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Boletim aponta piora no quadro de leitos de UTI Covid-19

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Publicado em:21/01/2022
Por Lidiane Nóbrega (Agência Fiocruz de Notícias)

O novo Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz, relativo às Semanas Epidemiológicas (SE) 1 e 2 de 2022 (período de 2 a 15 de janeiro), traz um balanço da pandemia em análises de internações, perfil demográfico e transmissão de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no país. Nessas duas semanas, houve um aumento importante do número de casos de Covid-19, com uma média de 49 mil por dia, uma diferença de seis vezes o observado no início de dezembro de 2021. No entanto, reforçando a efetividade da vacinação, que completou um ano, o aumento de óbitos não acompanhou a ampliação de casos pelo país.

Após o “ataque hacker” ocorrido em dezembro, os sistemas de informática do Ministério da Saúde foram reestabelecidos, mas ainda estão inconsistentes, como provável fruto das dificuldades de consolidação das bases de dados no período de indisponibilidade dos sistemas de informação. Para os pesquisadores do Boletim, a instabilidade dos dados disponíveis de casos leves, óbitos e cobertura vacinal ainda causa preocupação. 

Cenário atual 

Em comparação às análises realizadas nas duas últimas semanas, a situação dos leitos de UTI Covid-19, de forma geral, piorou. Cinco unidades da Federação, que estavam fora da zona de alerta, ingressaram na zona de alerta intermediário (taxas iguais ou superiores a 60% e inferiores a 80%), somando-se a outras seis que já se encontravam nesta zona na semana anterior. Há ainda quatro estados na zona de alerta crítico. 

Entre as capitais com taxas divulgadas, Fortaleza (85%), Recife (80%), Belo Horizonte (88%), Rio de Janeiro (95%) e Cuiabá (100%) estão na zona de alerta crítico e Porto Velho (66%), Manaus (77%), Boa Vista (60%), Palmas (69%), São Luís (68%), Teresina (66%), Salvador (65%), Vitória (78%), Curitiba (61%), Campo Grande (77%), Goiânia (77%) e Brasília (74%) estão na zona de alerta intermediário. No caso da cidade do Rio de Janeiro, é importante sublinhar que a taxa aqui apresentada não inclui no denominador leitos impedidos/bloqueados, o que eleva o seu valor.

Sendo um importante sinalizador da situação da pandemia, a interpretação das taxas de ocupação de leitos de UTI no monitoramento da Covid-19 tem se tornado mais complexa. Comparando dados relativos a 17 de janeiro aos observados em 10 de janeiro, verifica-se alguma adição de leitos em 12 estados e no Distrito Federal, com destaque para os acréscimos superiores a 50 leitos em Pernambuco (105 leitos) e Ceará (52 leitos). Reduções nos leitos em Roraima, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso foram registradas.

Na visão dos cientistas do Observatório, a distribuição dos casos de internação e morte nos grupos etários também preocupa, já que desde dezembro de 2021 houve uma mudança no perfil das internações. Tanto para internações quanto para óbitos, destaca-se a maior presença das idades mais jovens. Em especial para internações, é notável a participação de crianças com até 2 anos. Os grupos extremos de idade passam a ser destaque da distribuição etária das internações e óbitos.

Perfil demográfico

O ano inicia com uma divergência na tendência da média e mediana da idade das internações em leitos clínicos e de UTI/óbitos. Ao comparar a semana com maior número de internações e óbitos de 2021 (semana epidemiológica 12, de 21 a 27 e março), a semana com menor média e mediana de idade (semana epidemiológica 23, de 6 a 12 de junho) e a semana epidemiológica 1 de 2022, observa-se o achatamento da curva de distribuição de internações. 

