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Estudo avalia qualidade das máscaras comercializadas no Brasil

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Publicado em:02/03/2021
Uma das alternativas para minimizar a taxa de transmissão direta do novo coronavírus é o uso das máscaras faciais. Atualmente, há no mercado uma diversidade de máscaras, tanto na composição têxtil, quanto na presença ou não do elemento prata (Ag), sob a forma de íon ou nanopartículas de prata (AgNP), que possui atividade biocida. Um artigo com participação da ENSP avaliou a presença da Ag total e de AgNP em máscaras produzidas para proteger a população da Covid-19 que estão sendo comercializadas no Brasil durante a pandemia.

De acordo com a pesquisa, os resultados apontam que as concentrações de prata total nas amostras estudadas apresentaram uma variação de 14–72. Foi observado que 50% das amostras avaliadas que declaram ter AgNP apresentaram uma distribuição de tamanho entre 17–57 nanômetro. Ao serem submetidas aos ciclos de lavagem, verificou-se uma redução na concentração de Ag, a cada novo ciclo, o que levanta o questionamento quanto a sua real efetividade biocida ao longo do tempo. O conhecimento gerado pelo estudo pode dar subsídios técnico-científicos para a fiscalização sanitária do controle de qualidade e a implementação de normas regulatórias nesse ramo de atuação, dizem os pesquisadores.

O artigo Avaliação da qualidade das máscaras comercializadas no Brasil em tempos de pandemia da COVID-19 quanto à presença de prata e de nanopartículas de prata, de autoria de Cristiane Barata-Silva, Santos Alves Vicentini-Neto, Carolina Duque Magalhães, Silvana do Couto Jacob e Lisia Maria Gobbo Santos, do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz); e Josino Costa Moreira, do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP/Fiocruz), foi publicado na revista Visa em Debate.

Segundo o artigo, as medidas mais eficazes de evitar contaminação se baseiam em impedir a propagação do vírus de pessoa para pessoa através do isolamento ou distanciamento social. Além disso, os órgãos competentes na área da saúde recomendam o uso de máscaras que pode contribuir para diminuir a propagação dessa doença em larga escala, objetivando  uma  proteção  coletiva. “A  máscara  funciona  como uma  barreira  física,  diminuindo  a  contaminação  do  vírus  por meio de respingos de espirros ou tosses, além de evitar a contaminação mão-boca.”

Em  função  disso,  continua o artigo, a  indústria  têxtil  está  investindo  em  tecidos com atividade antimicrobiana, utilizando a prata (Ag) que é um elemento  natural  e  com  características  físico-química, óptica e biológica únicas. Além disso, a Ag é bem conhecida pela sua forte  toxicidade  para  uma  vasta  gama  de  microrganismos. “Atualmente  a  Ag,  vem  sendo  adicionada  a  vários  produtos  de consumo, incluindo roupas, geladeiras e máquinas de lavar para desodorizar ou higienizar, embalagens plásticas para armazenar alimentos e, também, na água potável para fins desinfetantes, sem nenhum dano à saúde ainda descrito.”

Entretanto,  alertam os pesquisadores, a  forma  como  a  Ag  está  presente  nesses  produtos é  relevante.  A  forma  iônica  da  Ag  exibe  atividade  bactericida pela inibição de uma série de processos biológicos de bactérias, principalmente,  Gram-negativas  e  vem  sendo  usada  há  muito tempo,  sem  apresentar  atividade  carcinogênica  ou  mutagênica nos seres vivos.” . Porém, advertem, esse íon possui baixa estabilidade pois tende a reagir com ânions como Cl, HS e SO em água formando precipitados que diminuem sua atividade biocida.

Ao comparar os resultados das amostras analisadas, os pesquisadores observam que foi possível quantificar Ag em todas as amostras, mesmo nas amostras que não declararam ter Ag na sua composição. A variação observada foi na concentração, pois nas amostras que não declararam ter Ag, a concentração foi menor que 2, enquanto as amostras que declararam ter Ag na sua composição o valor encontrado foi no mínimo sete vezes maior. Das seis amostras que declararam ter ação antiviral, nenhuma declarou  a  concentração  de  prata  no  tecido  e  somente  duas amostras declararam ter sido comprovada sua efetividade contra o vírus SARS-CoV-2 conforme descrito pela ISO 18184:2019.

As  concentrações  de  Ag  nas  amostras  estudadas  apresentaram uma grande  variação  entre  elas  de  14–72, indicando que diferentes  tecnologias  de  incorporação  da  Ag  na  fibra  têxtil foram utilizadas e podem ter levado a essa variação. E supondo que a Ag seja o componente virucida da máscara, a eficiência dessa ação pode ser diferente entre os produtos estudados. Mas nada pode ser afirmado, uma vez que não se tem estabelecido o quanto de Ag deve ser aplicado para obtenção da eficácia antiviral. Outro fator observado foi a falta de homogeneidade na distribuição da Ag no tecido usado na confecção de cada amostra. Os resultados apresentaram RSD de 15%–51%, indicando, assim, a heterogeneidade, o que pode afetar diretamente a ação da Ag no combate ao vírus SARS-CoV-2.
 
O  estudo  promoveu  o  desenvolvimento  e  a  validação  de metodologia  de  análise  de  tecido,  assim  como  a  definição da melhor forma de preparo dessas amostras contendo AgNP. A  partir  dos  resultados  obtidos, os pesquisadores verificaram  a  diversidade quanto à quantidade de Ag, o que levanta um questionamento  da  eficácia  dessas  máscaras  no  combate  à  Covid-19, uma vez que não se tem um valor mínimo preconizado da concentração de Ag para que se tenha eficácia de 99,9% contra o vírus.

O artigo afirma, ainda, que as pesquisas na área de vigilância sanitária assumem um papel importante  na  resposta  às emergências  sanitárias,  sobretudo aqueles aplicáveis em novos produtos que possam ser utilizados no combate às doenças e prevenir riscos futuros. “Sendo  assim,  há  a  necessidade  de  estabelecer  os  requisitos mínimos de composição e qualidade desses produtos por órgãos competentes de regulação e fiscalização, frente a atual oferta e  demanda  destes  produtos  contendo  AgNP  no  mercado  nacional.” Por fim, alerta que estas carências legislativa e fiscalizatória acabam expondo a população a um elevado risco sanitário e podem ocasionar um problema de saúde pública emergente.

Imagem: UFF

Fonte: Visa em Debate

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