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"Renunciar à ciência é renunciar à sobrevivência"

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Publicado em:16/09/2021

Miguel Nicolelis está há 18 meses isolado em sua casa, em São Paulo, e enfrenta a pandemia da forma mais reclusa possível, mas nem por isso menos produtiva. Referência mundial no campo da neurociência, Nicolelis morava nos Estados Unidos e viajou para o Brasil em fevereiro de 2020 para rever familiares. Em março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou o estado de emergência global em razão da disseminação do novo coronavírus, o que fez com que o cientista decidisse permanecer no país. Logo depois, veio o convite para coordenar o Comitê Científico do Consórcio Nordeste, criado em março do ano passado para orientar e articular ações regionais de combate à covid-19, cargo que ocupou por onze meses. “Saí [em fevereiro] porque os governadores não estavam mais dando a menor bola para a questão [da pandemia]”, disse à Radis.


Foi a partir da experiência no Comitê que o neurocientista se aproximou da gestão pública e pôde ver, segundo ele, a falta de preparo de políticos brasileiros para dialogar com a ciência e com os problemas do século 21, como a crise climática. “Infelizmente, os gestores brasileiros se mostraram, na vasta maioria, extremamente incompetentes e mal capacitados para dialogar com cientistas”, avalia. Por isso, Nicolelis é hoje um dos maiores críticos à forma como o Brasil lidou e continua lidando com a pandemia — suas previsões, algumas vezes consideradas catastróficas, ganharam ainda mais destaque ao serem confirmadas. “As pessoas ficaram horrorizadas quando eu disse que chegaríamos a 500 mil mortes em junho, e chegamos a esse total duas semanas antes”, observa.


Para Nicolelis, em qualquer nível de governo, especialmente no federal, os números da pandemia revelam que “os interesses e a pressão econômica mostraram ser muito mais poderosos do que a preocupação com a vida humana”. Em janeiro, em um post no Twitter, rede social em que tem 150 mil seguidores e é bastante ativo, o cientista relembrou uma frase de sua autoria que para ele resume a principal razão da tragédia brasileira: “Quando a política bate de frente com a biologia, a biologia ganha de goleada”.


O saldo dessa disputa chegou à marca de mais de 557 mil brasileiros mortos em 2 de agosto, quando o neurocientista abriu espaço em sua agenda para falar à Radis por uma plataforma de videoconferência. Nesta entrevista exclusiva, Nicolelis relatou que viu um “grau inacreditável de arrogância” da classe política ao lidar com um vírus, um inimigo desconhecido e invisível que precisa de outra abordagem. E, de forma bem direta, sintetizou sua visão em um “falhamos”, entrecortado por pausas: falhamos por não ter um plano de comunicação e outro de imunização, falhamos por não comprar insumo e vacinas, resume.

De olhos fechados para as previsões

São muitos os tipos de negacionismo, na visão de Nicolelis, desde a simples rejeição aos dados científicos, até uma versão mais “sofisticada”, que mesmo reconhecendo a ciência decide correr os riscos. “Tem o negacionismo tosco, que é o do governo federal, mas tem um negacionismo gourmet, que é mais sofisticado nesse momento, e afeta todos os setores da sociedade, até os mais progressistas. É aquele que promove aglomerações em jogos de futebol ou ações de protesto ao governo federal”, avalia. O neurocientista entende que “não era o momento para isso”. “Comungo do sentimento de frustração e oposição ao governo federal. Só que há um raciocínio básico que é o custo em vida que as aglomerações causam e podem causar. A questão não é só morrer de coronavírus, que é o grande risco: é ter o vírus e ficar com ele para o resto da vida, a covid longa”, explica.

Nicolelis ressalta que as análises não são apenas estimativas, mas previsões de risco — dimensão que o negacionismo ignora. “É difícil fazer uma estimativa precisa. Por isso, os modelos indicam uma estimativa do que provavelmente vai acontecer”, pontua.

