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Evento discute possíveis causas do encalhe de cetáceos

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Publicado em:15/03/2012

Em entrevista ao jornal O Globo de 13 de março, o pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) Salvatore Siciliano comentou a situação do encalhe de cetáceos nas praias brasileiras. A reportagem aborda o encontro promovido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que reúne 45 especialistas de todo o Brasil para discutir um protocolo para casos de encalhes e definir linhas de pesquisa para estudar as causas.

Golfinhos encalhados terão plano de emergência

Evento discutirá cetáceos encalhados, problema cada vez mais comum no Brasil. Ruído no mar seria causa
Cláudio Motta


Quando cerca de 30 golfinhos-comuns-de-rostro-longo (Delphinus capensis) encalharam em Arraial do Cabo, no último dia 5, banhistas foram rápidos o suficiente para salvar todos os animais em menos de quatro minutos. Porém, em desespero, puxaram os cetáceos pela cauda, e, assim, poderiam ter causado a morte deles. Considerado muito raro por especialistas, o acontecimento foi filmado e já tem mais de 2,5 milhões de acessos na internet. Para lidar com situações como essa, cada vez mais comuns, Recife sedia esta semana um encontro de especialistas brasileiros em cetáceos.

Promovido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o evento reúne 45 especialistas de todo o Brasil. Até sexta-feira, eles vão criar um manual que listará recomendações e telefones de instituições especializadas.

Há 35 espécies de golfinhos na costa brasileira e oito de baleias verdadeiras, além do cachalote e da orca, de acordo com Fábia Luna, coordenadora do Centro Nacional de Mamíferos Aquáticos do ICMBio. O encalhe varia entre cinquenta a cem animais por ano, considerando todos os cetáceos. Entre os mais ameaçados, a toninha (Pontoporia blainvillei) chama a atenção. Tímida, misteriosa e rara, não se aventura em águas profundas. E acaba sendo pega acidentalmente em grandes redes de pesca.

Toninha, típica do Rio, é muito vulnerável

Com algumas populações exclusivas no Rio, a toninha é um dos cetáceos mais ameaçados do mundo. Ela é particularmente sensível ao barulho no mar, causado por embarcações. Atualmente, a poluição sonora nos mares é apontada como uma das causas mais prováveis de encalhe desses animais. Eles se comunicam por sonar e ficariam desorientados com o barulho de navios, portos e plataformas de petróleo.

– No Brasil, há mais espécies de golfinhos do que de baleias. Além disso, os golfinhos são bem mais costeiros e mais fáceis de serem avistados – diz Fábia. – Vamos estabelecer um protocolo de atendimento para encalhe de grandes cetáceos. Quando uma baleia fica presa no litoral do Brasil, imensa, as pessoas ficam sem saber o que fazer. Isso acontece com uma frequência que não pode ser desprezada.

Em princípio, não estava prevista a discussão de encalhes de golfinhos. Mas o caso de Arraial do Cabo forçou a entrada dos pequenos cetáceos na pauta.

Além do protocolo para casos de encalhes, a Oficina para Atendimento de Encalhes de Grandes Cetáceos deverá resultar na criação de um número de telefone gratuito para que os interessados possam chamar os especialistas.

A recomendação principal é cercar a área e chamar as autoridades competentes, quando há algum encalhe. Os especialistas vão fazer exames e decidir se é necessário dar algum tipo de medicação. É preciso manter o cetáceo protegido do sol e úmido. É fundamental não tentar empurrar o animal, que pode morrer com alguma lesão provocada pelas pessoas que prestam socorro. Além disso, não é prudente ficar perto demais. Caso uma baleia consiga se desencalhar, pode esmagar quem estiver perto.

– Também é importante proteger o animal. Algumas pessoas querem pegar lembranças, arrancando alguma parte do cetáceo. Já encontramos cachalotes banguelas, seus dentes foram arrancados como uma recordação – conta Fábia.

Especialista em fauna marinha, Salvatore Siciliano, pesquisador da Fiocruz, define as situação de encalhe de cetáceos nas praias brasileiras como um “Deus nos acuda”.

– Há muito palpite, muitos órgãos se sobrepondo. Existe uma rede nacional de instituições, que devem ser mobilizadas quando há o encalhe – explica Siciliano. – Na Região dos Lagos, o responsável é o Grupo de Estudos de Mamíferos e Aves Marinhas da Região dos Lagos (Gemm-Lagos), do qual faço parte.

Especialistas em Recife também vão discutir linhas de pesquisa para investigar encalhes: como identificar suas causas e quais são os parâmetros de coletas de dados que devem ser seguidos.

– Vamos estudar as causas da morte dos golfinhos em Arraial do Cabo e discutir isso em Recife – informa Siciliano. – Pretendemos apresentar os resultados em junho no Panamá, na reunião anual do comitê científico da Comissão Baleeira Internacional.


Fonte: O Globo
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