Especialista da ENSP fala sobre combate à tuberculose
A pesquisadora Margareth Dalcolmo, coordenadora do Ambulatório de Tuberculose Multirresistente do Centro de Referência Professor Hélio Fraga (CRPHF/ENSP), concedeu entrevista à Agência Fiocruz de Notícias sobre o combate à tuberculose no Brasil, que, segundo dados do Ministério da Saúde, ocupa o 17º lugar entre as 22 nações responsáveis por 82% do total de casos da doença no mundo, mas reduziu o número de pessoas com a doença em 50%.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), notificam-se anualmente no Brasil 71 mil novos casos de tuberculose, sendo cerca de 4,6 mil o número de óbitos. Considerada uma doença negligenciada mundialmente, por estar intimamente ligada à pobreza e à má distribuição de renda, a tuberculose ainda apresenta dificuldades para seu controle devido ao aparecimento de bactérias multirresistentes que agravam ainda mais o problema. O Ministério da Saúde anunciou que o Brasil atingiu em 2011 o objetivo proposto pela OMS em 1990 em relação à tuberculose para 2015: reduzir o número de pessoas com a doença em 50%. Serão investidos R$52 milhões para ampliar em seis vezes a produção nacional da vacina BCG, que previne contra a doença.
A pneumologista Margareth Dalcolmo disse na entrevista que, com a adoção de medidas de controle mais eficazes, a descentralização das ações de diagnóstico e tratamento para os diversos tipos de unidades de saúde – como as de saúde da família e as clínicas integradas –, a intervenção nas regiões e comunidades de mais alta carga – aí o exemplo da Rocinha é emblemático –, o tratamento diretamente observado dos pacientes diagnosticados e o trabalho conjunto entre o estado e os municípios, era de se esperar uma redução nos últimos anos.
Margareth também disse que o Laboratório de Referência Nacional para Tuberculose do CRPHF/ENSP foi modernizado recentemente e implementa um processo de gestão de qualidade. Ela acrescentou que o laboratório, contudo, não está certificado e acreditado para o desenvolvimento de ensaios clínicos. Para isso, informou, será necessário investimento em recursos humanos qualificados e a efetiva certificação na gestão da qualidade, processo esse que é hoje o objetivo mais relevante. Segundo ela, o laboratório tem atividades de rotina que vão desde o diagnóstico bacteriológico, com culturas por métodos convencionais e rápidos, além de desenvolver estudos de técnicas de biologia molecular e sequenciamento genético de micobactérias, de condução própria e em cooperação com estudos multicêntricos. O laboratório ainda recebe pesquisadores visitantes e estagiários para aprimoramento e participação em estudos e desenvolve atividades de ensino, com cursos anuais para os profissionais da rede de laboratórios.
Sobre a veiculação na imprensa de que na Índia surgiu um tipo mutante de tuberculose resistente a todos os tratamentos conhecidos, Margareth informou que o fenômeno da resistência aos fármacos é iatrogênico, ou seja, é causado pelo homem e decorrente de maus tratamentos anteriores. De acordo com ela, em 2006, foi identificada a cepa denominada XDR (extensivamente resistente) a partir de surto ocorrido na província de Kwazulu-Natal, na África do Sul, ocorrido em uma população de mineiros, a maioria portadora do vírus HIV. Denominou-se dessa forma as cepas resistentes à rifampicina + isoniazida e mais a uma quinolona e a um aminiglicosídeo injetável, que são os medicamentos usuais nas formas multirresistentes. Em 2012, disse ela, foi identificada a cepa chamada super-resistente, na Índia, resistente a todos os fármacos existentes e virtualmente fora de possibilidade terapêutica, com as doze mortes ocorridas por severos quadros de tuberculose.
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias
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