Para o pesquisador, nesse momento, o Brasil vive um grau de incerteza muito grande do que pode ocorrer nas próximas semanas porque tudo depende da competição pelo domínio no território entre a variante delta e a gama. “Ninguém sabe quem ganha. Se a delta ganhar essa competição e tiver acesso irrestrito ao grupo de pessoas não vacinadas com as duas doses, que é perto de 80% da população, e as crianças abaixo de 12 anos, vai causar um estrago tremendo. Essa é uma análise de risco porque não posso fazer uma estimativa precisa”.

Outra face do negacionismo é ignorar os dados — como ocorreu no Brasil, no início da pandemia, quando as informações sobre mortes e novos casos passaram a ser divulgadas com atraso. “Eu uso o Portal da Transparência do Registro Civil para avaliar a evolução do número de óbitos. Ele era atualizado a cada 24 horas e funcionava bem, mas passou a ficar fora do ar, dificultando a análise. Veja, passamos a citar o Portal em artigos e entrevistas e, de repente, ele saiu do ar? Nós tivemos um apagão de dados no Brasil e isso foi e continua sendo muito sério”, observa.


Como o senhor analisa o enfrentamento da pandemia no Brasil?


O Brasil foi um dos países com pior manejo da pandemia e já estamos nos aproximando dos Estados Unidos em número de mortos totais. Tivemos uma perda de vidas muito acima do que seria esperado em um país com um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo. O SUS salvou o Brasil de uma tragédia maior. Ele está sendo sucateado há muito tempo e perdeu verbas e apoio, especialmente nos últimos cinco anos. Mas, infelizmente, o Brasil não tirou vantagem da sua enorme disponibilidade de ter um exército de saúde da família que deveria ter sido recrutado e usado para estancar as infecções na trincheira onde elas ocorrem. O Brasil optou por combater a pandemia principalmente criando leitos, e de forma alguma se faz isso.


Qual a sua perspectiva sobre a emergência de novas variantes?


Eu vejo uma situação muito dramática e perigosa. Todo mundo está prestando atenção na atual queda dos casos e óbitos, o que era previsto com o pico que tivemos em março e abril, os dois meses mais letais da história do Brasil. O vírus explodiu e, como em qualquer pico de qualquer pandemia, há um tempo depois da explosão para o vírus encontrar novos grupos suscetíveis. Agora, com a variante delta, estamos à beira de outra retomada de crescimento como ocorre no mundo inteiro, inclusive nos países que vacinaram mais de 50% da população. É um momento muito preocupante. A vasta maioria dos gestores estaduais está relaxando as medidas, querendo fazer festa. Em 40 anos de ciência, nunca vi isso.


Neste momento não há espaço nem para planejar uma abertura gradual?


Eu não compartilho do otimismo da mídia e dos governantes brasileiros. O que é mais triste é que repetimos os erros de 100 anos atrás na pandemia de influenza [cunhada como Gripe Espanhola, de 1918] e da primeira e segunda onda de covid. São Paulo e Rio já anunciaram abertura. O Nordeste, que no começo da pandemia tinha se comportado de forma um pouco mais coerente com a ciência, também abandonou essa posição. Eu temo que a qualquer momento ocorra a reversão da queda de casos e óbitos. Temos por volta de 20% das pessoas vacinadas com duas doses [no início de agosto] e isso não é suficiente para deter a variante delta. Ando extremamente receoso e acredito que nós vamos ter uma nova explosão de casos no Brasil.


O que sente quando ouve que seus alertas são catastróficos e pessimistas?


No dia 4 de janeiro, falei que iríamos ter três mil mortos em março e acharam que eu tinha perdido a noção. Saí [em fevereiro] do Comitê Nordeste porque os governadores não estavam mais dando a menor bola para a questão. A previsão era clara e indicava que iríamos ter uma segunda onda como resultado de aberturas desenfreadas, em outubro de 2020, e de aglomerações geradas pela campanha eleitoral, em novembro. Era óbvio que iria explodir. Passamos como um rojão por três mil e fomos a 4,1 mil óbitos por dia em março. As pessoas ficaram horrorizadas quando eu disse que chegaríamos a 500 mil mortes em junho, e chegamos a esse total duas semanas antes. A média de mortos antes da pandemia era de 100 mil mortes mês no Brasil. Nós tivemos 188 mil mortes em abril e 163 mil em maio e junho, quando houve uma retração.


Para além dos números, o que a pandemia expõe sobre o Brasil?


