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Pós-doutoranda e ex-membra do CEP fala sobre desafios na submissão de projetos de pesquisa

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Publicado em:10/06/2021
Por: Danielle Monteiro

A entrevistada da segunda edição do CEP Informa é a pós-doutoranda em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva pela ENSP, Roberta Lemos. No bate papo, Roberta, que também é ex-membra do CEP/ENSP, fala a respeito dos principais desafios na submissão de um protocolo de pesquisa, explica qual o lugar do Sistema CEP/Conep no enfrentamento da atual crise sanitária e, ainda, dá dicas para agilizar a tramitação de um projeto de pesquisa. Confira a seguir:

O que te motivou a se tornar integrante do CEP/ENSP?

Roberta: Estava no curso de doutorado de Bioética e fazia parte de um laboratório de ética em pesquisa. Os temas referentes à ética em pesquisa, assim como toda a história que esse tema permeia, causaram-me tanto interesse e curiosidade que decidi conhecer todo o processo mais de perto. Assim, formalizei um pedido para fazer parte do CEP/ENSP.

Que dicas você daria aos alunos e pesquisadores da Escola para agilizar a tramitação de seus projetos de pesquisa?

Roberta: Dicas que eu gostaria que alguém tivesse me dado antes de submeter meu primeiro projeto:

1. Leia muito e se informe antes de submeter um projeto. O site do CEP/ENSP é uma boa fonte de informação, muitas pendências acontecem por falhas simples no processo burocrático, e saber os detalhes desse processo fará a diferença.

2. Pense no seu projeto detalhadamente e nos impactos que ele pode trazer aos participantes de sua pesquisa. Nenhum pesquisador ou estudante vai deliberadamente colocar seu participante em uma situação ruim, mas, às vezes, é um detalhe ou outro que escapa e pode deixar o participante em uma situação desconfortável e até mesmo problemática; por exemplo, se ocorrer um vazamento de respostas da pesquisa, o que pode estigmatizar esse participante ou colocá-lo em uma posição delicada/constrangedora. 

3. Pense no seu termo de consentimento, em tudo o que você gostaria de ser informado se fosse participante de sua própria pesquisa. Não é por menos que o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o famoso TCLE, deve esclarecer, sem margens de dúvidas, a respeito de todas as etapas pela qual o participante deverá passar ao decidir participar de sua pesquisa e, assim, ser livre para escolher participar ou não.

4. Não se engane: sempre há riscos. Entre eles, a sobrecarga mental, que pode proporcionar ao participante a liberação de dados sensíveis, os quais podem vir a identificar esse participante; os procedimentos invasivos que podem causar dor e até mesmo constrangimento por alguma pergunta ou assunto delicado abordado no momento de sua entrevista.  Já que os riscos de uma pesquisa são inevitáveis, busque uma maneira de mitigá-los e aponte isso no seu TCLE.

5. Sempre dê uma devolutiva ao seu participante de pesquisa, além da devolutiva que você deve fazer à comunidade científica. O participante precisa saber do resultado da pesquisa da qual participou e os impactos que ela causou. Com toda a certeza, ele ficará muito satisfeito em saber como contribuiu em seu trabalho.

Quais são os principais desafios na submissão de um protocolo de pesquisa para alunos e pesquisadores?

Roberta: O preenchimento da Plataforma Brasil. É uma parte fundamental e necessária; porém, a plataforma não é uma interface intuitiva e está muito estruturada para pesquisas clínicas. No entanto, toda pesquisa que envolve seres humanos deve ser submetida à Plataforma Brasil para apreciação de um CEP, inclusive as pesquisas voltadas para ciências sociais e humanas. E, como a plataforma é estruturada para pesquisas clínicas, fica mais enjoado preencher quando fazemos as pesquisas voltadas à área de Ciências Sociais e Humanas. É enjoado, dá uma canseira, mas não é impossível não. Tenha um pouco mais de paciência, não desista e submeta seu trabalho.

Conte um pouco sobre sua experiência como ex-membra do CEP/ENSP.

Roberta: Foi uma experiência muito positiva para mim. Aprendi muito no tempo em que fiquei lá. Como o CEP é formado por profissionais de diversas áreas, era superinteressante ver o que eles enxergavam do problema que se apresentava através de sua própria formação. Conhecer de perto o trabalho de outros pesquisadores também foi superenriquecedor. O CEP/ENSP tem um grupo bem coeso, com participação dos representantes da sociedade civil, que têm voz e também discutem os projetos. Todos ali com o foco na proteção do participante de pesquisa e auxílio ao pesquisador. Levei muitas pessoas de lá para minha vida, como exemplo profissional e até amizade. O pessoal sempre foi supercompreensivo comigo: eles me ajudavam sempre que eu solicitava. A Jennifer Braathen, que era a coordenadora, estava sempre disponível para sanar minhas dúvidas até mesmo via telefonema, fora dos horários das reuniões. A Jennifer, a Letícia, a Emília, Lisania... uma equipe de respeito. Emília foi minha ‘salvadora’ antes mesmo de eu entrar para o CEP/ENSP, porque me mostrou, na prática, todo o papel educativo de um CEP. Ela sentou ao meu lado e me ensinou o passo a passo para colocar meu trabalho na Plataforma Brasil quando submeti minha primeira pesquisa ao CEP, ainda no mestrado. Sou muito grata por tudo o que aprendi lá.

Em um contexto de gravíssima crise sanitária como a que vivemos atualmente, qual o lugar do Sistema CEP/Conep no enfrentamento dessa crise?

Roberta: A rapidez da evolução da doença, sua gravidade e repercussões vêm acompanhadas da curiosidade dos pesquisadores para desbravar todo esse novo quadro, consequentemente demandando um volume maior de pesquisas sobre o assunto.  Pelo seu impacto mundial, a Covid-19 demanda respostas rápidas, e, assim, o tempo do processo de consentimento para a participação de pesquisas, a leitura e discussão do termo e o distanciamento físico modificam todo o andamento que acontecia em outro ritmo, em ‘condições normais’. E tudo isso requer uma avaliação rápida pelos CEPs em geral e pela própria Conep. O CEP/ENSP já tinha uma boa taxa de tempo de resposta quando comparado com outros CEPs ao qual submeti trabalhos. Acredito que, na situação de emergência sanitária que estamos vivendo, reorganizações tiveram que ser feitas para dar conta de toda a demanda sem perder a qualidade de avaliação e proteção do participante de pesquisa. Atender às necessidades da sociedade e trazer respostas ao enfrentamento da Covid-19 é essencial numa crise pandêmica, e isso deve ser feito mantendo os padrões éticos de proteção ao participante da pesquisa e o devido auxílio ao pesquisador. 


Confira aqui a segunda edição do CEP Informa.

Fonte: CEP Informa
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