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Segurança pública: falta valorização profissional

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Publicado em:20/09/2013
 
Segurança pública: falta valorização profissionalOs impactos das condições de vida e do trabalho no processo de adoecimento e morte dos policiais vêm sendo estudados há anos pelo Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/ENSP/Fiocruz). No dia 18/9, o Centro de Estudos da Escola debateu esse tema, com ênfase na atuação das policiais que combatem o crime. No encontro, a subsecretária de Educação, Valorização e Prevenção, da Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro, Juliana Márcia Barroso, lembrou que uma pesquisa do Claves/ENSP propiciou toda uma política de valorização dos profissionais de segurança pública. “É muito bom ver a ação da academia tendo impacto na política pública. Esse é o grande papel social dos centros de pesquisa”, comentou. Os vídeos do Centro de Estudos estão disponíveis no canal da ENSP no YouTube.
 
Além de Juliana Barroso, participaram da mesa de debate a delegada titular da 6ª Delegacia de Polícia Civil do RJ, Valéria de Aragão Sadio, a comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Caju, major Alessandra Veruska Carvalhaes, e a codiretora da série do canal GNT Mulheres de aço, Susanna Lira. A sessão foi coordenada pela pesquisadora da ENSP/Fiocruz e coordenadora do Claves, Maria Cecília Minayo. 
 
A major Alessandra, há quatro anos no comando de UPPs, comentou que a imagem e a credibilidade da Polícia Militar vêm, há algum tempo, sendo desgastadas, em função de uma atuação corrupta e da falta de resolutividade de alguns poucos profissionais da corporação. “A maioria de nós trabalha por amor à profissão, apesar de sofremos as consequências do desgaste da crença da população e, principalmente, sentirmos a falta de valorização do nosso trabalho pelo próprio estado.”
 
Segundo ela, a atuação das UPPs é baseada na filosofia de polícia de proximidade e comunitária e visa ao estabelecimento de uma relação entre policiais e a comunidade, fortalecendo a confiança em ambas as partes. “O trabalho na UPP me fez perceber que 95% de uma comunidade é formada por pessoas de bem, com as quais queremos desenvolver uma relação boa e de confiança. Depois de algum tempo trabalhando no Caju, comunidade formada por 13 favelas, agora ando desarmada por lá. Faço isso porque acredito no trabalho da polícia e, em especial, de minha equipe, formada por um contingente de cerca de 400 profissionais, dos quais mais de 100 são mulheres.”
 
A mudança cultural também já é percebida por parte dos moradores. De acordo com Alessandra, a comunidade não aceita mais nenhum tipo de desrespeito, tanto da polícia como dos bandidos. “Eles sabem de seus direitos e querem tê-los. A polícia conhecida pelo ‘pé na porta’ e ‘tapa na cara’ não pode mais existir. Entre as missões da UPP, está a mudança da imagem da polícia na sociedade. Com isso, cada vez mais conseguimos integrar as favelas à comunidade carioca, e esse é o objetivo do trabalho das UPPs. Ainda não temos o melhor dos mundos, a maioria dos problemas ainda vem dos 5% que querem baderna e não concordam com nossa presença nas comunidades”, disse ela.
 
Descrença, desvalorização e invisibilidade são alguns dos sentimentos vividos pelos profissionais de segurança pública
 
Há uma década, lembrou Cecília Minayo, o Claves estuda a questão dos profissionais de segurança pública. A pesquisa, que já rendeu dois livros (Missão prevenir e proteger e Missão investigar: entre o ideal e a realidade de ser policial), iniciou-se em virtude de uma demanda da própria polícia, que precisava reverter o quadro de descrença vivido naquele momento. O trabalho foi elaborado para suprir uma carência bibliográfica de estudos sobre segurança pública no país. “Com essa aproximação, tivemos um esforço científico e intelectual de compreender o papel da polícia. Uma sociedade democrática atua com coesão e coerção. A coesão vem da educação, religião, trabalho da família etc. A coerção, por sua vez, entra quando falha a coesão. Por razões históricas e, muitas vezes, em razão do comportamento das próprias polícias, a sociedade brasileira desrespeita e valoriza pouquíssimo esses profissionais. Tal desvalorização é a causa maior de sofrimento na vida dos policiais”, alertou ela.
 
A invisibilidade também é uma das questões estudadas. “Os profissionais da segurança pública trabalham questões importantíssimas para a sociedade, mas é como se eles não tivessem tal papel. Depois de estudá-los e conhecê-los melhor, sinto-me, particularmente, com a missão de mostrar que uma sociedade nunca será democrática se ela não assumir sua polícia como uma parte importante da democratização de que precisamos. A filosofia das UPPs me encanta. Ela deve prevenir e proteger a população e deveria ser a missão de toda a polícia. Espero que cheguemos a isso um dia, pois, infelizmente, ainda temos muita truculência, muito ‘pé na porta’”, lamentou Cecília.
 
A subsecretária de Educação, Valorização e Prevenção, da Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro (Seseg), Juliana Márcia Barroso, falou da importância das pesquisas sobre a saúde e qualidade de vida dos profissionais de segurança pública para o embasamento da criação de leis e projetos para a área. Além da Polícia Militar, a Seseg trabalha com a Polícia Civil, o Corpo de Bombeiros e a Guarda Municipal. “Foi por meio de pesquisas como essa que conseguimos criar a Subsecretaria de Educação, Valorização e Prevenção e nela resolvemos priorizar quatro grandes áreas: saúde, condições de trabalho, imagem institucional e benefícios”, explicou. 
 
Ela acredita que o trabalho feito na Seseg já apresenta resultados. “A polícia, claro, tem parcela de culpa na estigmatização da sua imagem. Mas acredito que já damos sinais de mudança no tipo de comportamento truculento, pois ele não cabe mais nos dias de hoje. Falamos de democracia, mas, historicamente, esse é um processo muito recente no país. Nosso caminho ainda é curto, porém demos passos importantes.”
 
Juliana contou sobre a última conquista da Seseg: a criação do Conselho Estadual de Segurança Pública. “No dia 18/9, demos um passo muito importante com a abertura do diálogo entre a sociedade civil e os trabalhadores da segurança pública para a implementação de políticas públicas no âmbito da secretaria”, disse ela. O conselho é composto por representantes das Secretarias de Educação, Saúde, Direitos Humanos, Cultura, Esporte e outros. “A segurança pública começa a atuar quando uma dessas outras áreas falha. Ou trabalhamos juntos ou ficaremos num eterno ciclo de correr atrás do prejuízo”, encerrou ela. 

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