Ela expõe a fragilidade da política e dos políticos brasileiros no que tange a dialogar e a entender o que a ciência faz. Eu vivi isso de perto. Fizemos previsões prováveis e duras para alguns estados, com erro de margem mínima, e ouvimos que estávamos sendo muito catastróficos e que era perseguição ao estado, quando o que tínhamos em mão resultava de vários modelos estatísticos. Eu concluí que os políticos brasileiros não estão preparados para dialogar com a ciência e para bater de frente com os problemas do século 21, como a crise climática. Essa vai ser uma de muitas pandemias que enfrentaremos porque estamos invadindo os ambientes do mundo todo. As queimadas não só destroem o ecossistema brasileiro como permitem a emergência de vírus, pela invasão dos territórios antes não ocupados pelo ser humano. Vamos enfrentar problemas e, infelizmente, os gestores brasileiros se mostraram, na vasta maioria, extremamente incompetentes e mal capacitados para dialogar com cientistas.


Qual a sua avaliação do papel do governo federal na gestão da pandemia?


Vejo que há uma grande falha do governo federal, 90% responsável por essa crise, por falta de uma política de comunicação, de não formar uma comissão nacional, por não comprar o que precisava de insumo ou vacina na hora certa, por não criar um plano nacional de imunização. A lista é enorme. Entendo que o governo federal capitulou e os interesses e a pressão econômica mostraram ser muito mais poderosos do que a preocupação com a vida humana. O mesmo ocorreu também nos Estados Unidos e no Reino Unido. No começo da pandemia, cunhei uma frase e acho que agora ela é mais do que apropriada: “Quando a política bate de frente com a biologia, a biologia ganha de goleada”. Os políticos não se deram conta disso. A variante delta está fazendo o maior ‘auê’ em todo o mundo. Ela avança mesmo com 50% da população dos Estados Unidos e do Reino Unido vacinada. Israel voltou atrás na política de não obrigatoriedade do uso de máscaras. Sidney e Filipinas tiveram que fazer lockdown. A China colocou uma cidade do tamanho do Rio de Janeiro em lockdown. Os gestores brasileiros não conseguem entender essa dinâmica do vírus. Acham que podem decretar uma abertura sem saber do risco iminente que é a variante delta.


Como foi lidar com políticos em sua passagem no Comitê Científico do Consórcio Nordeste?


Eu vi um grau inacreditável de arrogância. Um governador retirou os seus participantes do Comitê, sem nem conversar, quando apresentamos um panorama desfavorável para o seu estado. Mesmo os gestores que no início achavam que a ciência era importante, quando confrontados com os lobbies econômicos, que mandam na política brasileira, também afinaram. Agora, eu vejo Salvador planejando carnaval. No Sudeste, o Rio está com data definida para o desfile de escolas de samba. Como eles sabem como o Brasil estará nessa época? Eu não sei e nenhuma pessoa séria consegue dizer.


Qual é o papel da informação e da comunicação em uma pandemia?


Existe um vírus informacional que mata tanto quanto o vírus real que é espalhar fake news, as notícias falsas. Contra isso, há duas primeiras atitudes que qualquer governo deveria ter tomado em janeiro de 2020, que é ter um projeto de comunicação nacional e depois ter uma comissão nacional de combate ao coronavírus. Para mim, o plano de comunicação vem antes porque ele teria usado as mídias e as redes sociais para informar à população o que estava por vir e preparar o espírito do país. Mas o Brasil em momento algum foi preparado para o tamanho da catástrofe que iria enfrentar, a maior catástrofe humana de nossa história. Nós nunca perdemos meio milhão de pessoas por um evento pontual. Quando os livros contarem essa história, ela vai ser taxada da maior tragédia humana da história do país num período curto de 18 meses. Nas três primeiras semanas de março de 2020, 85% dos casos do Brasil vieram da capital paulista, o maior hub [nó] rodoviário do Brasil e que está ao lado do nosso maior aeroporto internacional. Apenas com o lockdown em São Paulo nós teríamos evitado a primeira onda.


Como o senhor qualifica a gestão da pandemia no Brasil?


