Busca do site
menu

Divulga ENSP: Violência digital é tema de pesquisa da Escola

ícone facebook
Publicado em:24/09/2021
O Divulga ENSP está de volta com mais um estudo da Escola. Desta vez, o projeto traz ao conhecimento uma pesquisa do Departamento de Estudos Sobre Violência e Saúde Jorge Careli (Claves), em parceria com o Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), que aborda a violência digital. Iniciada em 2018, a pesquisa “Violência na Comunicação Digital: análise dos discursos e práticas disseminadas na internet sobre homofobia, autoperpetração de violências, cyberdating abuse e cyberbullying” mostra, agora, seus resultados e produtos desse estudo no Divulga ENSP.

Com o crescimento abrupto da internet nas últimas décadas e o grande advento das redes sociais, que passaram a ser acessíveis na palma da mão por meio de celulares e tablet’s, chegamos ao que muitos pesquisadores intitulam de a “Era da Informação”. Comércios on-line, negócios e exposição de fotos e vídeos pessoais circulam na internet, além de crimes financeiros on-line e formas de comunicação violentas, como as agressões morais e psicológicas, críticas aos atributos físicos ou orientação sexual e identidade de gênero, ofensas raciais e religiosas. Dentro desse contexto, o cyberbullying é um tipo de violência frequente e, no Brasil, é definido pela Lei 13.185 como forma de intimidação sistemática na mídia eletrônica e digital, em que indivíduos ou grupos comunicam repetidamente mensagens hostis ou agressivas, destinadas a infligir dano ou desconforto aos outros, causando sofrimento às vítimas.

O Departamento de Estudos sobre Violência e Saúde Jorge Careli (Claves), da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) e o Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) desenvolveram, em 2018, uma pesquisa intitulada "Violência na Comunicação Digital: análise dos discursos e práticas disseminadas na internet sobre homofobia, autoperpetração de violências, cyberdating abuse e cyberbullying", cujo objetivo foi conhecer as percepções e as experiências de jovens de distintos estratos sociais e orientações afetivo-sexuais sobre tais violências. O estudo envolveu 555 alunos e alunas da 2ª série do ensino médio de escolas públicas e particulares de Vitória (ES) e Campo Grande (MS). 

A pesquisa foi coordenada pela pesquisadora do Claves,  Kathie Njaine, em parceria com a pesquisadora do IFF, Suely Ferreira Deslandes. Participaram do estudo outros pesquisadores do Claves, alunos de mestrado e doutorado e alunos Pibic. Comunidades virtuais, questionários e grupos focais com alunos das duas capitais foram analisados para compreender a prática de violência digital, tais como  LGBTfobia, cyberbullying, automutilação nas redes sociais e cyberdating abuse. 

Os resultados mostram as discriminações com base na raça/cor de pele, orientação sexual e identidade de gênero como os motivos mais relevantes para o cyberbullying. De modo geral, os alunos de escolas públicas e particulares foram muito críticos e consideraram que o tema do racismo deve ser abordado nas escolas, em vez de enquadrá-lo somente como bullying e cyberbullying. Além disso, associaram tanto o bullying como o cyberbullying às questões socioculturais como intolerância, machismo, homofobia, racismo e xenofobia. Em relação às automutilações, 40% dos estudantes relataram já ter acessado sites com conteúdo sobre o tema, mas a maioria afirmou não ter curtido, compartilhado ou comentado tais postagens; e cerca de 90% afirmaram ter algum colega, amigo ou conhecido que já tenha se automutilado. É uma forma que muitos adolescentes encontram para lidar com suas emoções, despertadas, muitas vezes, pelo fim de relacionamentos amorosos, conflitos familiares, bullying, dentre outras questões.

Os preconceitos e discriminações contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros foram relatados por alunos e alunas que sofreram esse tipo de violência, causando muito sofrimento psicológico. Comentaram também as experiências de amigos e amigas que foram vítimas da LGBTIfobia na ambiência digital. Essas práticas ocorrem principalmente nas redes sociais criadas pelos próprios escolares. No entanto, os depoimentos dos adolescentes também mostraram a dificuldade nos relacionamentos familiares na aceitação de jovens LGBTI+. Apesar do baixo percentual, vale mencionar que 4,4% indicaram que já excluíram amizade ou deixaram de seguir algum amigo por conta deste ser gay ou lésbica. Esse tema ainda é pouco debatido nas escolas e encoberto de preconceitos que, na visão dos alunos, contribui para alimentar a violência contra esse grupo nas redes sociais digitais.

