acesso a todas as drogas necessárias ou por falta de uma educação médica continuada. “Um exemplo é a monoterapia com lamivudina, que foi no passado muito utilizada e hoje está totalmente proscrita em todo o mundo por favorecer o aparecimento de cepas resistentes”, comentou Corrêa.
 
Segundo a médica, outro fator que contribui para o agravamento da resistência viral são os casos de abandono do tratamento. “A hepatite B é, na maioria dos casos, uma doença assintomática. O tratamento é para a vida toda, mas o paciente se sente bem. Alguns acabam desistindo de tomar as drogas ou as tomam de forma irregular. Em algumas regiões o acesso aos medicamentos é mais difícil”, disse.
 
Se não tratada adequadamente, a inflamação no fígado causada pelo vírus da hepatite B (HBV) pode evoluir para hepatite crônica, cirrose hepática e câncer de fígado. É possível prevenir a infecção – que ocorre por via sexual, contato com sangue e secreções contaminados, parto ou amamentação – por meio de uma vacina também disponível na rede pública de saúde.
 

Fonte: Agência Fapesp
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