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Chefe do laboratório do CRPHF/ENSP é designado membro de grupo técnico consultivo sobre tuberculose da OMS

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Publicado em:14/10/2021
Por: Danielle Monteiro

O chefe do laboratório do Centro de Referência Professor Hélio Fraga (CRPHF/ENSP ), Paulo Redner, foi recentemente designado membro do Grupo Técnico Consultivo sobre Diagnóstico de Tuberculose e Fortalecimento Laboratorial da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em entrevista ao Informe ENSP, ele fala sobre a importância de sua designação para a Fiocruz, o trabalho desenvolvido pelo laboratório, que é referência nacional para tuberculose, além dos principais avanços, novidades e desafios no que diz respeito ao diagnóstico da tuberculose no Brasil. 

Confira, a seguir, a entrevista:

O que representa, para a Fiocruz, sua designação como membro do Grupo Técnico Consultivo sobre Diagnóstico de Tuberculose e Fortalecimento Laboratorial da Organização Mundial da Saúde (OMS)? E qual a importância dessa designação para o enfrentamento da tuberculose no Brasil?

Acredito que é importante para a Fiocruz ter um membro do seu quadro como parte do Grupo Técnico Consultivo sobre Diagnóstico de Tuberculose e Fortalecimento Laboratorial. Em médio e longo prazos, minha experiência nesse grupo poderá contribuir para a avaliação das novas metodologias que estão sendo desenvolvidas e poderão ser implementadas no SUS para o diagnóstico de tuberculose.

Conte um pouco sobre o trabalho desenvolvido pelo Grupo Técnico Consultivo sobre Diagnóstico de Tuberculose e Fortalecimento Laboratorial e de que forma o laboratório do Centro de Referência Professor Hélio Fraga vai contribuir com esse trabalho.

O grupo tem como uma de suas atribuições fornecer uma avaliação e aconselhamento rápido e independente à OMS sobre os aspectos científicos e técnicos das ferramentas, tecnologias, métodos e abordagens de diagnóstico da tuberculose. Apesar desse grupo ter sido recentemente formado, acredito que minha experiência como pesquisador e gestor do laboratório certamente contribuirá para as discussões que serão debatidas em conjunto com outros pesquisadores com experiência em seus países.

Segundo a OMS, a tuberculose continua sendo a doença infecciosa mais mortal do mundo. Por que essa enfermidade, apesar de tão antiga, ainda ocupa o primeiro lugar no ranking de doenças infecciosas que mais matam em todo o mundo?

São vários os fatores que levam a esse quadro. A dificuldade de reconhecimento de que a pessoa possa estar com tuberculose é um fator, uma vez que muitos acreditam que a doença nem exista mais. A dificuldade de acesso ao diagnóstico/tratamento é um fator importante, uma vez que a doença está intimamente ligada a situações de pobreza. Apesar de existir tratamento eficaz para a doença, a duração do tratamento pode ser outro fator que contribua para esse quadro, uma vez que alguns pacientes acabam por abandonar o tratamento, contribuindo para o surgimento de bactérias resistentes aos antibióticos utilizados.

O laboratório do Centro de Referência Professor Hélio Fraga é referência técnica em âmbito nacional para tuberculose, tuberculose resistente e outras micobacterioses. Conte um pouco sobre o trabalho desenvolvido e as ações previstas pelo laboratório.

Como laboratório de referência nacional, e tratando-se de algumas de nossas funções, temos de atuar no Ministério da Saúde (CGLab e CGDR, por exemplo), de forma a garantir o funcionamento adequado da rede de laboratórios de tuberculose no país. Tal atuação envolve não só o assessoramento técnico dos laboratórios, como também a realização de exames de alta complexidade e o desenvolvimento de novas ferramentas diagnósticas.

Quais são os principais desafios no que diz respeito ao diagnóstico da tuberculose no Brasil? 

Devido ao crescimento lento do bacilo causador da tuberculose, um dos principais desafios em relação ao diagnóstico no mundo é o desenvolvimento de testes de diagnóstico que sejam rápidos e com grande acurácia. Grandes passos nesse propósito foram dados, por exemplo, o Teste Rápido Molecular (GeneXpert MTBRIF) que permitiu fornecer diagnóstico com aproximadamente duas horas, o que, anteriormente, poderia levar até dois meses. O outro desafio é disponibilizar esses testes dentro de um país com dimensões continentais e bastante diverso, de forma que o diagnóstico rápido de tuberculose esteja acessível a todos.

Recentemente, o Brasil pôde comemorar a chegada do teste IGRA ao SUS, um exame referência e o mais utilizado no mundo, capaz de identificar a doença em sua fase latente, quando não há sintomas. O que representa a oferta do teste ao Sistema de Saúde Pública brasileiro? E, além desse, quais são os principais avanços obtidos no campo do diagnóstico da tuberculose no Brasil?

A pessoa com tuberculose ativa pode ser reconhecida clinicamente por diversos sintomas como febre, suor noturno, cansaço, emagrecimento, entre outros. Entretanto, existe a possibilidade de uma pessoa estar infectada pelo bacilo da tuberculose e ele permanecer latente por longo tempo até que ocorra sua ativação. Identificar esses casos de tuberculose latente é de suma importância para o controle da tuberculose no país. A chegada do IGRA ao SUS veio cobrir justamente essa importante lacuna existente no diagnóstico da tuberculose, em especial nos casos específicos, como pessoas vivendo com HIV e crianças em contato com casos de tuberculose ativa. 

Apesar de já existir o teste do PPD para os casos de tuberculose latente, esse teste ainda tem algumas limitações quanto a sua utilização, uma vez que existe a possibilidade de gerar resultados que podem ser erroneamente interpretados. Além do IGRA, a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde), recentemente, recomendou a incorporação do teste LF-LAM (teste de fluxo lateral para detecção de lipoarabinomanano em urina), para rastreamento e diagnóstico de tuberculose ativa em pessoas vivendo com HIV/Aids, e os testes comerciais de sondas em linha, para detecção de mutações nas regiões determinantes de resistência a fármacos de primeira (rifampicina e isoniazida) e de segunda linha (fluoroquinolonas e aminoglicosídeos), possibilitando antecipar a identificação da resistência dos bacilos presentes no paciente.



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