Acho que falhamos. Minha avaliação é que a resposta foi medíocre, inepta, incompetente e, apesar de nunca ter se falado tanto de ciência no Brasil e nunca termos tido tanto espaço para cientistas de todos os matizes — até os que não estavam preparados para falar nada apareceram —, não foram tomadas as medidas óbvias. Era um consenso entre os maiores epidemiologistas do Brasil de que o país tinha que ter feito lockdown, bloqueio sanitário, fechado o espaço aéreo, comprar vacinas na hora certa, ter campanha de vacinação. A nossa sorte é que mais de 90% da população brasileira quer se vacinar. Nos Estados Unidos, metade não quer. As campanhas de vacinação brasileiras foram bem-sucedidas no passado e contam com a adesão da população. Com toda a tradição de Bio-Manguinhos [Fiocruz] e do Butantã, o Brasil deveria ter desenvolvido a sua vacina, e teria conseguido, já que temos expertise e fazemos outras vacinas bem mais complicadas. Mas não houve nenhum pensamento estratégico e, para mim, a política brasileira, na forma dos seus agentes e gestores, demonstrou um grau de incompetência assustador, de falta de ressonância e empatia humana. Meias medidas não funcionam numa guerra. Infelizmente, a política brasileira e os políticos foram reprovados de uma maneira dramática nessa crise.


E quais os efeitos desses erros na condução da pandemia?


O SUS já está sentindo os efeitos da covid crônica que deixa sequelas em todos os sistemas do corpo humano. Há pessoas com problemas cognitivos, insuficiência respiratória, renal e cardíaca ou diabetes. O número de pessoas que vai precisar fazer hemodiálise a longo prazo possivelmente vai aumentar muito. As cidades que fizeram o lockdown na pandemia de 1918, nos Estados Unidos, sem nem saber que o agente era a influenza, tiveram melhor recuperação econômica pós-pandemia. Quem não fez pagou um preço bem elevado. Isso vai acontecer agora. A China está crescendo em níveis pré-pandemia e os outros países, como nós, que empurraram com a barriga, vão pagar um preço econômico gigante. Investir em saúde, no SUS, na saúde da família, em vacinas, era basicamente preservar a economia brasileira. Em abril, a cidade do Rio de Janeiro e de São Paulo e o Rio Grande do Sul tiveram mais mortes que nascimentos. Vamos ter efeitos demográficos que vão repercutir na economia brasileira. E aí a gente tem que somar o futuro dessa geração de órfãos e também de crianças com sequelas. Sequer sabemos qual o efeito crônico do vírus em crianças que nasceram com ele. É por isso que o discurso de que há dicotomia entre economia e saúde, feito nos Estados Unidos e aqui, é absurdo. Não chamo nem de negacionismo, mas de insanidade.

Cientista do Brasil

Miguel Nicolelis decidiu que era hora de se fixar no Brasil depois de viver 32 anos nos Estados Unidos. Formado em medicina, com doutorado pela Universidade de São Paulo (USP), ele é um exemplo da chamada fuga de cérebros, quando pesquisadores qualificados migram para outros países em busca de aprimoramento e melhores oportunidades de trabalho. Durante 27 anos, Nicolelis atuou na Duke University, de Durham, no estado da Carolina do Norte, onde começou como professor assistente, em 1994, e se tornou titular em 2001. Recentemente, chegou ao topo da carreira e optou por se tornar professor emérito, com uma atividade científica reconhecida como uma das mais importantes no mundo, e fez o caminho de volta, a chamada repatriação de cérebros. “Concluí que estava ótimo. Queria passar mais tempo no Brasil e vi que tinha feito tudo o que queria fazer em uma universidade norte-americana”, relatou.

Na visão de Nicolelis, a pesquisa científica é o caminho a ser perseguido por países não dependentes e a pandemia é um bom exemplo para isso. “A geopolítica da pandemia transformou a biotecnologia no maior valor de um país nesse momento. Vimos que vários países renunciaram à sua soberania científica dando seus recursos para as farmacêuticas para criar as vacinas”, salientou. O cientista observa que a China foi um dos poucos países que fabricou sua vacina com recursos estatais. “Em 26/2, os chineses haviam aplicado 20 milhões de doses. Cinco meses depois, estavam em 1,6 bilhão de doses. É algo impressionante. Isso é uma mobilização nacional”, reforçou.