O Boletim destaca a maior presença das idades mais jovens, tanto para internações quanto para óbitos. Em especial para internações, é notável a participação de crianças com até 2 anos nas internações ? sendo este um indicativo de que o grupo passou a ocupar lugar de destaque na pandemia no final de 2021 e início de 2022. Os grupos extremos de idade passam a ser o destaque da distribuição etária das internações e óbitos. Entre os idosos, cresce a contribuição dos grupos de 80 anos e mais e diminui a contribuição dos grupos de 60 a 69 anos e 70 a 79 anos. Entre os adultos, cresce a contribuição dos grupos de 20 a 29 anos e 30 a 39 anos e diminui a contribuição dos grupos de 50 a 59 anos e 40 a 49 anos. 

Os pesquisadores interpretam o cenário que se apresenta como de incerteza em médio prazo. “Para as internações em UTI parece haver uma nova forma de distribuição, em que adultos mais jovens e idosos menos longevos passam a compartilhar o perfil que mais requer cuidados intensivos. As próximas semanas poderão alterar a dinâmica das internações por Covid-19 no país”, afirmam os especialistas.

Aumento acelerado de casos 

Mesmo considerando que parte dos casos se referem a registros que ficaram retidos nos sistemas (e-SUS-Notifica e Sivep-Gripe), o predomínio da variante Ômicon mostra uma evidente tendência de aumento da transmissão da doença. Essa tendência de aumento acelerado do número de casos já havia sido observada na Europa e mais recentemente na América do Sul, principalmente na Argentina e no Uruguai. 

Uma média de 130 óbitos diários nas duas primeiras semanas epidemiológicas de 2022, foi registrada ? um pequeno aumento em relação ao início de dezembro de 2021. A redução da gravidade dos casos de Covid-19 se deve à alta cobertura da vacinação alcançada por esses países, incluindo o Brasil. Já em países com baixa cobertura de vacinação, como alguns da Europa Oriental e do Oriente Médio, uma letalidade alta é mantida. Isso mostra que a variante Ômicron pode, em contextos de baixa cobertura vacinal, causar um aumento de quadros clínicos graves e levar à morte grande parte dos infectados.

Incidência de SRAG 

O levantamento realizado no InfoGripe indicou, nas semanas recentes, uma tendência de crescimento significativo da incidência de Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG) em todos os estados, com exceção de Roraima e Rio de Janeiro, onde há estabilidade. Com estimativas excedendo 1 caso por 100 mil habitantes, em todos os estados as taxas de SRAG são consideradas altas. Em São Paulo e Minas Gerais as taxas estão próximas de 10 casos por 100 mil habitantes (9,6 e 8,8 casos por 100 mil habitantes, respectivamente).
O estudo aponta que o quadro de SRAG no Brasil, analisado com dados até a primeira Semana Epidemiológica de 2022, preocupa pelo total observado de 13 mil casos no período compreendido pelas duas últimas semanas de 2021 e a primeira de 2022. Os casos de SRAG envolvem hospitalizações e óbitos por vírus respiratórios e este crescimento expressivo acontece em meio a disseminação da variante Ômicron no país, assim como a circulação de vírus da influenza em vários estados.
 
Importância da vacinação

O Boletim destaca que, apesar dos atrasos nas decisões sobre aquisição de vacinas e o quantitativo insuficiente distribuído nas fases iniciais aos estados e municípios, a campanha de vacinação alcançou resultados positivos e demonstrou a efetividade dos imunizantes, sobretudo para reduzir hospitalizações e óbitos. Mesmo assim, ao completar um ano de vacinação, alguns desafios ainda permanecem: avançar com a cobertura vacinal em populações com menor acesso às vacinas ou grupos com resistência às vacinas, aumentar a cobertura de vacinação infantil iniciada recentemente, prover doses de reforço para proteção mais efetiva, inclusive com novas variantes como a Ômicron, e diminuir a heterogeneidade entre estados e municípios na cobertura vacinal. No ponto de vista dos pesquisadores, a autossuficiência na produção de vacinas é importante e notícias recentes apontam para este caminho, que permitirá maior autonomia na oferta de doses.

Fonte: Agência Fiocruz de Notícias
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