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Estudo da ENSP alerta: grande parte dos estabelecimentos de saúde de Nova Friburgo estão em áreas de risco

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Publicado em:10/05/2019

Estudo da ENSP alerta: grande parte dos estabelecimentos de saúde de Nova Friburgo estão em áreas de riscoApesar do maior desastre climático da história do país ocorrido na região serrana do Estado do Rio de Janeiro, em 2011, afetando vários municípios, uma pesquisa da ENSP alerta que quase 80% dos estabelecimentos de saúde de Nova Friburgo ainda estão em áreas de risco, inclusive 100% dos leitos que atendem ao SUS. Os dados são da dissertação de Mestrado em Saúde Pública da ENSP de Isadora Vida de Mefano e Silva. Sob orientação do pesquisador Carlos Machado de Freitas, o estudo entende que essa vulnerabilidade do setor pode colocar em risco a vida e a saúde dos trabalhadores, além de comprometer a capacidade de resposta aos impactos dos desastres na saúde das populações.


De acordo com dados do trabalho de campo do estudo, apenas 20,8% dos estabelecimentos de saúde de Nova Friburgo não estão em áreas de risco de inundação ou deslizamento. “Esses  indicadores mostram um quadro bastante crítico em relação aos estabelecimentos de saúde e leitos do SUS em áreas de risco no município de Nova Friburgo.”

O Hospital Municipal Raul Sertã, por exemplo, explica a pesquisa, é o hospital público de referência do município e fica na região central da cidade. Ele fica às margens do rio Bengalas e foi gravemente afetado pelo desastre que aconteceu em 2011. “A parte da frente do hospital está em obras e fica bem próxima à margem do rio. A parte de trás do hospital fica numa rua estreita, no pé de uma encosta, posicionado no local para onde convergem os detritos carregados pelas enxurradas e deslizamentos, podendo deixar o acesso pela parte de trás do hospital inacessível”, observa Isadora. Ela informa, ainda, que o Hospital São Lucas, particular, também acolhe leitos do SUS e fica localizado numa área de encosta com declividade bem acentuada e foi extremamente afetado por blocos e detritos que deslizaram em sua direção, atingindo grande parte de sua infraestrutura.

No entanto, o estudo esclarece que, sob a perspectiva das Ciências Sociais, a ocorrência de um evento extremo, que se constitui como uma ameaça, não significa que vá se tornar um desastre. “No âmbito da Saúde Pública, essa ameaça se torna um desastre à medida que envolve a combinação de populações expostas à mesma, em condições de vulnerabilidade social, com insuficiente capacidade de resposta, o que envolve as condições de vulnerabilidade do próprio setor Saúde.”

Mas a pesquisa alerta que essa vulnerabilidade, quando pensada em termos da infraestrutura do sistema de saúde, se conforma, dentre outras maneiras, quando os estabelecimentos de saúde estão expostos em áreas de risco. “O comprometimento dos estabelecimentos de saúde, ou a falta de preparo para dar conta de um aumento na demanda de atendimento devido a uma situação de emergência, pode aumentar a vulnerabilidade das populações afetadas, bem como dos próprios profissionais de saúde, comprometendo diretamente sua resiliência diante do desastre.”

O estudo destaca que a construção de sistemas de saúde resilientes e adaptados à variação climática e aos eventos extremos associados é essencial para o enfrentamento da exposição e da vulnerabilidade dos seus estabelecimentos, estando, por sua vez, diretamente relacionado com a redução da vulnerabilidade da própria população, aumentando assim sua resiliência e buscando não prolongar seu sofrimento nos períodos posteriores ao evento deflagrador do desastre.

“O histórico de desastres do município de Nova Friburgo nos faz pensar que eventos extremos constituem a rotina dessa região e que mantidas as mesmas condições de vulnerabilidades estruturais (sociais, ambientais e institucionais) encontra-se um terreno propício para novos desastres”, afirma a dissertação.

Para a pesquisa, a vulnerabilidade institucional do setor Saúde do município, que reflete uma gestão baseada em ações voltadas para o momento da resposta, deixando de lado políticas preventivas e prospectivas, incrementaram a vulnerabilidade social da população de Nova Friburgo. “Dessa forma, torna-se essencial analisar as condições de vulnerabilidade dessa população, além do próprio do setor Saúde, que dão sustento à amplificação do risco no município, buscando reduzir o risco de novos desastres. A análise de situação de saúde, nesse sentido, é uma ferramenta útil para, por meio do uso de dados e indicadores, dar um retrato das condições das vulnerabilidades no território, tanto as sociais, como as institucionais.”

A pesquisa utiliza-se de dados e indicadores secundários de demografia, educação, renda, trabalho e habitação, provenientes do censo demográfico e extraídos dos sites do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, organizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Além disso, a pesquisa utiliza a construção primária de dados por meio de trabalho de campo, em que foram coletadas as coordenadas geográficas dos estabelecimentos de saúde do município, além de terem sido realizadas entrevistas semiestruturadas com profissionais de saúde e gestores do município.

Sobre Nova Friburgo, relata a pesquisa, sua densidade demográfica é relativamente alta, com 195.07 hab/km²; entretanto, ainda é menor do que os municípios da região metropolitana do estado. Áreas com grande adensamento populacional tendem a apresentar processo de urbanização desordenado, os serviços básicos são precários, por exemplo, o saneamento, ocasionando uma precarização das condições ambientais deficitárias, resultando em surgimento de diversas doenças, que, por sua vez, gerarão outras vulnerabilidades na população. “Dependendo das pressões sociais impostas, parte da população tende a alocar suas residências em locais de risco com infraestrutura física mais vulnerável. No município de Nova Friburgo, que é composto basicamente de encostas e fundos de vale, a probabilidade de haver construções precárias em áreas de risco é muito alta, aumentando a vulnerabilidade da população.”

 

Sobre a autora

Isadora Vida de Mefano e Silva é graduada em Geografia pela Universidade Federal Fluminense (2015).  Possui especialização em geoprocessamento de dados (2014/2015). Participou de projetos de pesquisa e extensão pela mesma universidade na área ambiental e geografia agrária (2010 -2012); e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, na área da geografia urbana (2012 -2014). Também em projeto de pesquisa "Fortalecimento das capacidades de prontidão e respostas frente às situações de emergência de interesse em Saúde Pública" pela Fiocruz (2016 - 2018). Atualmente, participa do projeto "Emergência em Saúde Pública por desastres no Sistema Único de Saúde: inundações graduais na Região Amazônica e seca e estiagem no Semiárido" pela mesma instituição (2019 - em andamento).


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