Na visão do professor, um país renuncia à sua soberania quando deixa de investir em Ciência e Tecnologia e na manutenção de quadros de recursos humanos que levam décadas para serem formados. “Todo mundo sabia disso, mas na era que está se inaugurando, das pandemias como decorrência de questões climáticas e ecológicas graves, renunciar à ciência é renunciar à sobrevivência da sociedade”, salienta. Ele alerta que a dependência da ajuda de outros países será inevitável para nações que deixam de investir na produção desse conhecimento de ponta. “Em março e abril, explodiram casos de covid no Brasil e na Índia e quem recebeu o apoio imediato foi a Índia. O Brasil foi ignorado, tratado como desimportante. Esse é o destino que estamos condenados a longo prazo e continuamente se continuarmos a destruir a nossa estrutura científica, que está a caminho da aniquilação. Ela ainda está sobrevivendo, mas não por muito tempo”, avaliou.

O cientista nunca escondeu que gostaria de trazer para o Brasil o ambiente no qual foi formado e o modelo que combina investimentos públicos e privados na pesquisa. Tanto que idealizou o Instituto Santos Dumont (ISD), inaugurado em 2006 e que engloba o Instituto Internacional de Neurociências Edmond e Lily Safra (IIN-ELS) e o Centro de Educação e Pesquisa em Saúde Anita Garibaldi (Anita), situados em Macaíba, a 25 km de Natal. Como plano para o futuro, ele afirma que quer “fazer ciência de outra maneira”. “Estou construindo um novo instituto baseado no que eu acredito que seja o modo de fazer pesquisa na área de neurociência no século 21. É o Nicolelis Institute of Blue Sky Science, um lugar para uma ciência de fronteira, onde a imaginação é o limite”, pontua.


O senhor algum dia imaginou que mais de 500 mil pessoas iriam morrer de covid-19?


Numa das primeiras reuniões do Comitê Nordeste, lembro que eu disse que a maior tragédia, tirando a escravidão e o genocídio indígena perpetrado pelos europeus no século 16, a maior perda de vidas para um evento pontual no Brasil eram 60 mil mortos na Guerra do Paraguai. Falei que se nós chegássemos perto desse total já seria o maior evento de perdas humanas da história do Brasil. Passamos e vamos chegar a dez vezes o número de perdas de uma guerra que durou seis anos. Se pararmos para pensar, temos um dos maiores sistemas públicos do mundo, com o maior número de hospitais que nem os Estados Unidos têm, mesmo com 100 milhões de pessoas a menos, ainda assim vamos passar de 600 mil óbitos. Se a variante delta explodir, não dá para prever. Ninguém na área de saúde pública ou epidemiologia previa algo assim. É dantesco.


A ciência pode resolver sozinha uma questão de saúde?


Neste momento, não. A humanidade hoje é tão interconectada que, quando se fala em combater uma pandemia, só a ciência não é suficiente. A comunicação é um componente vital nessa guerra. Não existe possibilidade de criar uma cooperação entre a espécie humana sem prestar atenção para a comunicação de massa. É isso ou você vai ser vítima como os Estados Unidos estão sendo. Veja o estrago que um presidente negacionista fez no país, vão ter tantas mortes quanto há 100 anos na pandemia de influenza. É algo que os americanos não conseguem acreditar e que promoveu um abalo profundo na psicologia coletiva porque eles têm o senso de que podem ganhar qualquer guerra, de serem melhores que todo mundo. E não foram. Eles têm as doses para vacinar o país três vezes, mas não conseguem ampliar essa margem. Chegaram a vacinar 3,9 milhões de pessoas por dia, um recorde histórico americano, e agora mal conseguem chegar a 500 mil doses por dia porque ninguém quer se vacinar mais. É uma ironia. Um país com a maior infraestrutura científica do mundo, vacina para as duas doses em primeira mão, da Moderna e da Pfizer, daria para vacinar o país inteiro fácil e não conseguem por causa de uma questão informacional. Então, saúde pública é muito mais do que ciência hoje em dia.





Fonte: Radis

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