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Simpósio defende formação em cuidados paliativos: ‘não dá mais para compactuar com tanta gente morrendo mal’

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Publicado em:06/05/2024
Por João Guilherme Tuasco* 

Estigma, falta de políticas públicas, problemas de integração entre as equipes de saúde e comunicação violenta são algumas das dificuldades que profissionais dos Cuidados Paliativos enfrentam no dia a dia. Os desafios foram apresentados na abertura do II Simpósio Cuidados Paliativos na APS: Educação em Cuidados Paliativos para o SUS, que contou com mais de 200 participantes de todo Brasil. Realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) nesta terça-feira (30/4), o evento discutiu a importância das ações de ensino para uma mudança de atitude no serviço paliativo.  

Especialistas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), do Hospital Conceição no Rio Grande do Sul, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade São João Del-Rei (UFSJ), Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da ENSP estiveram presentes no simpósio e falaram sobre a atuação em Cuidados Paliativos, que ainda é estigmatizada e vista de maneira reducionista por profissionais e gestores. Servidor do Instituto Nacional de Câncer (Inca) e um dos coordenadores do curso de Especialização em Cuidados Paliativos com ênfase na Atenção Primária da ENSP, Ernani Mendes defendeu o reconhecimento da importância da área na saúde e uma mudança de olhar. “A gente precisa encarar a questão como pública, um cuidado público. Todos merecem ser atendidos no final da vida. Não dá mais para compactuar com tanta gente morrendo mal nesse país”.  

A enfermeira Nára Azevedo, do Hospital Conceição, enfatizou a necessidade de uma educação contínua para a expansão da área. “É importante que a gente fortaleça o cuidado paliativo falando sobre ele e, principalmente, ensinando. Tenho tentado colocar, onde for possível, o cuidado paliativo, seja ele a nível de especialização, em simples conversa à beira-leito ou no posto de enfermagem em dez minutos com os técnicos”, pontuou. Já Ernani destacou o respeito ao sofrimento do paciente por meio das palavras. “Cuidado com o sincericídio, a palavra que mata a esperança do doente. Não temos o direito de matar a esperança de ninguém”, afirmou o professor. 

Na ENSP, o Curso de Especialização em Cuidados Paliativos com Ênfase na Atenção Primária foi criado há cinco anos e já formou 68 especialistas de todas as regiões do país. A formação é híbrida com 410 horas de aulas e imersão no Rio de Janeiro. Ao final, o aluno cria uma proposta de intervenção, em sua maioria ligada à educação sobre cuidados paliativos. O edital para próxima turma, em 2025, será lançado no segundo semestre deste ano. Ainda em 2024, será lançado o e-book “Desatando os nós: relatos de experiências em cuidados paliativos como contribuição para a Atenção Primária à Saúde”, organizado pelos coordenadores da especialização e Ana Paula Bragança. 

A formação retoma a ligação do cuidado com a família, essencial durante a trajetória de vida do paciente. “Ao longo do tempo, esse tecnicismo foi afastando as pessoas que estavam em período de morte e foi colocando-as isoladas dentro de hospitais. A morte saiu da família. No passado as pessoas morriam em casa”, afirma Valéria Lino, coordenadora da especialização junto ao professor Ernani. No Hospital Conceição, que integra o Sistema Único de Saúde, os pacientes podem retornar às suas residências com acompanhamento da equipe hospitalar e da Atenção Primária local. Os assistidos vão de ambulância até suas casas e, depois de dois dias, caso necessário, podem retornar à unidade com seu leito garantido. 

A integração com a sociedade também é presente nas ações da Associação Favela Compassiva, que articula o cuidado paliativo entre a população local, profissionais de saúde e a extensão universitária para promover um espaço mais saudável. A professora da UFRJ Maria Gefé, que integra a equipe, comentou essa união no evento. “A comunidade compassiva soma a um cuidado que já existe no território, potencializa e dá ferramentas para essa comunidade cuidar da própria comunidade”, pontua. 

No fim da manhã, a coordenadora de Ensino do Inca, Alessandra Siqueira, afirmou que o Instituto também tem buscado ir além de seus muros e educar mais profissionais. “Os cuidados paliativos entraram como prioridade no nosso Instituto e a gente tem tentado ampliar a formação”, afirmou. Hoje, o Inca recebe 120 alunos para o curso de prevenção do câncer, mas quer expandir para cinco mil alunos. Além disso, Alessandra destacou a importância do cuidado humanizado aliado às evidências científicas para reduzir o sofrimento. “Quando você recebe uma pessoa na sua frente e não é capaz de amenizar a dor dela, isso é falta de afeto”.  

Em breve, a íntegra do evento estará disponível no canal do Youtube da ENSP.

*Sob supervisão da jornalista Barbara Souza

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