Pesquisa respalda proibição de cigarros com sabor
“Cerca de 1/3 da população entre 13 e 15 anos já experimentou produtos derivados do tabaco com aditivos e aromatizantes. Desses jovens, as meninas aparecem em maior número entre os experimentadores mais frequentes. Além disso, quando questionados quanto ao uso desse tipo de produto, eles afirmam que foi por causa do seu sabor”, detalhou a pesquisadora Vera Luiza Costa e Silva (Demqs/ENSP), uma das coordenadoras do levantamento sobre o Controle do Tabagismo no Brasil. A pesquisa fortaleceu a decisão da Anvisa de realizar audiências públicas para discutir novos regulamentos para os produtos derivados do tabaco. O resultado dessa mobilização saiu nesta terça-feira (13/3), quando a Anvisa aprovou a retirada de cigarros com sabor do mercado brasileiro em dois anos.
A pesquisadora advertiu que esses adolescentes que admitem fumar com mais frequência e experimentar durante um maior tempo tem mais propensão a serem nossos futuros fumantes. Outro dado relevante colocado por ela é a questão das mulheres, que aparecem em maior número nesses dados. Vera comentou que “as meninas estão fumando mais que suas avós! Por serem experimentadoras, muitas já estão se tornando consumidoras regulares em algumas capitais brasileiras. Isso mostra que os determinantes para iniciação entre as meninas são diferentes dos determinantes para os meninos, o que justifica políticas publicas focadas pela ótica de gênero. Isso será refletido no futuro, pois daqui a 20 ou 30 anos vamos ter que lidar com o aumento da mortalidade por doenças relacionadas ao tabaco na mulher se compararmos com o que existe hoje”, expôs a pesquisadora.
O objetivo desse estudo foi avaliar a situação do tabagismo no Brasil e o papel do Programa Nacional de Controle do Tabagismo no País, comparando-o às melhores práticas globais e à experiência de outros países. Ele revelou dados quanto às tendências em termos de prevalência do fumo, consumo e despesas, bem como o mercado ilegal. A pesquisa, realizada em 13 capitais do País, teve como foco escolares de 13 a 15 anos de idade, selecionados de maneira aleatória nas escolas das capitais estudadas. Os dados foram coletados entre 2005 e 2009. A pesquisa passou pelo comitê de ética e o questionário aplicado foi anônimo. Além disso, eles foram aplicados em momentos diferentes durante o período estudado.
A principal recomendação apontada pela pesquisa para garantir que se consiga reduzir ainda mais as mortes e as enfermidades causadas pelo fumo, em especial entre as mulheres, os jovens e as pessoas com baixo nível de educação formal, é a de que o Brasil deve adotar intervenções de controle mais abrangentes, como a elevação do preço dos cigarros, e a reforçar as medidas que não dependem dos preços, como os ambientes livres de fumo. Vera Luiza lembrou que, embora o programa brasileiro seja considerado como o programa nacional mais abrangente no mundo em desenvolvimento, não havia sido avaliado antes.
Sobre as questões estudadas, a pesquisa destacou que, quanto à prevalência, a taxa apresentou queda no Brasil durante a última década. Já sobre o consumo geral de derivados do tabaco, o estudo mostrou que essa taxa caiu em nosso país durante os anos noventa, uma vez que a queda do consumo legal não foi completamente anulada pela elevação do consumo de cigarros ilegais. No que se refere aos gastos, os cigarros são o componente principal dos gastos com tabaco no Brasil. Já os dados sobre os custos com essas hospitalizações corresponderam a 8% dos custos hospitalares para adultos com mais de 35 anos.
Aproximadamente 16% da população de adultos fumam, principalmente os indivíduos com baixos níveis educacionais, que podem ser também as mais pobres; e os grupos mais pobres gastam uma proporção maior da sua renda com o tabaco em comparação com grupos das camadas de alta renda. As maiores diferenças na prevalência do tabagismo entre as pessoas com maior e menor escolaridade foram encontradas nas cidades do Norte e do Nordeste. Por outro lado, as grandes cidades do Sul e do Sudeste do País apresentaram taxas mais altas de prevalência. Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre possuem as maiores taxas de prevalência do país entre as mulheres.
No que se refere ao consumo geral, dados mostraram que o uso de derivados do tabaco caiu no Brasil. Na década de noventa, o consumo legal permaneceu estável, em torno de 850 cigarros por adulto ao ano. O comércio ilegal de cigarros responde por aproximadamente 30% do consumo total no Brasil. Enquanto que o consumo legal de cigarros caiu desde 1986, o ilegal aumentou entre 1992 e 1998, chegando a 500 cigarros por adulto, para em seguida cair, até alcançar uma média anual de 310 cigarros por adulto em anos mais recentes. As tendências do consumo legal de cigarros durante os anos noventa e na década atual não são totalmente explicadas pelos fatores tradicionais, como os preços reais dos cigarros e a renda.
Os gastos com tabaco e com cigarros no país caíram entre 1996 e 2003, como proporção dos gastos totais, sendo que as evidências oriundas dos países em desenvolvimento indicam que a proporção de gastos destinada ao tabaco é maior entre os grupos de baixa renda. No Brasil, os grupos mais pobres também dedicam uma proporção maior da sua renda ao tabaco, em comparação com os grupos de renda superior. Além disso, as taxas de prevalência brasileiras são inferiores às verificadas nos países vizinhos, o que pode ser o resultado da política de controle do tabagismo implementada no país durante os anos noventa.
A pesquisa aponta que hoje em dia, depois que o impacto das intervenções para o controle do tabagismo foi sentido em todos esses países, o Brasil continua a consumir menos cigarros per capta que todos os outros países, com exceção do Reino Unido. O estudo analisou as tendências na mortalidade por câncer de pulmão e os custos de saúde causados pelas doenças relacionadas ao fumo. As taxas de câncer de pulmão entre os homens caíram no Brasil, mas esse resultado é anulado parcialmente pelo fato de que as mesmas taxas subiram entre as mulheres. Isso reforça a tese já colocada pela pesquisadora de que a política nacional para o controle do tabaco vem estimulando a cessação entre os homens, mas entre as mulheres, a cessação é um fato raro. O que sugere a necessidade de esforços para contrapor a estratégia da indústria do fumo voltada às mulheres jovens, através do uso mais agressivo de instrumentos relacionados aos preços e da contrapropaganda.
Sobre as internações relacionadas ao tabaco, o estudo mostra que eles são responsáveis por uma parte importante do número total de internações e aumentaram de forma significativa durante o período estudado. Segundo a pesquisa, os custos com essas hospitalizações são significativos – R$1,1 bilhão – e corresponderam a 8% dos custos hospitalares para adultos com mais de 35 anos. O estudo constatou que os custos médios de internações causadas por algumas das doenças relacionadas ao fumo mostravam-se estáveis ou inferiores durante o período, o que vem sugerir que estejam sendo adotados procedimentos menos dispendiosos ou que os preços não tenham sido atualizados para cobrir a inflação.
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