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Aids e a pandemia de covid-19: números revelam desigualdade social brutal

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Publicado em:02/12/2020
O 1º de dezembro é marcado como o Dia Mundial da Luta Contra Aids. A data serve para reforçar a solidariedade, a tolerância, a compaixão e a compreensão com as pessoas infectadas pelo HIV/Aids. Em 2020, a atenção do mundo se voltou para pandemia de covid-19 na saúde e como as pandemias afetam vidas e meios de subsistência. A covid-19 está mostrando mais uma vez como a saúde está interligada a outras questões críticas, como redução da desigualdade, direitos humanos, igualdade de gênero, proteção social e crescimento econômico. Com isso em mente, este ano o tema do Dia Mundial Contra a Aids é “Solidariedade mundial, responsabilidade compartilhada”.


Nesse contexto, a médica Celina Boga, do Núcleo de DST/Aids, do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria da ENSP/Fiocruz, escreveu uma carta refletindo sobre a data e o cenário atual dos pacientes atendidos no Centro de Saúde. Lamentavelmente os dados revelam o retrato da pobreza, de pacientes com baixo nível de escolaridade, mínima formação profissional e, consequentemente, reduzida  capacidade e possibilidade de trabalho qualificado. “Retrato duro, que expõe o que já sabemos: desigualdade social brutal”, aponta a médica. 

Todos os anos o Núcleo de DST/AIDS do Centro de Saúde Escola promove ações educativas em alusão a data. Esse ano, devido pandemia de covid-19, não foram desenvolvidas ações presenciais. Ações on-line também não puderam acontecer devido à alta carga de trabalhos dos profissionais de saúde. Com essa motivação, e pensando nos pacientes, que em sua maioria, não possuem acesso à internet, Celina Boga escreveu uma carta descrevendo a situação deste ano e a situação geral de quase todos os pacientes atendidos no Centro de Saúde. 

Confira, abaixo, a carta da médica Celina Boga, na íntegra.

O Núcleo de DST/AIDS do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF/ENSP) foi criado em 1998. Hoje reúne um contingente de 415 pacientes "ativos". Fosse outro o cenário epidemiológico entre nós, estaríamos comemorando o 1° de dezembro - Dia Mundial de Luta Contra a Aids! Como fizemos várias vezes! 

Até novembro deste ano, tivemos 21 novas inscrições: 14 homens, sete mulheres.  Quase duas novas inscrições/mês. Lamentavelmente tivemos 4 óbitos este ano: 2 homens, 2 mulheres. Um óbito masculino por covid-19. Paciente antigo e amigo. Uma também idosa inscrita conosco no final da década de 90.

Preocupante o nível de imunodeficiência observado entre inscritos este ano. O que isso sugere? Diagnóstico tardio? Ainda? Mesmo com a testagem rápida? Alguns dados coletados entre inscritos em 2018 e 2019 nos ajudam a identificar o perfil do paciente que seguimos acompanhando.

Escrevo isso com alguma tristeza, pois esses dados compõem o retrato da pobreza, com baixa escolaridade, com mínima formação profissional e consequentemente reduzida  capacidade e possibilidade de trabalho qualificado. Retrato duro, que expõe o que já sabemos: desigualdade social brutal.

Nos alegramos por outro lado. Mesmo em condições tão adversas temos pacientes inscritos em 1998 e que estão vivos! 22 anos depois do seu diagnóstico. Motivo de alegria que nos revigora, mas não nos ilude. Precisamos continuar a cuidar das pessoas, mas devemos tentar projetá-las para o futuro. Sair da sombra da ignorância, do desalento, da condição subalterna que vivem hoje. Essa será nossa maior vitória. A vida vivida com altivez e independência. 

Celina Boga, médica do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (CSEGSF/ENSP) - 1/12/2020. 


Sobre o Dia Mundial de Luta Contra a Aids

O Dia Mundial de Luta Contra a Aids, 1º de dezembro, foi instituído em 1988 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma data simbólica de conscientização para todos os povos sobre a pandemia de Aids. As atividades desenvolvidas nesse dia visam divulgar mensagens de esperança, solidariedade, prevenção e incentivar novos compromissos com essa luta. 

A iniciativa foi referendada pelo Sistema das Nações Unidas, por meio da Assembleia Mundial de Saúde, e tem o apoio dos governos e organizações da sociedade civil de todos os países. A cada ano, a OMS elege a população/grupo social que registra o maior crescimento da incidência de casos de HIV/Aids e define para uma campanha com ações de impacto e sensibilização sobre a questão.

*Com informações da UNAIDS

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