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Aluna da ENSP produz documentário sobre os crimes de mineração no Brasil

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Publicado em:14/07/2021

“É muita gente usando o nosso sofrimento para ganhar dinheiro". A fala que choca é de Marino D’ângelo Júnior, um dos moradores que teve a vida atingida pelo desastre da Barragem do Fundão, em Mariana. Assim como ele, diversas pessoas tiveram suas vidas modificadas por conta da tragédia que destruiu a cidade, perdas de parentes, de moradia e da dignidade. O caso, ocorrido há cindo anos, foi esquecido pela grande mídia e vem sofrendo denúncias de corrupção pela empresa Renova, responsável por indenizar os atingidos pelo rompimento. 

Mas, a doutoranda do Programa de Saúde Pública da ENSP, vinculada ao Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP), Denize Nogueira, deu voz para essa sociedade, atingida e esquecida pelo poder público, por meio do documentário Vidas Suspensas: Crimes da Mineração em processoO documentário teve como objetivo “construir uma narrativa que considerasse a complexidade dos rompimentos de barragens, com base na visão dos que foram atingidos por ela". 


Segundo a doutoranda, o documentário seguiu a proposta do edital, financiado pelo Capes, de Saúde Pública em Diálogos com a Sociedade, do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública ENSP/Fiocruz, dando voz a uma população que teve seus problemas esquecidos pela grande mídia. “É uma marca dos desastres, que vão se dissolvendo aos olhos da grande mídia. Eles repetem, todos os anos, a mesma coisa; parece que a vida está paralisada, suspensa. Eles tratam isso com uma certa naturalidade”, salientou Denize.  

A doutoranda tem como orientadora a pesquisadora do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP) Simone Oliveira. A pesquisadora, que tem diversas pesquisas na área de desastres, enalteceu o trabalho da aluna, voltado a não deixar essa sociedade, atingida pelas tragédias, esquecida. “Vimos a oportunidade de dar visibilidade a diversas fases que o rompimento causa ao território, tanto para os trabalhadores da saúde como para a região.”

Segundo a orientadora, "a pesquisa se desenvolve na ideia de compreender de que maneira os trabalhadores pensam sobre o trabalho modificado e as implicações na saúde deles, além da forma como eles atuam”.

O documentário contou com a colaboração do pesquisador do Estratégia Fiocruz para a Agenda de 2030 Sergio Portella.


Desastres, memória, atividade humana e saúde: os rompimentos de barragens da Vale S/A no estado de Minas Gerais em 2015 e 2019

Além desse trabalho, a pesquisadora Simone Oliveira coordena, junto com o pesquisador do Estratégia Fiocruz para a Agenda de 2030 Sergio Portellaum projeto no Cesteh que busca compreender a saúde dos trabalhadores diante de tragédias como essa. Intitulado “Desastres, memória, atividade humana e saúde: os rompimentos de barragens da Vale S/A no estado de Minas Gerais em 2015 e 2019”, o projeto tem como objetivo a compreensão das consequências para a saúde dos profissionais envolvidos e das populações atingidas pelos rompimentos das barragens e seus desdobramentos no território. 

A ideia é fazer um vídeo que, segundo a pesquisadora, tem o propósito de “dar visibilidade às vivências do território e ao sofrimento social (DAS, 2007) com base na compreensão das relações entre trabalho, saúde, memória e desastres nos rompimentos das barragens de Fundão (Mariana) e de Córrego do Feijão (Brumadinho), destacando os diferentes aspectos da relação entre conhecimento, gestão, comunidade e trabalho que condicionam os processos de vulnerabilização social.”

Atualmente, a pesquisa conta com quatro estudos em andamento. O documentário citado é um produto de pesquisa da doutoranda Denize Nogueira, que tem como foco compreender o trabalho em saúde em situação de emergências e desastres sob o ponto de vista da atividade, com a perspectiva de contribuir nas ações de Gestão e Redução dos Riscos de Desastres (“A saúde dos trabalhadores da saúde em contexto de emergência e desastres”).

Uma pesquisa de mestrado do aluno Hugo Gama analisa as relações de trabalho e saúde dos bombeiros que atuaram no desastre ocasionado pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão, baseada no ponto de vista da atividade (“Entre o ofício e a lama: uma análise da relação trabalho e saúde dos bombeiros que atuaram no desastre do rompimento da barragem em Córrego do Feijão/Brumadinho”).

O trabalho da Pibic Laura Luna Katona também está entre as pesquisas ativas. O trabalho trata de analisar o discurso dos atingidos pelo rompimento das barragens em contraposição aos discursos da grande mídia e oficiais das instituições, dando destaque ao material produzido pelo Jornal A Sirene, de autoria de ativistas e atingidos pelo rompimento da Samarco, tendo como marcadores as categorias trabalho, saúde, gênero e, ultimamente, a pandemia de Covid-19 (“A tragédia socioambiental do rompimento das barragens em Minas Gerais vista pelos olhos dos atingidos”).

E o trabalho de conclusão na Especialização Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade do Cesteh, da aluna Larissa Mapa, propõe investigar os processos de organização e mobilização protagonizados por mulheres em contexto de desastre socioambiental (“Vozes da resistência: a luta das mulheres atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão cinco anos após o maior crime socioambiental do Brasil”).

Além dos trabalhos ativos, dois trabalhos, defendidos no ano de 2019, também integram o projeto do vídeo da pesquisadora. O primeiro, da aluna Milena Maciel, intitulado: "Apoio psicossocial e promoção da saúde: caminhos para uma intervenção integral em contexto de desastre", e, o segundo, de Eduardo de Andrade Rezende, do mestrado Profissional em Vigilância em Saúde do Trabalhador, sobre "A relação trabalho – saúde na atividade de técnicos da defesa civil: um recorte do desastre socioambiental ocorrido em Mariana (MG)".

Para Simone Oliveira, a produção do vídeo se justifica pela integração de conhecimentos produzidos por essas pesquisas, visando dar maior dimensão à gravidade dos casos na questão da saúde pública. “Destaca-se a urgência de se produzir reflexões sobre a interrelação dos temas saúde, trabalho e ambiente, buscando dar visibilidade às diferentes dimensões presentes num desastre. Não só relatar o que aconteceu e por que aconteceu, mas também denunciar outros possíveis e previsíveis acidentes semelhantes pelas mais de 700 barragens de resíduos de mineração no país”, explicou Simone. 

O documentário “Vidas Suspensas: Crimes da Mineração em processo" está disponível no Canal do Youtube da ENSP. 






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