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Livro descreve o resgate dos acervos atingidos pelo incêndio no Museu Nacional

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Publicado em:19/04/2021

Como descrever os 500 dias de resgate dos acervos atingidos pelo incêndio ocorrido no Museu Nacional em dois de setembro de 2018? A arqueóloga e diretora pró-tempore do Sistema de Museus Acervos e Patrimônio da UFRJ, Cláudia Rodrigues-Carvalho, mestre e doutora pela ENSP, organizou o livro 500 dias de Resgate - Memória, coragem e imagem, que relata momentos incríveis e difíceis: “O encontro, no dia 03, dos primeiros  exemplares que sobreviveram ao incêndio, o meteorito de Bendegó e partes da Coleção Werner, uma das mais antigas do museu, nos trouxeram a esperança  de que outros componentes das coleções pudessem ser resgatados”.


No livro, ela descreve: Perplexidade diante do sinistro. Revolta diante da falta de sensibilidade e  cuidado com o acervo científico, histórico e a memória de nosso país. Desespero  diante das perdas incomensuráveis. Flashes de esperança ao ver os primeiros exemplares resgatados. Resignação  diante dos fatos. Perseverança diante  de todas as dificuldades. Resiliência apesar de cansados. Alegria ao perceber que nem tudo foi perdido. Sensação de  trabalho cumprido ao ver o tanto que  foi salvo. 


Ela também destacou o envolvimento de uma equipe diversa formada para atuar no resgate que colocou em risco sua segurança e saúde, “que não tinha obrigação de estar ali, não fazia parte das atribuições de seus cargos, o fez por acreditar que havia esperança, o fez pelo compromisso institucional, por amar o seu trabalho, por compreender a importância do patrimônio científico, por serem especiais, por verem além das cinzas, além dos  escombros”. 


História


Fundado por D. João VI, em 6 de junho de 1818 com o nome de Museu Real, no centro do RJ, o Museu Nacional está instalado, desde 1892, no antigo Paço Imperial de São  Cristóvão, na Quinta da Boa Vista,  zona norte da capital fluminense. O Paço foi residência da família real portuguesa, da família imperial brasileira e palco da primeira Assembleia Constituinte da República. O Museu foi incorporado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 1946. Além do Paço, outras nove edificações na área do Horto Botânico completavam a estrutura física do Museu Nacional. 


O acervo da seção de Memória e Arquivo era composto por 3.500.000 itens; a biblioteca especializada em Antropologia, Francisca Keller, possuía cerca de 37.000 obras. Quatro, dos seis departamentos do museu, possuíam reservas técnicas e laboratórios instalados no Paço. Mais de 20 coleções encontravam-se total ou parcialmente alocadas no Paço. Mais de 15 milhões de itens estavam no Paço ou em áreas adjacentes como o Anexo Alípio de Miranda Ribeiro, parte significativa delas foi afetada pelo incêndio em 2018.


Resgate das coleções


Cláudia conta que muitos acervos, gabinetes e documentos ainda estavam no museu e parte significativa foi, irremediavelmente, perdida no dia do incêndio. Esse é o caso de coleções de insetos. “Pela extrema delicadeza desse material, acredita-se que as altas temperaturas, antes mesmo das chamas, tenham destruído a maioria do acervo, antecipando-se aos desdobramentos do incêndio. O mesmo deve ter acontecido com as coleções de  aracnídeos e outras que integravam os acervos de invertebrados em geral.”


Acervos arquivísticos, digitais, fitas magnéticas e cilindros de cera, objetos em madeira, plumárias, tecidos, negativos em filme ou vidro, lâminas, animais taxidermizados, entre muitos outros, também foram atingidos, disse ela. “Nesse sentido perdemos as coleções que possuíam estes suportes como matéria-prima, como o acervo do Centro de Documentação de Línguas Indígenas, o Arquivo Histórico da instituição (SEMEAR), entre outros.” 


Permaneceram as peças em cerâmica, as rochas e minerais, os meteoritos, peças e fragmentos de peças em metal, fósseis, conchas, ossos e, eventualmente, alguns poucos elementos que escaparam das áreas mais intensas do incêndio. Dessa forma, parte das coleções etnológicas, arqueológicas, malacológicas, geológicas, paleontológicas e das coleções de remanescentes ósseos humanos, que mantinham suas reservas técnicas no  palácio, puderam ser recuperadas, ainda que em estados variados de preservação. 


Ajuda emergencial alemã


O livro explica que os fundos alocados do Governo da Alemanha no valor de até um milhão de euros e a assessoria prestada pelos peritos da missão de averiguação de fatos da Unesco  (Organização das Nações Unidas para a  Educação, a Ciência e a Cultura), da qual participaram também dois peritos do Arquivo Municipal da Cidade de Colônia, foram determinantes para o sucesso dos  trabalhos de resgate e recuperação. 


"Com a primeira parte do contrato, no valor de 180.800 euros, o museu pôde adquirir logo em novembro de 2018 câmeras digitais de alta qualidade e um drone, que permitiram  documentar cada etapa do processo, telêmetros para determinar a localização possível dos artefatos soterrados. O segundo repasse, de 145.380 euros, foi decisivo para a modernização da rede elétrica já totalmente sobrecarregada do recinto do museu, que são  uma pré-condição importante para assegurar o bom desenrolar dos trabalhos de resgate e conservação. Em maio de 2019, foram alocados mais 21.000 euros para cobrir as elevadas necessidades em  matéria de luvas, máscaras e caixas de  armazenamento."


De acordo com a publicação, ainda em 2021, o Ministério Federal das Relações Externas vai entregar cerca de 453.000 euros ao museu, que irá começar com os complexos trabalhos de recuperação e conservação dos artefatos resgatados. Para tal, os funcionários  necessitam de espectrômetros de raios-X,  microscópios e cortadores de precisão,  equipamentos que poderão ser adquiridos graças à ajuda vinda da Alemanha. Em paralelo, os trabalhos de ampliação  do sistema elétrico estão sendo concluídos. 


Para ver  as fotos da recuperação do resgate dos acervos e trabalho das equipes, acesse o Livro 500 dias de Resgate - Memória, coragem e imagem


Foto: Agência Brasil



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