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Dia Mundial do Diabetes: epidemiologista do ELSA-Brasil fala sobre a doença no contexto da pandemia

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Publicado em:12/11/2021

O dia 14 de novembro é lembrado como o Dia Mundial do Diabetes. A data foi estabelecida em 1991, pela Federação Internacional do Diabetes (IDF), com apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS). A ideia é reconhecer publicamente a crescente ameaça que a epidemia da doença causa, não apenas pelos prejuízos à saúde das pessoas acometidas, mas também à economia global.

O 'Informe ENSP' conversou com a epidemiologista do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa/Brasil), coordenadora do Centro de Investigação Elsa do Rio Grande do Sul e professora do PPG-Epidemiologia da UFRGS, Maria Inês Schmidt, sobre o tema. 

O Elsa-Brasil é uma coorte multicêntrica pioneira na investigação de doenças crônicas não transmissíveis formada por seis instituições públicas de ensino e pesquisa de diferentes estados brasileiros. Tem foco principal no acompanhamento e na progressão do diabetes e das doenças cardiovasculares, e em seus fatores de risco biológicos, comportamentais, ambientais, ocupacionais e sociais. Sua missão é estudar os determinantes e a incidência das doenças cardiovasculares e do diabetes no contexto brasileiro. 

Em 2019, o Elsa se integrou ao Programa de Políticas Públicas e Modelos de Atenção e Gestão à Saúde (PMA). O Programa é uma das ações estratégicas da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz. Seus objetivos são fomentar, induzir e gerir redes de pesquisa que integrem o saber científico às práticas de saúde, a fim de contribuir para a melhoria do Sistema Único de Saúde (SUS). Pesquisadores e docentes da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) participam do Estudo Longitudinal. 

Diabetes e Covid-19

Segundo Maria Inês Schmidt, no contexto da pandemia, a SARS-Cov2 criou obstáculos para o cuidado ao diabetes, pois a doença, com suas complicações, representa fator importante de agravamento da Covid-19. Ela alertou que os sobreviventes terão consequências e os desafios criados pela pandemia não se esgotarão em poucos anos. 

"A primeira razão para ponderar é que os impactos sociais e econômicos gerados pela pandemia dificultarão a implementação das medidas necessárias. Outra razão é a provável sobrecarga dos serviços de saúde, que terão de acomodar nas agendas também aqueles que sofrerão os efeitos tardios da Covid-19. Outra ainda é que efeitos diretos do SARS-Cov2 no organismo podem levar ao diabetes, gerando mais casos a uma epidemia cujo crescimento já era esperado na próxima década, mesmo antes da pandemia”, detalhou a médica. 


O Dia Mundial do Diabetes em 2021 - “Acesso ao cuidado: se não agora, quando?”

O Dia Mundial do Diabetes foi estabelecido em 1991 pela IDF com apoio da OMS. Desde 2006 a data foi oficializada também pela Organização das Nações Unidas (ONU). Cada ano é considerado um tema para reflexão. Em 2021 o tema é “Acesso ao cuidado: se não agora, quando?".

De acordo com Inês, o tema remete à celebração dos 100 anos desde a descoberta da insulina em 1921, a partir de experimentos conduzidos por Banting, Best, Collip e Macleod. Ainda segundo a médica, a administração da insulina em humanos iniciou em janeiro de 1922 e seu sucesso foi reconhecido em poucos meses. Ao realizar a patente a $1,00 pela Universidade de Toronto, Banting frisou 'a insulina não me pertence ela pertence ao mundo'. 

"É irônico constatar que, ao longo dos anos, o custo da insulina tem sido uma das maiores barreiras para seu acesso. Desde o início do SUS, o Brasil disponibiliza insulina a todos que dela precisam e nosso grupo mostrou queda importante na mortalidade por complicações agudas do diabetes, notadamente resultantes de descompensação hiperglicêmica, uma causa de mortalidade plenamente evitável, especialmente entre os mais jovens", citou ela. 

Sobre o diabetes e suas consequências 

Há dois principais tipos de diabetes, o tipo 1 e tipo 2. O diabetes tipo 2 constitui pouco mais de 90% da totalidade dos casos. A insulina é mandatória para quem tem diabetes tipo 1, mas para quem tem diabetes tipo 2 ela não é a primeira escolha.

"Em geral o diabetes tipo 1 inicia em pessoas jovens, com menos de 30 anos. Já diabetes tipo 2, em sua maioria, inicia em idades mais avançadas, mas casos em adolescentes e mesmo em crianças vêm surgindo nas últimas décadas, provavelmente em decorrência da pandemia da obesidade", explicou Inês. Além da idade avançada e da obesidade, outros fatores são importantes para o desenvolvimento do diabetes tipo 2, entre eles, a poluição atmosférica. 

"O aumento da prevalência de diabetes vem ocorrendo ao redor do mundo e o Brasil não é exceção. Segundo dados de subamostra da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), a prevalência de diabetes em adultos brasileiros em 2013 era de 9,4%. Em cerca de 20% o diabetes foi detectado por uma elevação da hemoglobina glicada (maior que 6,5%) e essas pessoas desconheciam ter diabetes". 

De acordo com Inês, a PNS de 2019 não coletou dados laboratoriais para essa reavaliação, mas pela informação autorreferida, estima-se que a prevalência de casos diagnosticados com diabetes tenha aumentado de 6,2% em 2013, para 7,7% em 2019. 

"Isso pode ter ocorrido por uma combinação de fatores que elevam a incidência de diabetes na população, por exemplo, o envelhecimento populacional e a epidemia de obesidade. O aumento pode ter ocorrido também por maior detecção da doença e pelo maior acesso ao diagnóstico, resultante de maior cobertura da Atenção Primária", explicou ela.

A endocrinologista alertou ainda que o aumento da prevalência de diabetes tipo 2 no Brasil e no mundo preocupa autoridades em saúde. "A carga de doença gerada pelas complicações do diabetes e pelas dificuldades de seu manejo são imensas e tendem a crescer porque as pessoas viverão mais tempo com o diabetes e os tratamentos terão maior custo", advertiu Inês.  



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