Aumento de óbitos entre trabalhadores acende alerta para necessidade de prioridade em vacinação
Por: Danielle Monteiro
O índice de óbitos entre trabalhadores formais de serviços essenciais não relacionados à Saúde aumentou consideravelmente no auge da pandemia, e, em decorrência disso, eles deveriam ser grupo prioritário no Plano Nacional de Imunização. É o que indicam estudos recentes que analisaram a exposição e a taxa de óbitos entre aquela categoria de profissionais no início deste ano, em comparação com o mesmo período de 2020.
Um dos levantamentos, feito exclusivamente para o jornal El País pelo estúdio de inteligência de dados Lagom Data, constatou que trabalhadores formais que não puderam ficar em casa em nenhum momento da pandemia estão no ranking das ocupações que mais registraram crescimento de mortes no Brasil em janeiro e fevereiro de 2021, em relação a 2020, momento anterior à pandemia. Entre frentistas de posto de gasolina, o aumento foi de 68%. Na categoria operadores de caixa de supermercado, houve aumento de 67%, e na de vigilantes, entre eles, profissionais terceirizados que monitoram a temperatura de quem entra em shoppings centers, o crescimento foi de 59%. Já os motoristas de ônibus sofreram 62% mais mortes.
Diante dos dados constatados pela pesquisa, a Federação Nacional dos Frentistas (Fenepospetro) publicou nota reivindicando a inclusão dos trabalhadores em postos de abastecimento e lojas de conveniência na inclusão da Fase 4 da vacinação.
Baseado em uma análise do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Novo Caged, ligado ao Ministério da Economia, o estudo também revelou que o período registrou ao menos 83 óbitos entre professores do ensino fundamental, contra 42 no ano passado.
Como o sistema utilizado para a análise não informa a causa das mortes, não é possível afirmar quantos óbitos se devem diretamente à Covid-19. No entanto, há fortes evidências de que os resultados da pesquisa tenham correlação com o impacto da doença na vida das pessoas. É o que os epidemiologistas chamam de “excesso de mortes” em tempos de pandemia. O conceito é utilizado para caracterizar períodos em que pessoas não morrem necessariamente de forma direta pela doença, mas por complicações decorrentes de sua existência, por exemplo, a falta de vagas em hospitais.
O projeto Rede de Informação e Comunicação sobre Exposição de Trabalhadores e Trabalhadoras ao SARS- COV 2 no Brasil, desenvolvido por pesquisadores da ENSP, já alertava, desde o começo da pandemia, para o alto risco de exposição ao vírus entre diversas categorias profissionais. Considerando o local de trabalho como categoria central no contágio e transmissão de doenças infecciosas, devido à variedade de tarefas e tempo contínuo de exposição, a Rede divulga dados sobre exposição, infectados, doentes e condições dos ambientes de trabalho, por meio de informações das instituições e organizações representativas das categorias profissionais.
Segundo a colaboradora da ENSP na Rede, Maria Juliana Corrêa, o aumento de óbitos revelado pela pesquisa baseada na análise do Caged é consequência de dois fatores: a insuficiência de medidas protetivas de políticas públicas que garantam o distanciamento social entre a maioria dos trabalhadores e a inserção de um grupo expressivo de trabalhadores na categoria de funções essenciais, tornando obrigatória a manutenção de determinados processos de trabalho. “A situação em si é muito grave, pois as medidas sanitárias não foram suficientes para a proteção à saúde desses trabalhadores que ficaram nas frentes de trabalho. O estudo reforça tudo que dizíamos e construímos desde o início da pandemia em relação aos trabalhadores estarem em permanente risco e sofrerem excesso de risco de morte, como foi comprovado agora entre os trabalhadores formais”, afirma.
A pesquisadora também destaca que as taxas de óbito constatadas no estudo são consideravelmente mais altas do que a média da população, indicando uma gravidade do risco entre os trabalhadores. “A Rede avaliou o setor petroleiro e verificou que a infecção pelo coronavírus naquela categoria foi superior à da população em geral”, lembra. A mortalidade entre os professores, segundo ela, só não foi maior em função da grande movimentação em relação ao não retorno às aulas.
Os resultados do levantamento baseado na análise do Caged, segundo a pesquisadora, acendem alerta para a necessidade de adoção de medidas imediatas para a vacinação em massa de todos os trabalhadores, de forma que se atinja, no mínimo, 70% de cobertura vacinal.
Outro indício da possível relação entre a Covid-19 e o crescimento de óbitos entre trabalhadores foi apontado por dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). O levantamento revelou um terço a mais de mortes, considerando a soma de todas as atividades profissionais, nos dois primeiros meses de 2021, quando havia escassez de leitos, em comparação com os dois primeiros meses de 2020, quando ainda não havia registro de mortes por Covid-19 no Brasil. As atividades mais essenciais, como comércio de víveres e transportes, foram as que apresentaram mortalidade mais alta.
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