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Mamografia: pesquisa aponta iniquidades

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Publicado em:11/10/2011

“A renda familiar per capita é um dos importantes indicadores de iniquidade na realização de mamografia”, afirmou a pesquisadora do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos da ENSP, Dora Chor, primeira autora do artigo ‘Desigualdade socioeconômica afeta a chance de realizar mamografia no Brasil’. Publicado no site da Conferência Mundial sobre Determinantes da Saúde, o texto apresenta dados baseados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2008), envolvendo cerca de 11 milhões de mulheres de 40 anos ou mais. Segundo Dora, o objetivo desse artigo foi verificar se os indicadores socioeconômicos conseguiriam explicar as diferentes prevalências de mamografia em cada uma das regiões metropolitanas estudadas no país. Confira aqui o texto na íntegra.

De acordo com Dora, nas regiões analisadas, diferentes dados foram encontrados no que se refere à relação entre a proporção de mulheres que realizaram mamografia e escolaridade, e entre mulheres que se autoclassificaram como pardas, pretas ou indígenas – que aparecem em desvantagem em relação às brancas e amarelas. Esse artigo foi escrito em parceria com as também pesquisadoras Marilia Sá Carvalho, do Programa de Computação Científica da Fiocruz e integrante do Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos da ENSP; Evangelina Xavier Gouveia, do Grupo de Redes e Informação em Saúde da Fiocruz; Enirtes Caetano Prates Melo, do Grupo de Redes e Informação em Saúde da Fiocruz e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro; e Rejane Sobrino Pinheiro, do Programa de Pós-Graduação de Epidemiologia em Saúde Pública da ENSP e membro do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da UFRJ.

O artigo aponta que a renda familiar per capita é um importante indicador de iniquidade na realização de mamografia. “No conjunto das regiões metropolitanas há nítido gradiente de aumento da prevalência de mamografia de acordo com o aumento da renda. Por exemplo, apenas 62% das mulheres cuja renda era de cerca de R$100 realizaram o exame. Já entre as mulheres com renda entre R$400 e R$800 essa proporção foi de 79,5%. Entre aquelas de maior renda, foi de 94%”.

As autoras apontam ainda que, em todas as regiões metropolitanas estudadas, a relação direta entre renda e prevalência de mamografia se repete. Ao compará-las, porém, aparecem enormes diferenças. “Em São Paulo, por exemplo, 76% e 96% das mulheres na menor e na maior faixa de renda, respectivamente, realizaram o exame. Já em Fortaleza, essa discrepância foi de 39% e 91%, respectivamente. Portanto, ter menor renda per capita dificulta a realização de mamografia muito mais em Fortaleza, Belém e Recife do que em São Paulo, Curitiba e Salvador”.

Já sobre as anos de estudo e a proporção de mulheres que realizaram mamografia, foi encontrado o mesmo tipo de relação. “À medida que aumenta a escolaridade, aumenta também a prevalência de mamografia. No conjunto das regiões metropolitanas estudadas, 65% das mulheres com menos de 1 ano de estudo fizeram mamografia, enquanto essa proporção foi de 94% entre aquelas com 15 anos de estudo ou mais. No que se refere a mulheres que se autoclassificaram como pardas, pretas ou indígenas, elas estão em desvantagem em relação às brancas e amarelas. Em Fortaleza, por exemplo, as proporções do exame foram 49% entre as pretas, 58% entre as pardas, 50% entre as indígenas e 71% entre as brancas. Em São Paulo, foram 81% entre as pretas, 84% entre as pardas, 91% entre as amarelas e 88% entre as brancas”.

“Marcas das desigualdades sociais e regionais persistem na realização da mamografia no Brasil. A prevalência do rastreamento é maior para mulheres de maior renda, de maior escolaridade, brancas, ou que moram em áreas de melhor padrão socioeconômico, em consonância com a literatura. Esses aspectos refletem mais do que apenas características individuais ou de distribuição heterogênea da população e dos serviços de saúde no território. Indicam desigualdades entre atributos do lugar e o uso e a qualidade dos serviços de saúde, passíveis de serem modificados por políticas sociais, incluindo-se as de saúde”. Dora complementou dizendo que os resultados encontrados no estudo confirmam a existência de “vários Brasis”, nos quais análises segundo renda, escolaridade ou cor/raça não revelam o mesmo quadro. “A compreensão detalhada dos determinantes sociais da prevalência de importantes procedimentos, como a mamografia, contribuirá para o sucesso das políticas de saúde”, disse ela.


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