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Novos rumos da saúde pautam Abrascão 2012

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Publicado em:16/11/2012

Tatiane Vargas

 

O primeiro grande debate do 10º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão 2012) abordou a Situação de saúde no Brasil hoje: desafios e perspectivas. Para falar sobre o tema, a mesa, coordenada pelo presidente da Abrasco, Luiz Facchini, contou com a participação da pesquisadora do Centro Latino-Americano de Estudo de Violência e Saúde Jorge Carelli Cecília Minayo, do professor da Universidade Federal de Pelotas (RS) Cesar Victora, e do secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa. Durante a exposição, os palestrantes apontaram as mudanças no cenário da saúde no Brasil nas últimas décadas e os rumos que precisam ser seguidos para continuar mudando gradativamente o panorama da saúde no país.

 

Novos rumos da saúde pautam Abrascão 2012

 

Iniciando o debate, o representante da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS), Jarbas Barbosa, apresentou algumas características importantes da situação de saúde e seus desafios. De acordo com ele, existem algumas condições relevantes que mudaram o panorama da saúde no país, como a acelerada transição demográfica, a transição epidemiológica (mudança no perfil de mortalidade, porém as doenças transmissíveis continuam tendo grande peso) e os Determinantes Sociais da Saúde. “Dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) apontam que boa parte da população não tem acesso à coleta de lixo, rede de esgoto e rede de água – não com regularidade. O analfabetismo ainda atinge cerca de 13 milhões de brasileiros. No Nordeste, encontra-se a pior situação: aproximadamente 35% das pessoas com mais de 50 anos são analfabetas”, expôs.

 

No âmbito dos processos de mudança que dizem respeito à saúde, Jarbas usou como exemplo o caso da dengue. A doença, segundo ele, há algumas décadas, era rara e totalmente ocasional. Mudanças de comportamento e nas condições sociais fizeram a doença passar para outro patamar, que a coloca atualmente com possibilidades de controle limitadas. “Muitas outras doenças mudaram o comportamento nas últimas décadas, o que desafia a saúde”, destacou. O representante da SVS utilizou dados para citar a complexidade do cenário saúde. Nos últimos anos, o déficit de altura caiu significativamente, de 29,3% para 7,2% em meninos (meninas estão percentualmente iguais). O excesso de peso por sua vez aumentou significativamente na população de 5 a 9 anos, de 11% para 35%. Isso de deve às mudanças de comportamento na alimentação.

 

Novos rumos da saúde pautam Abrascão 2012Com relação à mortalidade infantil, dado de extrema importância para o país segundo o secretário, a mudança foi bastante positiva. No período de 1990 a 2011, a redução foi de 47% para 15% por mil nascidos vivos. A redução da mortalidade materna também alcançou êxito: no mesmo período, caiu de 140% para 70%. “O esforço para mudar drasticamente os números de mortalidade infantil e materna se deve à integração de todas as etapas do círculo de maternidade da mulher; só assim é possível caminhar na direção certa”. Jarbas usou também a tuberculose para apontar mudanças. A incidência da doença teve redução de 3%, e, de 1990 até hoje, a mortalidade caiu em 26%. Ele destacou que a questão da tuberculose está totalmente ligada às populações mais vulneráveis, e as barreiras sociais impedem essas populações de alcançar os serviços, que por sua vez precisam ser mais estratégicos para atingi-las.  “As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) têm relação direta com a pobreza."

 

Por fim, Jarbas Barbosa apontou que vários fatores de risco têm modificado o padrão das DCNT. O índice de tabagismo, por exemplo, é muito maior em adultos com menos de 8 anos de ensino. A realização de atividades físicas e de lazer e o consumo de frutas e hortaliças também são significativamente maiores em pessoas com mais escolaridade. Jarbas expôs ainda que, apesar dos aspectos negativos, os positivos se destacam. As DCNT, por exemplo, tiveram redução de 1,9% ao ano na comparação com as mortes cardiovasculares. Para ele, isso é importante e se deve a processos de intervenção efetiva e de baixo custo, que podem provocar mudanças no cenário. “Os indicadores melhoraram, mas onde queremos e podemos chegar? Algumas desigualdades sociais e regionais persistem, mas boa parte das piores diminuiu. Temos novos desafios, e o maior deles é universalizar as ações efetivas e garantir a qualidade da atenção”, concluiu.

 

Os Objetivos do Milênio

 

Novos rumos da saúde pautam Abrascão 2012Dando prosseguimento à discussão sobre os desafios e perspectivas da saúde no país, o professor da Universidade de Pelotas (RS) Cesar Victora abordou os Objetivos do Milênio (ODM) e os objetivos para depois de 2015. Cesar, antes de entrar nos objetivos, citou cinco artigos publicados na série Lancet sobre a saúde no Brasil. O professor destacou alguns aspectos publicados nos artigos. O primeiro deles foi sobre os avanços do SUS e os gastos em saúde. “É fato que 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil são gastos em saúde, o que demonstra claramente que o Sistema Único de Saúde é ótimo. Porém, está subfinanciado”. Na área da saúde materno infantil, a erradicação da diarreia foi um grande avanço para a diminuição da mortalidade infantil. De acordo com ele, o acesso aos serviços melhorou muito em dez anos. Passamos de 70% para 100% dos partos realizados em hospitais, apontando que, atualmente, pessoas menos favorecidas têm total acesso ao parto no hospital.