O cyberdating abuse, que é uma forma de violência entre namorados na ambiência digital e foi abordada pelos alunos e alunas pelas práticas do controle e monitoramento digital entre parceiro por meio de aplicativos,  e da pornografia de vingança, que são envios de mensagens, fotos e vídeos íntimos (sexting) praticados pela internet.  As meninas continuam a ser as que mais relatam o fenômeno do cyberdating abuse. Ainda, 15,2% apontaram já ter interagido com algum adulto que se passou por adolescente, demonstrando que o anonimato propicia também esse tipo de risco nos relacionamentos afetivos dos jovens. 

O estudo foi bem acolhido na comunidade escolar, e, como sugestão, os alunos consideraram a importância desses temas serem tratados nas escolas tantos pelos próprios jovens, como pelos educadores e famílias. Também foi relevante a incorporação desses temas nos serviços de saúde como forma de prevenir violências no ambiente digital.


Interagindo com a sociedade 

Para propagar esses resultados e alertar os jovens, seus pais, responsáveis e profissionais, a pesquisa gerou artigos científicos, cards educativos para jovens e três cartilhas informativas para a comunicação e disseminação dos temas na sociedade: Cyberbullying na adolescência; Violência Contra Adolescentes LGBTI+ nas escolas e redes sociais digitais; e Automutilação e Comportamento Suicida. Cada cartilha tem os dados compilados da pesquisa, com informações sobre cada tipo de violência, onde mais se perpetuam e como afeta a população de jovens. A ideia dessas cartilhas é a divulgação para escolas e em redes sociais, para alertar sobre esses temas.













Bate-papo sobre o assunto

Para complementar o assunto da violência na comunicação digital, os pesquisadores gravaram podcats em que abordam esses temas da pesquisa. Os episódios têm como característica uma conversa leve, porém esclarecedora. Intitulado “Violência na rede”, o programa tem três episódios gravados. O primeiro episódio aborda o tema Automutilação e Suicídio, com uma conversa com a doutoranda Aline Gonçalves e o mestrando Pedro Henrique Tavares. O outro episódio trata do tema do Cyberbullying com a doutoranda Taiza Ramos. E o último episódio da série aborda o tema LGBTIfobia: adolescente e internet, que tem como convidados o doutor em saúde pública Adriano da Silva e a graduanda em letras e bolsista Pibic do Claves, Mariana Thorpe.

O projeto continua em andamento, com novas produções como artigos e um sumário executivo, que serão atualizados pelo Divulga ENSP. 







EQUIPE

Coordenação Geral: Kathie Njaine (Claves/ENSP/Fiocruz)
Coordenação: Suely Ferreira Deslandes (IFF/Fiocruz)
Coordenação Executiva: Queiti Batista Moreira Oliveira (Claves/ENSP/Fiocruz)
Pesquisadores(as):  Liana W Pinto ; Joviana Quintes Avanci ; Simone G. Assis; Edinilsa Ramos de Souza; Fernanda Mendes ; Cosme Marcelo Passos da Silva; Thiago Pires; Adriano da Silva
Alunos(as):  Aline Gonçalves (Doutorado ENSP/Fiocruz; Roberta Matassoli Duran Flach (Doutorado IFF/Fiocruz;  Taíza R.C Ferreira (); Doutorado IFF/Fiocruz) ; Giovana Martins Maximiano (Pibic/Fiocruz); Mariana Monteiro Thorpe Barbosa (Pibic/Fiocruz);
Digitação: Verônica Pontes Gualhano Reiche 
Consultoria: Tiago Coutinho  
Pesquisadoras locais:  Marcia Naomi – Campo Grande/MS; Jeanine Pacheco – Vitória/ES 

Matéria escrita em parceira com pesquisadores do Claves.
Opiniões expressas na matéria refletem a opinião dos pesquisadores do Claves.


Seções Relacionadas:
Divulga ENSP

Nenhum comentário para: Divulga ENSP: Violência digital é tema de pesquisa da Escola