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Dia da Consciência Negra: e-book apresenta dados e debates sobre a saúde da população negra na pandemia

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Publicado em:19/11/2021

A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) lançou no mês da consciência negra o e-book População Negra e Covid-19. A obra reúne 13 artigos publicados na imprensa brasileira ao longo de um ano. Os artigos acompanharam a trajetória da pandemia entre julho de 2020 e setembro de 2021 e apresentam estudos e análises sobre a situação da pandemia na população negra. Para falar sobre a publicação digital e a importância do Dia da Consciência Negra e de Zumbi dos Palmares, comemorado em 20 de novembro, o ‘Informe ENSP’ conversou com os membros da coordenação do GT Racismo e Saúde da Abrasco, Hilton Pereira da Silva e Diana Anunciação. 

A publicação também é resultado do apoio do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA Brasil) à Abrasco. A parceria entre as instituições começou em 2020 e teve como objetivo produzir insumos técnico-científicos a partir de estudos e análises sobre a situação da pandemia da Covid-19 na população negra, além de ampliar o intercâmbio com pesquisadores para a utilização de bancos de dados nacionais.


“Os artigos acompanharam a trajetória da pandemia. Para travar o debate público, fazer a denúncia e dar visibilidade à produção de uma ciência negra, os textos foram inicialmente divulgados em diversos veículos da imprensa brasileira, como ‘O Globo’, ‘Folha de S. Paulo’, ‘UOL’, ‘Carta Capital’, ‘Nexo Jornal’, ‘Alma Preta’, e posteriormente republicados no site da Abrasco e UNFPA/Brasil”, explicou Hilton Pereira da Silva. 

“As produções - de autoria de vários membros do GT - têm tido papel crucial na visibilidade do racismo como um dos principais determinantes sociais de iniquidades em saúde que tem levado a população negra brasileira ao maior adoecimento e mortalidade por causas evitáveis como é o caso da Covid-19”, destacaram os autores dos artigos.  

Reunidos, os textos informam sobre os problemas estruturais da sociedade brasileira, abordando o racismo, a exclusão e a falta de acesso da população negra a serviços básicos, o que a projeta para o topo dos piores índices da pandemia no que tange ao número de vacinados e infectados e, consequentemente, no total de óbitos. Falam também da população negra na perspectiva dos direitos à cidadania, à saúde mental, ao envelhecimento saudável, à representatividade feminina e no combate à violência.

“Este volume, histórico, resulta de um esforço colaborativo entre a Associação e esse importante Fundo da ONU para que possamos avançar no compromisso de discutir a saúde a partir de perspectivas de raça, cor e etnia. Dessa forma, a Abrasco cumpre seu papel de chamar a atenção para a questão da vulnerabilidade de várias populações, sobretudo da população negra, particularmente em relação às políticas públicas de saúde, e para que a população negra possa ter acesso a um conjunto sólido de informações científicas para o seu empoderamento no campo da saúde coletiva”, ressaltou Silva.


+ Leia mais sobre o lançamento da publicação aqui


“Quer entender o presente? Preste atenção no passado.” 

Para falar sobre a importância do Dia da Consciência Negra e de Zumbi dos Palmares, celebrado em 20 de novembro, Diana Anunciação, também membro do GT Racismo e Saúde da Abrasco, destacou um provérbio africano. “Quer entender o presente? Preste atenção no passado”. 

Segundo ela, “pensar no 20 de novembro é fazer um resgate de todo o processo histórico e de como ele foi concebido, para que no momento atual possamos entender a importância da data, muitas vezes estigmatizada e defenestrada por uma parcela da população que acredita que não deveria existir o Dia da Consciência Negra, mas sim o Dia da Consciência Humana, já que todos somos humanos iguais. Fazer essa digressão com o passado para entender como se deu a luta dos movimentos sociais e do povo negro, é dar mais clareza ao que é o Dia da Consciência Negra e da importância desse dia pra população negra brasileira”, destacou.

A ativista negra contextualizou que o dia 20 de novembro surgiu por meio das lutas dos movimentos sociais estabelecidos na década de 1970, principalmente contra o racismo, sobretudo como um contraponto a data 13 de maio, representado como o dia da abolição da escravatura, concebido como uma homenagem a Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel, e visto como o grande momento de abolição da escravatura e de libertação do povo negro.

“No entanto, essa é uma história contada a partir dos colonizadores, contada pelos opressores, contada pelo povo branco a partir da sua supremacia branca e branquitude. Neste contexto, o estabelecimento do 20 de novembro faz contraponto a essa noção e traz para o bojo da discussão a voz do povo negro e o seu olhar sobre esse processo. Além disso, traz também para discussão a importância do povo negro em situação de diáspora forçada no Brasil e em situação de escravidão e sua importância para a luta pela libertação. A data foi escolhida porque ela homenageia Zumbi dos Palmares e marca o momento da sua morte”, detalhou ela. 

Para Diana, o Dia da Consciência Negra traz à tona toda expressão de luta cotidiana da população negra, que se evidência no mês de novembro com diversas atividades que buscam potencializar as discussões sobre os marcadores sociais como raça; gênero; território; e situação econômica, social, política e cultural da população negra, além do impacto sobre as iniquidades em saúde neste sentido. 

“Os dados revelam como a população negra vivencia um contexto de grande vulnerabilização. Os brasileiros negros vivem, em média, 73 anos, três anos a menos que os brasileiros brancos, de acordo com a PNAD de 2017. Pouco mais de 12 milhões de brasileiros, sendo a maioria de negros, vivem em localidades periféricas, não têm acesso adequado à água e ao saneamento básico, ou seja, vivem em condições de insalubridade. A diferença salarial no Brasil é demarcada por uma questão racial e de gênero, alertou ela. 

Ainda de acordo com a socióloga, as mulheres brancas, por exemplo, ganham 74% a mais que os homens negros. O Relatório das Nações Unidas de 2019 aponta que a desigualdade econômica no Brasil indica que 10% da população mais rica concentra 55% do total da renda. "Outra questão que podemos pontuar está fundamentada nos traços da violência e do genocídio da população negra. A população negra brasileira jovem é a que mais morre vítima dos Crimes Violentos Letais e Intencionais, e a que mais morre nas abordagens policiais”, lamentou. Por fim, Anunciação ressaltou que esses dados apontam a importância e a necessidade de existir um dia para que os negros tomem consciência da situação de opressão e vulnerabilidade que estão inseridos. 

As ações na Fiocruz

Em celebração ao Dia da Consciência Negra, a Fiocruz, por meio de seu Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça, promove no dia 23/11, das 10h às 12h, o evento Trajetórias Negras na Fiocruz, que chega a sua sétima edição. O encontro on-line, que terá transmissão pela VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz, e tem como objetivo reunir trabalhadoras e trabalhadores negros da instituição para compartilharem vivências profissionais e pessoais, refletindo ao mesmo tempo sobre o racismo estrutural e as desigualdades raciais enfrentadas cotidianamente.


O Coletivo Negro Fiocruz está promovendo a campanha Novembro Masculinidades Saúde do Homem. “A saúde do homem negro não se restringe ao câncer de próstata”. Os negros e pós-graduandos da Fiocruz criaram uma programação especial para este “novembro azul”. Serão abordados vários temas considerados importantes, alertando para saúde do homem negro, dado o contexto histórico, político, econômico e social determinado ao homem negro. O câncer de próstata, por exemplo, se desenvolve com maior frequência e gravidade em homens negros, com cerca de 60% dos casos quando comparado aos brancos.


*Com informações da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).

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