A pandemia e o impacto sobre a vida das mulheres: o papel social, doméstico e o cuidado integral com as crianças
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) publicou uma matéria sobre como a pandemia do Covid-19 tem relegado às mulheres trabalhadoras a um papel ainda mais intenso no cuidado. O capital, que já estava em crise e buscava formas de retomar suas altas taxas de lucro, se manifesta agora na sua face mais cruel, pois deixa milhares de trabalhadores e trabalhadoras em condição de vulnerabilidade. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD, 2020) indicam que aproximadamente 57 milhões de pessoas no Brasil estavam em trabalhos informais, sem carteira e ou desempregadas. Ou seja, a situação que já resultava em vulnerabilidade social, no momento atual, as deixa ainda em maior risco.
Embora o avanço do vírus afete a todos, a pandemia não se manifesta da mesma forma nos diferentes grupos e classes sociais, pois as condições de vida das pessoas as expõem ao contágio em maior ou menor intensidade. Deste modo, as mulheres podem ser consideradas o grupo social mais afetado pela pandemia do novo coronavírus, posto que, conforme o IBGE, constituem o grupo majoritário dos empregos mais precários ou informais, estando obrigadas a voltar-se às tarefas do cuidado da casa, da economia doméstica, dos filhos e a prezar pela saúde de todos.
O isolamento social é uma das medidas protetoras, no entanto, revela-se como uma ameaça à vida através do aumento da violência doméstica. Segundo informações do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (2020) houve um aumento de 9% das denúncias de violência contra as mulheres durante a primeira semana da quarentena (17 a 25 de março) em relação a semana anterior. Os presentes dados compõem o conjunto de elementos que estão postos nesse momento: a desigualdade social, o machismo e a pandemia. Ao mesmo tempo em que as mulheres enfrentam o medo de que o vírus irremediavelmente uma hora desembarcará na sua casa, defrontam-se com uma sobrecarga de trabalho mais intensa, pois, além do trabalho doméstico, do trabalho realizado à distância e das contas que continuam chegando, as crianças estão sem creche, sem escola e sem opção de lazer.
É nesse ambiente de precarização das condições das famílias da classe trabalhadora que se sobrepõem as demandas do cuidado com as crianças. É um desafio garantir que o desenvolvimento infantil aconteça com segurança, alimentação, saúde e cuidado integral diante do quadro de crise econômica, isolamento social, ansiedade, medo, exposição excessiva a mídias com conteúdo diverso e muitas vezes impróprios, falta de espaço e contato com a natureza e os amigos.
Fonte: Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
Movimentos Populares e Coronavírus