 

Sobre nutrição, Cesar destacou que 60% dos pobres tinham déficit de estatura, hoje apenas 10% possuem. No que diz respeito às DCNT, para ele, dengue e leishmaniose visceral – doenças infecciosas – são os maiores desafios. O professor alertou para as quedas nas doenças cardiovasculares e respiratórias e a diminuição do tabagismo. Por fim, antes de falar sobre os ODM, Cesar abordou a questão da violência. Segundo ele, os homicídios e os acidentes de trânsito (com exceção de motos, que atualmente enfrentam uma epidemia) também diminuíram. “A violência doméstica, por sua vez, cresceu muito e é preciso enxergá-la como um problema de saúde pública no Brasil.”

 

Entrando na temática dos Objetivos do Milênio - no total, são oito objetivos: acabar com a fome e a miséria; educação básica de qualidade para todos; igualdade entre sexos e valorização da mulher; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde das gestantes; combater a Aids, a malária e outras doenças; qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; e todo o mundo trabalhando pelo desenvolvimento -, Cesar destacou três objetos: reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde das gestantes; combater a Aids, a malária e outras doenças. Por fim, Victora destacou que é preciso ter expectativa de vida, mas com saúde. “Aumentar nossa expectativa de vida não significa que estamos vivendo melhor. Em 1930, nossa expectativa era de 30 anos; em 1950, aumentou para 50 anos. Hoje, temos expectativa de 73 anos. Um dos maiores desafios pós os ODM que enfrentamos é a questão da vigilância e a integração saúde e desenvolvimento”, apontou.

 

Demografia e saúde

 

Finalizando o debate Situação de saúde no Brasil hoje: desafios e perspectivas, a pesquisadora do Centro Latino-Americano de Estudo de Violência e Saúde Jorge Carelli Cecília Minayo iniciou sua fala citando a questão da demografia e da violência. Cecília destacou que o estilo e as condições de vida são questões fundamentais para atingir qualquer objetivo e ressaltou ainda que, em todas as regiões do Brasil, houve aumento da expectativa de vida. Isso de deve ao aumento da longevidade e à redução da mortalidade infantil. A mudança no papel econômico da mulher e sua inclusão na sociedade também foram aspectos citados pela pesquisadora. Em seguida, Cecília apontou as mudanças notadas nas faixas extremas (menores de 15 anos e idosos). “O peso relativo dos maiores de 65 anos será crescente, passando de 5,5% em 2000 para 10,7% em 2025, e para 19,4% em 2050. Em 2025, para cada 100 menores de 15 anos, haverá 46 idosos”, apresentou Cecília.

 

Novos rumos da saúde pautam Abrascão 2012Sobre a questão da violência, Cecília destacou que ela se encontra em situação indefinida. “Será mesmo que a violência doméstica aumentou ou o que cresceu foi o número de notificações?”, questionou ela. Para a pesquisadora, existe muito machismo embutido na questão da violência. Cecília citou também a pesquisa Perfil do Suicídio de Idosos no Brasil, e destacou que a maioria dos idosos que cometem suicídio são homens – cerca de 50 para cada 10 mulheres. Ela expôs ainda que cerca de 60% dos idosos hoje trabalham e 12% possuem múltiplas dependências.

 

“O desafio para a saúde pública em relação aos idosos é oferecer serviço e benefício que lhes permitam uma vida digna e ativa, o que depende especialmente da solidez das políticas de seguridade social”, afirmou. Por fim, a ex-editora da revista Ciência e Saúde Coletiva ressaltou que a maioria dos atuais e futuros problemas de saúde tem a ver com modo e estilo de vida e, sobretudo, com o fato das permanentes desigualdades sociais. “É preciso aprofundar o debate entre funcionalidades e criação de capacidades e a dialética entre sujeito e coletividade.”

(Fotos: Tatiane Vargas - CCI/ENSP)


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1 comentários
RONY JOSE DA SILVA
18/11/2012 11:01
No texto essa fala me deixou com duvida quanto aos valores "No período de 1990 a 2011, a redução foi de 47% para 15% por mil nascidos vivos. A redução da mortalidade materna também alcançou êxito: no mesmo período, caiu de 140% para 70%." A redução da mortalidade se deu de 47% para 15% ( que seria relativo a cada 100 nascimentos) ou dentro do índice (que é a relação de mortes por mil nascidos vivos). Aceito que os valores apresentados com índice seriam de mais fácil entendimento, podendo assim ser feito correlação por unidades que atuam nessa área, por exemplo minha cidade apresenta índice de mortalidade infantil 11.3 (por mil nascidos vivos). Muito boa a matéria a fala de Cecilia " ...Cecília destacou que o estilo e as condições de vida são questões fundamentais para atingir qualquer objetivo e ressaltou ainda que, em todas as regiões do Brasil, houve aumento da expectativa de vida. Isso de deve ao aumento da longevidade e à redução da mortalidade infantil..." reflete bem minha cidade (Ceilandia - DF) com características diferenciadas no quesito urbanização, formada por grandes favelas, fruto de uma grande expansão demográfica não planejada, dessa forma acarretando um grande vale na assistência em saude, e infelizmente os recursos ainda não são disponibilizados de forma a atender a necessidade regional. Parabéns pela matéria.