Pesquisador aponta impacto dos grandes empreendimentos na saúde
Isabela Schincariol
"Qual é o custo socioambiental para o progresso?", perguntou o pesquisador Hermano Castro, do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh), durante o seminário Impacto dos grandes empreendimentos recentes no Rio de Janeiro sobre a saúde da população: o caso da TKCSA. Em sua apresentação, o pesquisador traçou um panorama do atual estado da região de Santa Cruz, bairro do Rio de Janeiro, depois da implantação da Companhia Siderúrgica do Atlântico, a maior da América Latina. De acordo com ele, para a empresa continuar a sua produção, é preciso que ela garanta seu funcionamento sem riscos. “Do ponto de vista da saúde, é preciso ter garantias mínimas de que pequenos vazamentos e acidentes não continuarão a ocorrer. Sem isso, ela deve fechar suas portas”, declarou ele.
O pesquisador está à frente, pela ENSP, do desenvolvimento de um relatório da Fiocruz sobre os impactos socioambientais e de saúde em Santa Cruz decorrentes da instalação e operação da empresa TKCSA. Até bem pouco tempo, Hermano e Alexandre Pessoa, pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), estavam sendo processados pela siderúrgica por afirmarem que a poeira emitida pela fábrica é tóxica, porque contém, entre outras substâncias, uma alta concentração de manganês, enxofre e silício. “Diferentemente do que afirma a CSA, ela não é composta apenas de grafite”, disse ele. Segundo Hermano, parece que a empresa entendeu não ter cabimento processar um cidadão em luta pela saúde e qualidade de vida da população e, por isso, retirou o processo jurídico.
A empresa em questão é alvo de investigações desde o início de sua instalação, em 2005. Até hoje, explicou o pesquisador, ela não tem licença de operação. De acordo com Hermano, são estes alguns dos problemas enfrentados pela empresa: embargo da obra pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por desmatar manguezais e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) por não oferecer equipamentos de proteção individual (EPI) para os trabalhadores da obra, além de suspensão da obra pelo Ministério Público Federal (MPF) em razão da salinização da água na região. Também constam questões relativas a degradação ambiental, ameaças de morte a lideranças comunitárias e ilegalidade nos processos de licenciamento ambiental.
Em 2010, com a inauguração da siderúrgica, os problemas aumentaram, envolvendo a saúde da população do entorno. As principais questões levantadas por moradores, listou Hermano, foram problemas respiratórios, oftalmológicos e dermatológicos decorrentes, segundo eles, da "chuva de prata" vinda da CSA.
“O despejo de ferro-gusa, produto da redução do minério de ferro por carvão vegetal em grandes fornos submetidos a altas temperaturas, chamados altos-fornos, em poços ao ar livre no pátio da empresa causava, com qualquer vento, uma enorme nuvem prateada que se dissipava na região, em especial sobre a população moradora do entorno da fábrica”, ressaltou. Além disso, ocorreram pequenos vazamentos e três grandes acidentes na siderúrgica que emitiram uma poluição composta de elementos químicos variados, entre eles muitos metais pesados.
Em 2011, a Fiocruz elaborou o relatório Impacto dos grandes empreendimentos recentes no Rio de Janeiro sobre a saúde da população: o caso da TKCSA, que indicou significativa piora da qualidade do ar em Santa Cruz. Nele, também se atestou que o pó emitido pela "chuva de prata" continha substâncias tóxicas. “A região de Santa Cruz tem um dos piores índices de desenvolvimento humano (IDH) do estado e sofre com muita desigualdade em relação ao acesso à saúde e segurança. Entre outros problemas, ela também é um dos principais territórios da máfia das milícias no estado. Por isso, tínhamos de fazer alguma coisa para impedir mais esse prejuízo na qualidade de vida das pessoas da região”, relatou Hermano.
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