Busca do site
menu

'Tratamento de TB em indígenas não atende a normas'

ícone facebook
Publicado em:03/07/2013

'Tratamento de TB em indígenas não atende a normas'“O desempenho dos serviços de saúde em Rondônia, em relação às ações de detecção, diagnóstico, tratamento e acompanhamento dos casos de tuberculose (TB) entre os indígenas está em desacordo com as normas preconizadas pelas Diretrizes Brasileiras para o Controle da Tuberculose”. A afirmação é da aluna do mestrado em Epidemiologia em Saúde Pública, Jocieli Malacarne, que apresentou sua dissertação em 3 de julho, na ENSP. Ela sugere que as autoridades em saúde revejam as estratégias, atualmente empregadas para o controle do agravo entre essas populações e busquem priorizar a detecção e o tratamento precoce dos casos nas aldeias, assim como investir no diagnóstico e tratamento da infecção latente.

Jocieli acredita que somente dessa forma será vislumbrado um cenário mais favorável em médio/longo prazo. Parte desse problema, explicou ela, manifesta-se por meio dos elevados indicadores de transmissão revelados na sua pesquisa, que, no contexto das Casas de Saúde do Índio (Casai), entrevistou 76 indígenas com sintomas respiratórios (SR) e/ou suspeita de TB. Houve predomínio das etnias Suruí (40,8%), Wari´ (19,7%) e Karitiana (11,8%).

Na pesquisa, observou-se ainda que 34,2% dos indígenas relataram ter chegado a Casai por conta própria, e 31,6% disseram ter sido encaminhados pelo serviço de saúde. Desde o início dos primeiros sintomas, 34,2% dos entrevistados demoraram mais de 30 dias para chegar a Casai.

De acordo com o estudo, a falta de transporte foi a maior dificuldade enfrentada para chegar ao serviço de saúde, e 32,9% relataram que foi preciso mais de 5 semanas para obter um diagnóstico. Dentre esses entrevistados, 52 iniciaram tratamento para TB, e o tempo gasto, desde a primeira consulta até o início do tratamento, foi superior a 30 dias em 61,5% dos indígenas, e o tratamento supervisionado não foi realizado em 34,6% dos casos.

Na aldeia Igarapé Ribeirão, foram avaliados 263 indígenas, informou Jocieli, e aproximadamente 10% dos investigados referiram-se a sintomas respiratórios. Foi detectada alta prevalência de infecção pelo Mycobacterium tuberculosis (40,3%) e elevado risco anual de infecção (2,4%). As variáveis de faixa etária ≥15 anos, antecedentes de TB, em contato com doente de TB há menos de 2 anos, com presença de cicatriz vacinal e classe E da classificação econômica do Brasil mostraram associação com a prova tuberculínica ≥ 5 mm por meio da regressão de Poisson com variância robusta. Além disso, segundo a aluna, 49 indígenas (18,6%) referiram história anterior de TB. 

O estudo de Jocieli tem como objetivo investigar o acesso de indígenas suspeitos e portadores de TB aos serviços de saúde em Rondônia e realizar diagnóstico situacional da doença entre os Wari’ da aldeia Igarapé Ribeirão. Para isso, no período entre 2009 a 2011, foram entrevistados indígenas com SR e em tratamento para TB em quatro Casai de Rondônia. Também foi feito um estudo transversal na aldeia Igarapé Ribeirão, em fevereiro de 2011, em que utilizou-se a prova tuberculínica em todos os indígenas, além de baciloscopia e cultura de escarro e raios X nos sintomáticos respiratórios e indígenas com história de tratamento para TB.

Segundo ela, apesar de a TB manter-se como um dos mais importantes problemas de saúde pública no Brasil, sobretudo entre os povos indígenas, há poucas informações a respeito das dificuldades enfrentadas pelos doentes indígenas para acessar os serviços de saúde e obter o tratamento adequado.

Jocieli Malacarne é enfermeira, atualmente cursando o doutorado em Epidemiologia em Saúde Pública pela ENSP. Atua no projeto de pesquisa sobre Desigualdades Sociais e Tuberculose: distribuição espacial, fatores de risco e famacogenética na perspectiva da etnicidade. Sua dissertação é orientada pelo professor da ENSP Paulo Cesar Basta.


Seções Relacionadas:
Defesas ENSP

Nenhum comentário para: 'Tratamento de TB em indígenas não atende a normas'