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Revista 'Ciência e Saúde Coletiva' aborda utilização e contribuições para a pesquisa qualitativa

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Publicado em:27/05/2022

Este número temático da Ciência & Saúde Coletiva apresenta alguns dos melhores estudos das edições 2020 e 2021 do Congresso Ibero-Americano em Investigação Qualitativa (CIAIQ), com formas consolidadas e emergentes de fazer pesquisa qualitativa. A triangulação de métodos observada confere aos estudos consistência e profundidade e deve ser incentivada. Para as autoras do editorial Christina César Praça Brasil, Ellen Synthia Fernandes de Oliveira e Elza de Fátima Ribeiro Higa, nesta edição, evidenciam-se “pontos de vista”, “opiniões”, “percepções”, “perspectivas”, “significados”, “vivências” e “concepções”, alinhando-se aos objetivos. Elas esperam que os artigos inspirem os leitores a desenvolver pesquisas qualitativas capazes de trazer reais contribuições para pessoas, instituições e a sociedade.


Para demonstrar a qualidade dos artigos, elas analisam o alinhamento entre oito pontos essenciais para estudos qualitativos: título, pressuposto, questões de pesquisa, objetivos, referencial teórico-metodológico, coleta e análise dos dados, interpretação dos achados e considerações finais, denominados ludicamente de “octeto fantástico”.

O título do estudo qualitativo requer clareza e adequação metodológica para traduzir sua mensagem e relevância. O pressuposto, de forma explícita ou implícita, pode ser também compreendido a partir das questões de pesquisa e objetivos. Já o referencial teórico-metodológico, “fio condutor” da pesquisa, auxilia o desenvolvimento e o alcance dos objetivos, estabelecendo a coerência entre o “que se quer alcançar” e o “que precisa ser feito para se chegar lá”.

Os autores mencionam referenciais teórico-metodológicos convergentes com os objetos de estudo: interacionismo simbólico; modelo tridimensional de Fairclough; teorias sobre formação de profissionais da saúde; perspectivas acerca da humanização na saúde; saúde mental do idoso; letramento em saúde, entre outros. Esses podem ter respaldo sociológico, antropológico, etnográfico ou mesmo em teorias sobre o assunto investigado.

As coletas de dados perpassam revisões de literatura, grupos focais, entrevistas, observação participante e análises documentais. Os artigos evidenciam diferentes estratégias de exploração dos dados, como análise de conteúdo e de discurso e teoria fundamentada. Algumas pesquisas utilizaram softwares especializados, cujas possibilidades de exploração são diversas e reafirmam o potencial da tecnologia para fortalecer as análises. A partir deles, a organização dos achados é sistematizada, propiciando novos estudos e interpretações.

A “lupa interpretativa”, com base no referencial teórico-metodológico, facilita o diálogo entre dados e literatura. As considerações finais trazem reflexões a respeito das questões de pesquisa, dos objetivos e dos resultados, apresentando respostas, reflexões e desdobramentos para o estudo.


Vários artigos contam com a participação de pesquisadores da ENSP.

Qualidade de vida percebida e significados atribuídos à experiência de extrema morbidade materna: um estudo qualitativo, de Natalia Chávez Narváez e Naydú Acosta-Ramírez,  tem por objetivo entender os significados atribuídos ao EMM por sobreviventes da experiência e o efeito desses significados nos processos de reconstrução da vida cotidiana. Um estudo qualitativo na perspectiva do interacionismo simbólico que incluiu uma análise baseada em elementos de teoria fundamentada conduzindo entrevistas com mulheres de uma cidade colombiana.


A experiência do EMM é compreendida por participantes como “um sofrimento que vale a pena” e é construída a partir dos significados dados a cada etapa vivenciada: (1) gravidez: uma evento TED que é melhor quando acompanhado por um companheiro/família; (2) a complicação: separação sofrimento; (3) vida após a quase morte. A percepção da qualidade de vida depende tanto da experiência do evento e apoio social, bem como da sobrevivência do bebê. O papel dos serviços de saúde é fundamental porque a solidão, a preocupação e o estresse se intensificam quando o pessoal de saúde tem uma desumanização no relacionamento com as mulheres.


Fake news e hesitação vacinal no contexto da pandemia da COVID-19 no Brasil, artigo de Cláudia Pereira Galhardi, Neyson Pinheiro Freire, Maria Clara Marques Fagundes, Maria Cecília de Souza Minayo e Isabel Cristina Kowal Olm Cunha, apresenta a evolução das notícias falsas disseminadas a respeito das vacinas e do vírus Sars-CoV-2 e os impactos negativos desse fenômeno sobre a crise sanitária que o Brasil atravessa. Trata-se de um estudo empírico quantitativo, realizado a partir das notificações recebidas pelo aplicativo Eu Fiscalizo, por meio do qual foi identificado o predomínio das plataformas Instagram, Facebook, Twitter e WhatsApp como os principais meios de difusão e compartilhamento de boatos e desinformações acerca da COVID-19.

Foi observada a circulação em escala de fake news sobre vacinas, diretamente relacionadas à polarização política brasileira, tornando-se prevalente quatro meses depois de ser registrado o primeiro caso de COVID-19 no Brasil. Conclui-se que o fenômeno colaborou para desestimular a adesão de parcelas da população brasileira às campanhas de isolamento social e de vacinação.


Associação entre estresse no trabalho e qualidade de vida em nutricionistas que trabalham em hospitais públicos do Rio de Janeiro, Brasil, de Bruna Cardoso Canazaro, Odaleia Barbosa de Aguiar, Arlinda B. Moreno, Márcia Guimarães de Mello Alves e Maria de Jesus Mendes da Fonseca, analisa a associação entre estresse psicossocial no trabalho e qualidade de vida de nutricionistas que trabalham em hospitais públicos do Rio de Janeiro, Brasil. Estudo seccional em hospitais da rede pública do município do Rio de Janeiro, Brasil. Participaram do estudo os nutricionistas com regime de trabalho estatutário ou celetista. O estresse psicossocial no trabalho foi avaliado por meio do questionário de demanda controle-apoio social (DCSQ). A qualidade de vida foi avaliada por meio do WHOQOL-Bref.

O desfecho foi modelado por meio de regressão linear múltipla e ajustado por covariáveis. A demanda de trabalho associou-se inversamente à qualidade de vida nos domínios físico e meio ambiente. O controle do trabalho esteve diretamente associado à qualidade de vida no domínio psicológico. O alto desgaste, em comparação ao baixo desgaste, esteve inversamente associado à qualidade de vida nos domínios físico e psicológico. O apoio social esteve diretamente associado a todos os domínios de qualidade de vida. O estresse psicossocial no
trabalho, expresso pelas demandas psicológicas e pelo controle do trabalho, afeta a autoavaliação da qualidade de vida, principalmente no domínio físico.


A revista pode ser acessada na íntegra aqui.


Fonte: Ciência e saúde Coletiva

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